‘O Projeto Adam’: Quando o sci-fi é apenas um pretexto para dizer “eu te amo” ‘O Projeto Adam’: Quando o sci-fi é apenas um pretexto para dizer “eu te amo”

‘O Projeto Adam’: Quando o sci-fi é apenas um pretexto para dizer “eu te amo”

Novo filme da Netflix não entrega uma história de ação realmente empolgante, mas compensa isso com uma trama que é puro coração

11 de março de 2022 13:02
- Atualizado em 12 de março de 2022 13:30

Quem já perdeu um ente querido – pai, mãe, irmã, avós, amigos, marido, esposa… – entende como esse pode ser um sentimento devastador. Muitas vezes, vem acompanhado de um arrependimento. Será que eu demonstrei todo o meu amor? Será que eu fui justo com aquela pessoa? Será que só dei valor para o que tinha após a perda? O que eu faria se tivesse uma segunda chance?

‘O Projeto Adam’, filme que estreia hoje (11) com exclusividade na Netflix, é exatamente sobre isso. Sim, o marketing da gigante do streaming está investindo milhões para vender o longa-metragem como uma grande produção de ação e ficção científica, com um elenco de peso formado por Ryan Reynolds (‘Deadpool‘), ‘Zoe Saldaña’ (‘Guardiões da Galáxia‘), Mark Ruffalo (‘Vingadores: Ultimato‘) e Jennifer Garner (‘De Repente 30’).

Porém, o diretor Shawn Levy (do indicado ao Oscar ‘Free Guy: Assumindo o Controle‘) usa tudo isso como pretexto para contar uma outra história. Uma muito mais relacionável.

Ryan Reynolds, Mark Ruffalo e Walker Scobell em 'O Projeto Adam' (crédito: divulgação / Netflix)
Ryan Reynolds, Mark Ruffalo e Walker Scobell em ‘O Projeto Adam’ (crédito: divulgação / Netflix)

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Claro, usar assuntos do tipo como pretexto para embalar enredos mais emotivos é uma escolha consciente em diversas produções. Um exemplo é ‘De Volta para o Futuro’: o clássico oitentista de Robert Zemeckis usa justamente a relação de um filho com os seus pais como um dos fios condutores da trama.

No caso de ‘O Projeto Adam’, Levy e os roteiristas Jonathan Trooper, T.S. Nowlin, Jennifer Flackett e Mark Levin vão para esse lado da emoção. Na história, Reynolds é Adam, um piloto que vive no ano de 2050 e rouba um jato capaz de viajar no tempo, tudo para ir até o passado e evitar a morte da amada, Saldaña, em 2018. Porém, ele é atingido durante a fuga do futuro e acaba caindo em 2022.

Já no nosso ano, Adam encontra uma versão jovem dele mesmo, interpretada por Walker Scobell, que ainda lida com a recente morte do pai. Dessa forma, ele precisa reviver a dor da perda, o peso da relação conturbada que tinha com a mãe e o bullying que vivia dos tempos de escola.

A partir daí, todo o sci-fi do filme vira contexto secundário dentro da trama. Na prática, vemos um homem se vendo obrigado a se conciliar consigo mesmo, com o que ele viveu e com quem ele se tornou.

Levy, aliás, vem caracterizando a sua filmografia por trazer histórias extremamente emotivas para a tela grande, muitas vezes abordando o contexto de família e das relações de afeto. Em maior ou menor grau, isso está lá em ‘Gigantes de Aço’, ‘Doze é Demais’ e ‘Free Guy’, para ficar em apenas três exemplos da filmografia do cineasta.

No entanto, é de uma beleza ímpar como o diretor faz isso em ‘O Projeto Adam’. A interação entre os dois Adams, nas discussões sobre como ambos levam as suas vidas, funciona como uma reflexão para nós mesmos, enquanto assistimos. Já a angústia da personagem de Garner, da mãe que ainda vê o vazio deixado pelo marido e a dificuldade de criar um filho adolescente, bate forte a cada cena.

O Projeto Adam: Ryan Reynolds e Jennifer Garner na cena mais emotiva do filme (crédito: divulgação / Netflix)
Ryan Reynolds e Jennifer Garner na cena mais emotiva de ‘O Projeto Adam’ (crédito: divulgação / Netflix)

O ápice é, sem fazer spoiler, quando a versão mais velha de Adam finalmente fica frente a frente com a mãe. É impossível, enquanto filho, não se sensibilizar com aquele homem adulto que, no fundo, é apenas uma criança arrependida. O mesmo deve se aplicar a qualquer mãe, que certamente se colocará ali na posição da personagem de Garner.

Tudo isso ganha ainda mais beleza não só na já tocante interpretação de Jennifer Garner, mas também no trabalho do pequeno Walker Scobell. Se Reynolds se notabilizou por interpretar versões diferentes do mesmo personagem (Adam soa como Deadpool e Guy, com algumas variações), o adolescente consegue entrar na mente do colega de cena, transpondo seus tiques, cadência de fala e muito mais.

Ainda que não sejam fisicamente parecidos, é a atuação de Scobell que nos faz acreditar que são a mesma pessoa ali, com algumas décadas de diferença.

Ok, e o sci-fi em ‘O Projeto Adam’? E a ação?

Dito tudo isso, é bom ressaltar: ‘O Projeto Adam’, no estrito senso de filme de ação e ficção científica, é fraco.

A trama é simplista, não embasa a motivação dos personagem, aposta muito em clichês, não convence com sua pseudociência e falha ao não entregar um desenvolvimento que realmente surpreenda, ou minimamente envolva, o espectador. Depois da primeira hora você sabe exatamente o que irá acontecer a seguir.

Até mesmo a questão da viagem no tempo, que é o principal chamariz para a trama, é explorada de forma rasa.

Não há também muitas boas cenas de ação – chegam, em certos momentos, a lembrar os combates entre os Power Rangers e aqueles bonecos de argila genéricos. Não parece, em nenhum momento, que estamos vendo uma batalha de vida ou morte. Que o futuro do mundo depende disso.

Quer dizer, fica difícil entender até o quão ruim é esse futuro de onde veio o Adam.

A ação não é o forte - nem o foco - de 'O Projeto Adam' (crédito: reprodução / Netflix)
A ação não é o forte – nem o foco – de ‘O Projeto Adam’ (crédito: reprodução / Netflix)

Confesso que, ao subirem os créditos, tudo isso incomodou. Afinal, o público foi chamado pela Netflix para ver um novo ‘Free Guy’: um longa-metragem de ação que unisse reflexões mas que, principalmente, divertisse.

“Pra ser honesto, o fato foi que eu e o Ryan deixamos claro que queríamos fazer uma ficção científica emotiva. Uma ficção científica que não fosse primariamente cerebral, mas sim emocional”, esclareceu Shawn Levy em entrevista a The Wrap. “[Fizemos isso] Simplificando as regras da viagem no tempo e a sua exposição para o mínimo possível, para que fosse conteúdo de segundo plano, pano de fundo, um suporte para a história emocional”.

Como vemos, a ação e o sci-fi nunca foram os reais objetivos de ‘O Projeto Adam’. É tudo apenas um pretexto, uma desculpa, para virar para nos fazer virar para quem chamamos de família e dizer: “Obrigado por tudo. Te amo”.

Como diz o meme: “É sobre isso. E tá tudo bem”.

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