'M3GAN' mistura Chucky e Annabelle em trama divertida
Filme mostra como a boneca M3GAN muda de personalidade e se torna uma presença tóxica na vida de uma garotinha
Ao longo das últimas semanas, o inesperado aconteceu: o terror 'M3GAN', produzido pela Blumhouse e com assinatura de James Wan na produção, chegou aos cinemas americanos carregado de elogios. Com isso, a produção chegou na marca de 95% de aprovação no Rotten Tomatoes e registra boa bilheteria. Agora, a partir desta quinta-feira, 19, 'M3GAN' chega enfim aos cinemas brasileiros para, talvez, conquistar a mesma aprovação e bilheteria.
Felizmente, tudo indica para que isso se repita no Brasil. O motivo? O longa-metragem é inesperadamente divertido. Em seu coração, conta a história de uma engenheira de brinquedos (Allison Williams) que desenvolve essa boneca M3gan, estranhíssima e cheia de personalidade, para fazer companhia para a sobrinha (Violet McGraw) que sofre com a morte dos pais em um acidente. A partir daí, acompanhamos esse relacionamento se tornando cada vez mais tóxico.
- Leia também: Os melhores filmes de terror e suspense da Blumhouse
É um retrato bem humorado e um tanto macabro, sobretudo, da dependência emocional que a sociedade tem com a tecnologia. As pessoas não apenas são dependentes de seus celulares, computadores e assistentes virtuais para realizar tarefas do dia a dia, mas também para se relacionar e até mesmo afastar o sentimento da solidão. Aqui, o roteiro Wan ('Invocação do Mal') e Akela Cooper ('Maligno') brinca justamente com essa sensação social.
Em termos de criação, enquanto isso, o roteiro e a direção de Gerard Johnstone (‘Housebound’) faz uma mistura de coisas que já vimos por aí. Tem elementos óbvios de Chucky, principalmente do filme 'Brinquedo Assassino', de 2019. O humor está lá, assim como toda a bizarrice da situação. Também há algo de Annabelle, que surge cá e ali assustando moradores de uma casa. E até há resquícios de toda a ironia maligna de HAL 9000, de ‘2001: Uma Odisseia no Espaço’.
Nessa mistura toda, 'M3GAN' ganha ares de franquia pronta, quentinha, que chega pronta para ser desembalada e faturar alguns milhões ao longo do ano. Não só com a boneca bizarra, mas com outras tecnologias, tipo 'Black Mirror'. Isso sem falar de algumas cenas que já nascem icônicas, como é o caso da dança da boneca em determinado momento e 'Titanium' como canção de ninar. Boas sacadas de direção e roteiro, que chegam no momento certo.
'M3GAN': Gerard Johnstone não é James Wan
O problema central de 'M3GAN', que faz com que o filme seja apenas divertido e não uma grande surpresa como 'Maligno' em 2021, é a falta de inventividade de Johnstone na direção. Ainda pouco experiente, ele movimenta a câmera sem muita originalidade -- fazendo com que essas semelhanças com Chucky, HAL 9000 e afins fiquem ainda mais evidentes. Tudo, no geral, se torna um pouco sem vida e sem graça. Poderia haver mais potência.
Lá pelo final, quando M3gan começa a se soltar ainda mais, falta justamente um Wan na direção, deixando tudo mais empolgante, bizarro, inacreditável. A direção protocolar de Johnston, que não é ruim, mas apenas convencional.
Além disso, no elenco, há alguns pequenos problemas. Allison Williams, por exemplo, não está tão bem quanto as duas atrizes mirins em cena. Uma da sobrinha Cody, outra da própria boneca. Ela fica com um semblante de riso quase o filme todo, parecendo que tudo, absolutamente tudo, é debochado, irônico. Impede de criar um clima mais tenso e bizarro quando precisa. Falta aquela força dramática, e sobretudo de puro terror, nas cenas mais especiais do filme.
Mas ok: 'M3GAN' ainda é uma boa surpresa. Você, sem dúvidas, vai se divertir no cinema com essa boneca que parece um Chucky 2.0, uma Anabelle de estimação. E se prepare. São grandes as chances de mais filmes com a personagem.
Jornalista especializado em cultura, gastronomia e tecnologia, cobrindo essas áreas desde 2015 em veículos como Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites. Já participou de júris de festivais e hoje é membro votante da On-line Film Critics Society. Hoje, é editor do Filmelier.
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