Em ‘O Jardim Secreto de Mariana’, amor é retratado em “estado bruto”
Com um título que instiga já em uma primeira olhada, ‘O Jardim Secreto de Mariana’ é um filme que provoca e cutuca o espectador já desde o primeiro momento. Afinal, este longa-metragem dirigido por Sérgio Rezende (‘O Homem da Capa Preta’) e que chega aos cinemas nesta quinta, 30, tem um tema dificílimo de ser abordado: o amor em seu estado bruto.
Afinal, veja só essa história. De um lado, temos o ex-marido interpretado por Gustavo Vaz (‘Depois a Louca Sou Eu’), que resolve ir atrás da ex-esposa (Andréia Horta, de ‘Elis’) depois de uma separação de cinco anos. A partir daí, vemos essa tentativa de reconquista enquanto o roteiro, assinado pelo próprio Sérgio Rezende e por Maria Rezende, provoca com reviravoltas.
Sérgio Rezende nos bastidores de ‘O Jardim Secreto de Mariana’ (Crédito: Divulgação/H2O)“É um projeto que começou em 2011”, conta Sérgio sobre o desenvolvimento do longa-metragem. “Na época, escrevi o primeiro tratamento sobre o filme, mas não consegui financiamento. Já em 2019, eu consegui meios de realizar ‘O Jardim Secreto de Mariana’. Adaptei a história, que era no exterior, para acontecer no Brasil. E filmamos em 2019”.
O amor em ‘O Jardim Secreto de Mariana’
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Nessa relação tempestuosa entre Mariana (Horta) e João (Vaz), encontramos duas pessoas desencontradas, até mesmo com um ar infeliz. Afinal, os problemas dos dois — que viviam bem em meio ao ambiente bucólico que ficava a casa — nasceram a partir de um assunto delicado: a infertilidade de João, que impediu a realização de sonhos familiares. A partir daí, vemos esse embate, mesmo que silencioso, entre essas duas figuras. Mariana reafirma que não tem problema, que eles vão dar um jeito. Já João se sente impotente. A infertilidade avança para a vida pessoal, até mesmo para a forma que se relaciona com a esposa. É aí que vemos a personagem de Andréia Horta buscando novas soluções para esse dilema. “O filme tem essa questão da paternidade e da maternidade, mas pelo olhar da natureza, do instinto da reprodução. No mundo das flores, não há sentimento, tudo se dá naturalmente. Mas com nós, humanos, as coisas são muito mais delicadas”, conta Sérgio, sobre a abordagem. “No filme, há o amor sólido. O amor tem certa solenidade, o amor tem peso. E isso passa pela construção de uma família. Acho que o amor é nosso maior instinto”.
Além disso, Rezende toma uma decisão narrativa que pode ser controversa: conta essa história quase que unicamente pelo ponto de vista de João, do homem — ainda que a personagem de Mariana, além de estar no título do longa, tenha o arco narrativo mais interessante. Questionada, Andréia fala sobre essa visão sobre a história e como participou do roteiro. “O filme conta a jornada do masculino, conta a história do João, que em determinado momento não pode ser pai”, diz a atriz. “Senti muita falta da visão dela. Achava um absurdo [essa ausência], pois ele precisava escutar que ela passou por isso tudo sozinha. Ela, grávida, não pôde dizer qualquer coisa pra ele. Batalhei muito por essa cena [de desabafo de Mariana]”.
Inhotim como cenário
Por fim, há de se destacar como o cenário é importante para compor essa narrativa de Rezende. ‘O Jardim Secreto de Mariana’ se passa quase que inteiramente no Instituto Inhotim, na cidade de Brumadinho, no estado de Minas Gerais. Com belezas naturais compondo o cenário, o bucolismo serve a narrativa, inclusive levando naturalismo à cenas de sexo e de nudez. “Essas cenas, no roteiro do Sérgio, estavam tão à serviço do fluxo natural de vida deles no meio desses orgânicos que eles plantam, que eles comem, que eles se alimentam. Então, um corpo nu, um ato de amor, é óbvio que precisava acontecer. Foi tudo muito confortável, muito seguro. Eu estava segura ao fazer. Foi de uma tranquilidade incrível”, conta Horta. Por fim, Sérgio celebra a possibilidade de rodar o filme na região. “Foi incrível. Não conhecia Inhotim e me defrontei também com Brumadinho, já que a tragédia tinha sido pouco antes”, diz. “Agora, ano que vem, quero fazer um filme chamado ‘O Rompimento’, sobre uma mulher sozinha em casa quando aquela massa de lama de tudo mais invade sua casa”.
Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.