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“A gente cresceu e amadureceu juntas”, diz Giovanna Grigio sobre Sofia, protagonista de ‘Perdida’

Visitar o set do filme Perdida, aguardada adaptação do livro de Carina Rissi que chega aos cinemas em 13 de julho, é como sentir um gostinho do que é viajar no tempo. As mulheres usam aqueles vestidos com várias camadas, os homens de fraque ou terno completo e costumes que se perderam. No entanto, tem uma pessoa ali que nos puxa de volta para a vida real: Giovanna Grigio. A atriz, conhecida por seu papel na novela Chiquititas, interpreta Sofia, uma jovem de nosso tempo que encontra um portal que a leva para a primeira metade do século XIX no Brasil.

Ela destoa de tudo no set: usa jaqueta de couro, fala do jeito mais informal possível e fica bem longe desses bons modos que o restante do elenco precisa ficar exercitando o tempo todo. “Foi legal chegar no set com jaquetinha de couro e todo mundo com vestido regência”, comenta a protagonista de Perdida durante a visita do Filmelier ao set.

Perdida no tempo e nos costumes

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A personagem chega ali, de maneira bem misteriosa, depois de passar por altos e baixos em sua vida no século XXI. O trabalho não traz a mesma empolgação de antes, a melhor amiga está se mudando para a Austrália e a sensação é de que não há no que se apoiar. “A Sofia tem pavor da palavra ‘casamento’. Ela é meio que perdida nesse sentido. Ela tem questões sentimentais dela e sente que o casamento é uma instituição falida. Ela não se identifica com relacionamentos modernos”, conta Giovanna. “Eu me identifico um pouco com a Sofia. Também sou meio fechada. Foi bom passar esse processo com ela, estou me abrindo junto com ela. A gente cresceu e amadureceu juntas”. Para causar essa estranheza de uma personagem de 2023 indo parar em 1830, são várias as pequenas sacadas da cineasta Luiza Shelling Tubaldini que vão provocando essa estranheza em Perdida. Começa pelo figurino, como já comentamos, que foge de tudo que poderia ser encontrado no século XIX, passa pelo celular tocando na mesa de jantar e pelo linguajar e até chegar na forma de se comportar. “Não fiz aula de etiqueta. Visualmente, criaram um contraste com isso. Eu tenho liberdade, colocar a mão em qualquer lugar, enquanto a galera não pode”, explica a atriz.
Giovanna Grigio, Nathália Falcão e Bia Arantes no set de Perdida (Crédito: Star Distribution Brasil)
Com isso, não espere encontrar uma clássica “mocinha de época” em cena. Ela é tudo menos isso. “Ela não é nada de mocinha. É uma mocinha inversa. Ela chega justamente para ser o contrário de uma mocinha. Não tem os modos, é ácida, é irônica. Subverte a realidade. Ela não é uma mocinha chata, ela é uma mina interessante”, diz Giovanna. Nesse mundo de dois séculos atrás, porém, nem tudo são flores. Apesar da paixão arrebatadora que surge com Ian Clarke (Bruno Montaleone) e amizade com a irmã desse jovem (Nathália Falcão), há alguns elementos em cena que querem Sofia o mais longe possível. É o caso de Teodora, vivida por Bia Arantes, pretendente oficial de Ian Clarke, e do Dr. Almeida, interpretado por Hélio de La Peña, que é uma espécie de conselheiro de Ian — e que não gosta de Sofia. “O Dr. Almeida é um cara sério, que guarda uma certa austeridade ao personagem do Ian. É um conselheiro, um amigo de confiança do pai que morreu. Ele tem que sustentar a tradição e contestar essa personagem transgressora que é a Sofia. Eu tinha que conservar os valores mais tradicionais. Fui buscar em mim a minha vida pré-artista, antes do Casseta. Sou engenheiro formado, trabalhava com isso, e tinha uma outra postura, outra forma de lidar, que já estava bem adormecida”, comenta o Hélio de La Peña, também durante a visita do Filmelier ao set de filmagens de Perdida.

Liberdade de expressão

Apesar de se passar no século XIX, quando mulheres tinham direitos restritos e a escravidão ainda era uma realidade no Brasil, Perdida pede licença como uma fantasia que é para criar sua própria realidade, abstraindo esses pontos. “Aqui temos mais liberdade. O Ian ama muito a irmã e, por isso, se a Elisa fizer algo que não era de acordo com aquela época, ele não a repreende”, explica Nathália Falcão sobre as liberdades de sua personagem. “Para mim, e para a Elisa também, a Sofia representa um novo mundo. A Sofia fala sobre sexo com a Elisa, fala como é importante casar com amor… A Elisa também se empodera com certas coisas. O empoderamento da Elisa está na cena do baile: não é ele que tira a Elisa pra dançar, é eu que tiro pra dançar. Ela toma certas atitudes que não eram condizentes com as normas da época, mas que vê como é lindo viver assim a partir de algumas atitudes da Sofia. É princesa, mas não é submissa”. No entanto, o mais interessante é a presença de atores negros em cena, sem qualquer menção à escravidão. É o jovem Almeida, interpretado por Sérgio Malheiros, par romântico de Elisa; o sr. Albuquerque, vivido por Thiago Justino; a jovem Valentina Albuquerque, uma das pretendentes de Ian, interpretada por Emira Sophia; e, claro, Dr. Almeida.
La Peña interpreta o conselheiro de Ian, Dr. Almeida (Crédito: Star Distribution Brasil)
“É legal as meninas verem um cabelo como o meu em cena e entenderem que elas poderiam existir do jeito que elas são nessa história, que é de fantasia, uma história de amor”, diz Emira. “A Valentina, no livro, é uma menina loira de olhos azuis. Fiquei apreensiva de como as fãs receberiam essa escolha. É legal ver meninas negras falando que liam os livros e que estavam felizes de se verem nessa personagem. Minha própria presença na tela coloca isso em pauta”. La Peña, enquanto isso, compara essa decisão criativa com Bridgerton, da Netflix, e celebra esse tipo de produção. “Tem que haver uma coerência e a coerência é que não é um roteiro baseado em fatos reais. É uma fantasia, assim como Bridgerton, que não tinha aqueles negros todos misturados com os brancos na realeza. Isso acontece aqui. Achei interessante essa proposta, essa mistura”, diz o ator. “É interessante e bastante inovador trazer esse tipo de narrativa para o Brasil. É um conto de fadas com personagens pretos que não são bandidos, que não são os vilões da história”.

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Matheus Mans

Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.

Escrito por
Matheus Mans

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