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‘Mar de Dentro’ quebra estereótipos do cinema sobre maternidade

Social ou culturalmente, a figura da mãe sempre foi atrelada ao cuidado com a prole, com a casa e com os seus. Ela cuida. Isso vem desde o arquétipo da Grande Mãe de Carl Jung, sobre a profunda relação entre mãe e filho, passando pelas histórias contadas de maneira oral, escrita ou visualmente. Nos cinemas, isso persiste: ‘Que Horas Ela Volta?‘, ‘Mãe é Mãe’, ‘O Quarto de Jack e por aí vai. Por isso ‘Mar de Dentro‘ é tão importante.

Estreia dos cinemas na última quinta-feira, 7, o longa-metragem dirigido e roteirizado por Dainara Toffoli, estreante em filmes, fala sobre a história de uma mulher (Mônica Iozzi) que fica grávida sem querer. A partir daí, começa a sentir todas as questões da gravidez. Afinal, precisa lidar com todos ao seu redor dando opiniões de todos os tipos, familiares tentando influenciar na gravidez, no parto e na criação da criança e, principalmente, com todas as mudanças no corpo que começam a surgir paulatinamente.

Iozzi consegue retratar detalhes da complexidade de uma gravidez (Crédito: Divulgação/Califórnia Filmes)

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Há, assim, uma quebra de clichês sobre a maternidade. Ao invés de trazer essa mãe que cuida e preocupa, Toffoli segue o caminho de filmes mais autorais e provocativos, como ‘Tully‘ e ‘Olmo e A Gaivota’, quebrando ideias pré-estabelecidas. “Comecei esse projeto há muitos anos. No início, tinha o desejo de falar sobre maternidade, já que, quando tive filho, ficava ‘nossa, como não sabia disso antes?’ Detalhes da maternidade”, diz Dainara ao Filmelier. “Nascemos todos, o tempo todo. Como não sabemos sobre isso?”.

Preparação para ‘Mar de Dentro’

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Dainara e Iozzi, para mergulhar nesse ambiente, buscaram inspirações e preparações ao seu redor. A atriz entrou no projeto aos 45 do segundo tempo: depois de cerca de 12 anos de desenvolvimento do lado de Dainara, a atriz que estava cotada para viver a protagonista não pôde participar das gravações por conta de uma novela. “Fui assistir ao filme ‘Mulheres Alteradas’ e me encantou a maneira como a Mônica atuava”, diz a cineasta. Iozzi não tinha vivência como mãe, mas logo de cara começou a trazer questões para o texto, olhares contemporâneos. Um frescor que foi fundamental para esse filme que já estava sendo gestado há 12 anos. “Não sou mãe, mas acompanhei muitas amigas de perto. A gente tem essa percepção de que a maternidade é essa propaganda de margarina, que a mãe está sempre belíssima, em um quarto arrumado, que o bebê não chora. Falar sobre a maternidade de verdade é um tema muito atual”, conta Mônica Iozzi, em entrevista presencial para o Filmelier. A diretora, enquanto isso, conta que lembrou muito de sua maternidade por conta de uma vizinha, que ficou grávida e pariu justamente no período de preparação de ‘Mar de Dentro’. Hoje, ela acredita que atingiu seu objetivo central.
“Era importante não trabalhar a maternidade romantizada. Queria que as pessoas entendessem quais são os primeiros momentos da maternidade de verdade”, explica a cineasta “Afinal, ou a maternidade é romantizada ou é problematizada como se fosse um monstro, patológica, o ‘Bebê de Rosemary’. Queria algo que as mulheres pudessem se identificar. A dúvida vem com um sentimento de falha, já que não temos exemplos no cinema, na TV ou literatura”.

Atriz em transformação

Revelada no finado ‘CQC’, da Band, Mônica Iozzi entrou meio que sem querer no universo do humor quando se tornou repórter do programa que misturava humor com jornalismo. Depois, saiu do ‘CQC’ e começou uma trajetória interessante na Rede Globo, indo desde a apresentação do também finado programa ‘Vídeo Show’ até o trabalho em novelas como ‘A Dona do Pedaço’. Paralelamente, surpreendeu nos cinemas com o divertido ‘Mulheres Alteradas‘. ‘Mar de Dentro’, assim, não é apenas um bom exemplar do que é fazer cinema, mas também um lembrete de como Mônica Iozzi pode ir além do humor, com nuances dramáticas potentes sobre assuntos densos e necessários. “Nunca pensei em ser comediante, humorista ou atriz cômica, mas a minha trajetória, que não é muito linear, me levou por esse caminho”, conta Iozzi. “Comecei a sentir falta, como atriz, de me exercitar no ofício em outras coisas que não fossem cômicas ou próximas da comédia. Quando li o roteiro, vi que era um tema que me interessa, era o que eu estava procurando. É uma história delicada e este seria o exercício como atriz que eu estava procurando. Quando comecei a conversar com a nossa produtora e com a Dainara, foi maravilhoso por vários motivos. Era um filme pensado por mulheres, que fala sobre o universo feminino de um jeito muito novo, desromantizando a maternidade”.

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Matheus Mans

Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.

Escrito por
Matheus Mans

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