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‘O Porteiro’ homenageia Dona Hermínia com a história de um “eterno coadjuvante”

Seja em novelas, séries ou filmes, geralmente o porteiro é o personagem que quase nunca aparece ou sequer tem falas. É, quase sempre, um figurante. Por isso, é tão interessante um lançamento de um filme como O Porteiro, estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 31 de agosto. O porteiro aqui não só é protagonista, como está no título do filme. “O maior prêmio é quando nosso ofício, como ator, cumpre uma função social que não pode ser monetizada”, diz o protagonista e criador Alexandre Lino. “Colocamos essas pessoas, geralmente coadjuvantes, no protagonismo”.

Para isso, a história de Lino acompanha o dia a dia de Waldisney (Lino), um porteiro prestativo e que vive altas emoções no dia a dia. A começar pela maneira que a esposa Laurizete (Daniela Fontan) demonstra seu amor, de forma bastante bruta, passando pela trato com moradores que pedem para Waldisney resolver todos tipos de problema e até chegar no complicado trato com o novo síndico (Bruno Ferrari), que quer impedir o porteiro de sair de seu posto.

O Porteiro: comédia escrachada com silêncios

O Porteiro é inspirado na peça protagonizada e criada por Lino e que já rodou o Brasil — de acordo com números divulgados, são mais de 100 mil espectadores. No teatro, o ator faz um monólogo como Waldisney, o porteiro que está substituindo o síndico em uma reunião de condomínio, e conta com a ajuda da plateia para compor o restante do elenco. É, assim, um espetáculo bastante criativo, que muda dia a dia, e que o diretor Paulo Fontenelle tentou levar ao cinema. Para isso, fez um filme com muitos silêncios, com se o público estivesse ali, interagindo com a tela.
Em cena, a bonita relação de Waldisney com a filha (Crédito: Imagem Filmes)

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“O roteiro já pedia esses silêncios, já que temos muito humor físico também. Fui muito no ritmo do set. Na hora que a equipe dava risada, já via que tinha conseguido o que estava precisando”, conta o diretor ao Filmelier. “Isso acontece em vários momentos do filme. Teve cena que eu precisava cortar depois que a galera nos bastidores começava a rir. E aí, na ilha de edição, brinquei mais com esse ritmo dos silêncios. Mas sempre quis fazer uma comédia mais ingênua, uma coisa mais vaudeville, mais Mr. Bean, que é totalmente silêncio. É uma coisa que veio do roteiro e que ficou”. Além dessas referências no ritmo e no estilo do humor, Fontenelle teve uma outra referência que surgiu com as locações: Minha Mãe é uma Peça. Afinal, a entrada do edifício é a mesma do longa-metragem estrelado pelo saudoso Paulo Gustavo. Com isso, em um momento com muita naturalidade, Cacau Protásio, que interpreta a faxineira Rosivalda, diz que “tempo bom era quando Dona Hermínia morava ali”. Segundo conta o diretor, foi algo natural. “A gente se viu naquela mesma locação e achamos uma forma respeitosa de homenagear Paulo Gustavo”, conta ele.

Mais do que uma comédia, uma homenagem

Apesar dessas boas referências de vaudeville, Minha Mãe é uma Peça e Mr. Bean, o grande coração do filme está naquilo que falamos lá no começo: a forma que o longa-metragem, enfim, homenageia os porteiros de todo o Brasil. Quando questionado sobre como isso é importante para ele, Lino quase não consegue segurar as lágrimas. É a mão de Cacau, sua amiga próxima, que segura a onda e faz o protagonista não desabar ali mesmo. E faz sentido: Alexandre Lino sentiu o amor desses profissionais em uma sessão de pré-estreia que fez do filme em São Paulo, em uma plateia lotada com porteiros. Foi ali que ele percebeu que, mais do que bilheteria ou boa crítica, já tinha o que precisava. “Nós somos artistas populares e precisamos falar com o povo. Com aquele que acorda muito cedo, pega ônibus lotado e quase não dorme. Mas que precisa de um alento, precisa rir mesmo na adversidade. É o riso que minimiza tudo isso”, diz Alexandre Lino. “É muito comum colocar o porteiro nem dando bom dia. Vivi muitos porteiros nessa trajetória. Quando tive a possibilidade de escolher fazer um filme dessa maneira, sabia da importância que isso tinha. Ao ver porteiros se emocionando e falando que essa é a história deles, ganhei algo que não se mensura. Não prêmio ou crítica que se compare com isso. Afinal, chegamos no lugar do humano. E é a humanidade que nos falta”.

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Matheus Mans

Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.

Escrito por
Matheus Mans

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