‘Zona de Confronto’ é reflexo de uma sociedade cansada de injustiça e violência ‘Zona de Confronto’ é reflexo de uma sociedade cansada de injustiça e violência

‘Zona de Confronto’ é reflexo de uma sociedade cansada de injustiça e violência

Longa-metragem faz parte de uma espécie de movimento cinematográfico internacional que aborda a atual desordem social global

Matheus Mans   |  
28 de setembro de 2021 12:30
- Atualizado em 29 de setembro de 2021 17:04

Entre o final da década de 2010 e o começo da década de 2020, o cinema passou a abordar constantemente um tema que une produções ao redor do mundo todo: caos social. Por vezes causada pela desigualdade criada pelo sistema, outras vezes por conta de violência, essa temática deixou de ser isolada e abordada apenas por cineastas ativistas pela causa, como Spike Lee com seu ‘Faça a Coisa Certa‘. Se tornou debate e preocupação globais.

Por isso, não é surpresa o tema aterrissar na Dinamarca. Terra de um cinema contestador e provocante, berço do Dogma 95, o país nórdico colocou o caos social no centro da história de ‘Zona de Confronto’, filme disponível nas plataformas de aluguel e compra do streaming brasileiro desde o final de agosto. Dirigido e roteirizado por Frederik Louis Hviid (‘Estação Temple’) e pelo estreante em longas Anders Ølholm, o filme entra nesse caos (e cansaço) social pelo olhar de dois policiais distintos.

Cena de Zona de Confronto
Simon Sears e Jacob Lohmann interpretam policiais em uma situação complicada em Copenhague (Crédito: Divulgação/Synapse)

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Um deles, Mike (Jacob Lohmann), é bruto, violento, sem tolerância. O outro, Jens (Simon Sears), é mais quieto e tenta ser movido apenas pela razão. Nessa mistura, vemos os dois em um bairro pobre de Copenhague bem no dia que um jovem árabe morre, em circunstâncias misteriosas, sob a custódia da polícia. É a equação para a explosão: de um lado, a população desse bairro absolutamente revoltada. Do outro, os policiais agindo pelas beiradas e tentando sobreviver.

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“Um dos policiais é franco e agressivo e o outro é quieto e atencioso. Simon e eu nos alimentamos dessa dinâmica”, afirma Jacob Lohmann, um dos protagonistas, em entrevista exclusiva ao Filmelier. “Há muita coisa que nem precisamos nos preocupar em retratar, porque as falas e a história nos levam lá automaticamente. Isso é o que grande escrita significa para mim como ator. Tem que sair da página e entrar na minha cabeça com facilidade. Nesse caso, aconteceu na hora”.

Além de ‘Zona de Confronto’

Nessa história da população revoltada de um lado e os policiais violentos e acuados do outro, é impossível não traçar paralelos com produções internacionais recentes. A mais óbvia é a relação de história que surge com ‘Os Miseráveis‘, da França, que fala sobre uma situação bem similar: pessoas revoltadas com abusos policiais. França e Dinamarca, ainda que unidas pelo mesmo continente, possuem realidades bem distintas — mas, ainda assim, com mesmas dores.

“Aparentemente, este filme traz para a mesa temas que são importantes serem iluminados, já que teve uma ótima vida internacional”, continua Jacob Lohmann, agora falando sobre essa similaridade de temáticas entre filmes tão distintos e de vários países. “E sim, sinto um grande cansaço das questões do padrão social. É como uma história sem fim, para a qual ninguém parece ter respostas. É aí que a ficção é uma boa plataforma para comentar, na minha opinião”.

Similar ao que vemos em ‘Zona de Confronto’, o francês ‘Os Miseráveis’ fala sobre policiais em situação de risco (Crédito: Divulgação/Diamond)

Indo um pouco mais longe, ainda podemos traçar paralelos com ‘Nuevo Orden‘, filme mexicano sobre uma revolta (ou seria revolução?) da população. É mais violento, inclusive de forma mais explicita, em sua proposta, mas segue o mesmo caminho. E que tal ‘Parasita‘, drama coreano vencedor do Oscar em 2020? Também fala sobre revolta, tensão social. Nos Estados Unidos, ainda há o adolescente ‘O Ódio que Você Semeia‘ e, no Brasil, ‘Bacurau‘ fez as vezes com suas particularidades.

“Acho importante falar sobre isso em todos os países. Se você não tem o problema, tudo bem, mas é bom ter consciência de nunca seguir esse caminho. E eu acredito que temos alguns policiais brutais aqui neste país também. Eu sei que vi alguns”, diz Simon. “Então, para mim, é importante retratar e falar sobre. Definitivamente há uma desordem social global. E este filme ressoa em tantas culturas e países diferentes por um motivo. É importante falar sobre”.

Cinema dinamarquês

E vemos que o cinema da Dinamarca está entrando nessas conversas globais com filmes como ‘Zona de Confronto’, percebe-se como as produções nórdicas já estão em outro degrau — conforme falamos por conta de ‘Druk’. “Nós devemos [esse crescimento] aos grandes filmes exibidos anos atrás”, diz Simon ao Filmelier. “Muitos atores dinamarqueses abriram o caminho para que peixes menores pudessem segui-los em seu riacho. É incrível”.

Hoje, as produções nórdicas já atacam todos os gêneros e exploram os mais variados temas, dores, expectativas e sentimentos. ‘Zona de Confronto’ é essencialmente um filme de ação, gênero também representado por ‘A Onda‘, da Noruega, ou ‘Ponto Vermelho‘. Ainda podemos listar aqui algumas animações (‘Sonhos S.A.‘), filmes potentes sobre vinganças como ‘Loucos por Justiça‘ e até mesmo terror, como o assustador norueguês ‘Kadaver‘. Pra todos gostos.

“Temos a sorte de sermos atores dinamarqueses nesta geração”, diz Jacob. “Isso vem com grande responsabilidade. As apostas ficam cada vez mais altas, e esse é um processo divertido de se fazer parte”, diz Jacob. “Estamos apoiados nos ombros de grandes nomes como Von Trier e Vinterberg e todo o Dogma 95. Devemos muito a esses caras. Eles pavimentaram o caminho e agora cabe a nós mantê-lo. Estes são tempos emocionantes para o cinema dinamarquês”.

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