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3 filmes para conhecer o trabalho da diretora árabe Kaouther Ben Hania

O cinema árabe tem muitas faces e uma delas é a da diretora Kaouther Ben Hania. Seu mais recente lançamento, ‘O Homem que Vendeu Sua Pele‘, chegou aos cinemas brasileiros na última quinta-feira, dia 7. Apesar da carreira ainda relativamente recente, Hania já se tornou um nome importante na sétima arte, principalmente quando falamos de filmes feitos por mulheres – em uma trajetória que merece ser conhecida.

Kaouther Ben Hania nasceu em Sidi Bouzid, na Tunísia, em 1977, e começou a estudar cinema em seu país na Escola de Artes e Cinema de Túnis e, depois, na La Fémis e na Sorbonne, na França.

Monica Bellucci e Yahya Mahayni em ‘O Homem que Vendeu Sua Pele’ (Crédito: Divulgação/Pandora Filmes)
Após dirigir alguns curtas, ela se dedicou aos documentários, ‘Les imams vont à l’école’ (2010), ‘Le Challat de Tunis’ (2013) e ‘Zaineb Takrahou Ethelj’ (2016). Mas foi em 2017 que o ela passou a ser notada por grandes festivais, com sua estreia em produções de ficção.

‘A Bela e os Cães’

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Kaouther Ben Hania chamou a atenção do Festival de Cannes com ‘Beauty and the Dogs‘, filme baseado em fatos sobre uma moça que sofre um estupro de policiais e se vê desamparada perante à justiça e ao machismo da sociedade. A produção apareceu entre as selecionadas na mostra Un Certain Regard do evento francês. Com o longa, Hania passa a apresentar ao mundo histórias do seu país natal. Ela traz um cinema mais intimista – que chega a ser duro de tão crível, mesmo sendo no ramo da ficção. ‘Beauty and the Dogs’ tem uma construção diferente, é dividido em nove atos que transmitem o que a protagonista passa após ser abusada sexualmente por um grupo de homens. No filme, a vítima se chama Mariam, interpretada de forma brilhante por Maria Al-Ferjani.
Cena de ‘Beauty and the Dogs’ (Crédito: Divulgação/MUBI)
A direção de Kaouther Ben Hania é extremamente bem pensada, o que deixa a trama desconfortável pois nos sentimos parte da história. Com menos de duas horas, seguimos uma série de acontecimentos perturbadores e acelerados. Ao mesmo tempo que tudo acontece de forma rápida, o filme parece até mais longo pela tensão e revolta que causa no espectador.

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‘O Homem que Vendeu Sua Pele’

‘Beauty and the Dogs’ foi escolhido para representar a Tunísia no Oscar 2019, mas acabou não entrando na lista final dos indicados. Foi apenas agora, em 2021, que Hania conseguiu a nomeação da Academia com ‘O Homem que Vendeu Sua Pele’. O acontecimento foi histórico, sendo a primeira vez que a Tunísia foi reconhecida na maior premiação do cinema mundial. Entretanto, o vencedor da categoria Melhor Filme Estrangeiro de 2021 foi ‘Druk: Mais Uma Rodada’, do dinamarquês Thomas Vinterberg. Mas isso não tira o poder da obra de Kaouther Ben Hania. ‘O Homem que Vendeu Sua Pele’ foi premiado no Festival de Veneza, em 2020, quando a realizadora ficou com o Prêmio de Edipo Re (um dos troféus paralelos do evento) por sua direção – enquanto o ator sírio Yahya Mahayni ganhou o Prêmio Orizzonti de Melhor Ator.
Yahya Mahayni foi premiado em Veneza por seu papel em ‘O Homem que Vendeu sua Pele’ (Crédito: Divulgação/Pandora Filmes)

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Na história, acompanhamos Sam Ali, um homem sírio, que é forçado a deixar seu país – que está em guerra. Após uma mal-entendido com a polícia, ele foge para o Líbano, deixando sua namorada. Ela, por sua vez, se casa com um diplomata e vai morar na Bélgica. O objetivo de Ali se torna ir atrás de sua amada e, para conseguir um visto europeu, ele aceita “vender” suas costas para um conceituado artista contemporâneo, que o transforma em uma mercadoria ambulante. Afinal, quando se é um refugiado sírio, se tornar uma commodity parece uma boa ideia, já que a circulação comercial é muito mais fácil. Mais um vez a ficção encontra a realidade. A diretora se baseou na história de Tim Steiner, que vendeu suas costas para o artista belga Wim Delvoye. Seguindo a mesma premissa do filme, Steiner teve as costas tatuadas e se tornou uma obra de arte, intitulada “Tim”. O “quadro” foi vendido para Rik Reinking, um colecionador de Munique, por € 150 mil (R$ 505 mil, em valor de conversão da época) em 2008. Como as leis europeias proíbem a venda de órgãos, Steiner precisa ficar na casa do seu “dono” seis dias por ano e, quando ele morrer, Reinking ficará com a pele tatuada.

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I and the Stupid Boy

O mais recente trabalho de Kaouther Ben Hania é o curta-metragem ‘I and the Stupid Boy’, parte de uma série da grife Miu Miu chamada Women’s Tales, que traz histórias de cineastas mulheres para falar de feminilidade no século XXI. “’I and the Stupid Boy’ contém uma infinidade de temas contemporâneos enfrentados por mulheres jovens: tecnologia e intimidade, relacionamentos tóxicos e valor próprio e como, como diz Kaouther,“ segredos são facilmente revelados com um único clique”, disse Hania à uma publicação da Miu Miu.
Oulaya Amamra no curta ‘I and the Stupid Boy’ (Crédito: Divulgação/Miu Miu)
A narrativa acompanha uma moça ansiosa para sair com um rapaz, mas que tem a infelicidade de cruzar com o ex no meio do caminho – que pega seu celular para impedir que ela vá ao encontro de outro. Neste contexto, se desenrola uma jogo de poderes, entre os gêneros masculino e feminino, e também sobre relações online. ‘I and the Stupid Boy’ é um filme rápido, mas direto ao ponto. Kaouther Ben Hania traz sua visão feminina para mais um episódio revoltante na vida de uma mulher.

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Focamos aqui em apenas três produções da cineasta, mas ao todo ela tem dez no currículo, dentre curtas e documentários. Longa-metragens ficcionais são, até aqui, apenas os dois citados acima, mas já estamos no aguardo de mais trabalhos de Kaouther Ben Hania.

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Raíssa Basílio

Jornalista de cultura e entretenimento. Já passou pelo Papelpop, UOL e Revista Claudia escrevendo sobre beleza, moda, cinema, música e TV, e também trabalhou com produção na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Foi redatora do Filmelier.

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