“É um filme sobre resistência”, diz Marcélia Cartaxo sobre ‘Pacarrete’ “É um filme sobre resistência”, diz Marcélia Cartaxo sobre ‘Pacarrete’

“É um filme sobre resistência”, diz Marcélia Cartaxo sobre ‘Pacarrete’

Em ‘Pacarrete’, Marcélia brilha como uma bailarina do interior do Ceará que tenta chamar a atenção para sua arte e para a cultura no geral

Matheus Mans   |  
26 de novembro de 2020 15:12
- Atualizado em 30 de novembro de 2020 10:25

Brilhantemente interpretada por Marcélia Cartaxo (‘A Hora da Estrela’), a personagem Pacarrete é um sopro de Brasil. Ela, que dá nome ao filme que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 26, traduz parte da cultura do país. Interiorana, da cidade de Russas, ela é uma bailarina que tenta levar o seu talento e sua cultura para a região, mas parece que ninguém a quer.

Afinal, em alguns momentos, Pacarrete até mesmo assusta. Tem uma voz rouca ameaçadora e é daqueles tipos de poucos amigos. Se solta quando está bailando com a vassoura na calçada de casa, mas não gosta de conversinha. Briga com muitos, não dá atenção para vários. Não quer nem mesmo que passem na frente da casa, fechando a passagem com plantas.

Pacarrete é uma figura peculiar da cidade de Russas, no interior do Ceará (Crédito: Divulgação/Vitrine Filmes)

Tão real, tão brasileira, tão esquecida. Não é surpreendente quando Allan Deberton, diretor estreante com ‘Pacarrete’, conta que se inspirou em uma mulher real. “Ela realmente era de Russas, no interior do Ceará”, conta. “Falavam para eu me manter longe dela, pois podia levar uma vassourada. Só depois descobri que ela era bailarina e que lutava pela cultura de lá”.

Construção de ‘Pacarrete’

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Apesar de parecer uma personagem de um tom só no começo do filme, Pacarrete logo se mostra de uma complexidade surpreendente. Afinal, apesar da brutalidade de sua relação com os outros, ela sofre. Ela se encanta. Ela sente, como qualquer outro. Cartaxo, especialista em interpretar personagens tão contraditórios e potentes, explica o processo.

“Participei da preparação de elenco do primeiro curta-metragem do Allan e, naquela época, ele me contou que o primeiro longa dele seria sobre Pacarrete. Aí se passaram 12 anos até que ele me chamou para interpretá-la”, conta Marcélia. “Viver Pacarrete foi um aprendizado. Tive que fazer aula de balé e ainda precisei lidar com essa modulação de humor”. 

Assim, a partir disso, Pacarrete explode em significados. É a cultura brasileira que é esquecida por aí. E a memória curta do brasileiro para com os seus. É a pessoa que é julgada e taxada de louca pela vizinhança, sem que nunca ninguém conheça seu verdadeiro eu. É o interior do Brasil, quase que tão esquecido quanto Pacarrete, cheio de brilho, cultura e força.

“‘Pacarrete’ fala sobre artistas mais velhos esquecidos, mas também é um filme sobre a resistência na cultura”, diz Marcélia. “Hoje, temos esse monopólio político que quer ditar regras e destruir nossa cultura. Se está difícil no nacional, imagina em cidades do interior. Assim, acredito que o filme passe essa mensagem forte de que nós estamos resistindo”.

Jornada do filme

Até agora, a jornada de ‘Pacarrete’ está complicada, ainda que brilhante. O filme foi exibido pela primeira vez no Festival Internacional de Shangai, em junho de 2019. Depois, fez barulho ao ser exibido no Festival de Gramado, levando um punhado de prêmios — Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Atriz, Melhor Roteiro, Melhor Prêmio do Público e mais três.

Como ‘Pacarrete’, Marcélia conquistou prêmios pelos festivais que passou (Crédito: Divulgação/Vitrine Filmes)

Depois, era para o filme ter estreado em terras brasileiras antes da pandemia. Foi adiado, obviamente, por conta do fechamento dos cinemas. Acabou sendo exibido em um festival online e, ainda, teve exibições especiais nos drive-ins que pipocaram pelo Brasil. Agora, mais de um ano depois da exibição em Gramado, ‘Pacarrete’ finalmente chega às salas.

“Estamos estreando nos cinemas, mas entendendo que vivemos em uma pandemia. Pedimos para que as pessoas assistam ao filme de maneira consciente. Fica o lançamento como opção para quem puder ir”, diz Allan. “Mas, logo mais, o filme entra no streaming para ficar mais acessível. Temos que dialogar com esse novos formatos. No fim, todos ganham”.

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