Com ‘Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis’, Marvel apresenta o gênero mais popular da China Com ‘Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis’, Marvel apresenta o gênero mais popular da China

Com ‘Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis’, Marvel apresenta o gênero mais popular da China

Nova produção de super-heróis da Casa das Ideias tem o mérito de criar uma ponte entre as culturas Oriental e Ocidental; saiba o que esperar do filme

2 de setembro de 2021 16:46
- Atualizado em 4 de setembro de 2021 01:00

A Marvel Studios sabe, há algum tempo, que tem muito filme de super-herói por aí para você assistir – em parte culpa do próprio estúdio, que, desde 2008, já lançou 25 longas-metragens. Por isso, a empresa liderada por Kevin Feige criou uma espécie de padrão: pegar elementos de outros gêneros ou subgêneros, incorporando ao seu universo na busca de surpreender o espectador com algo “inesperado”.

Claro, não podemos dizer que tal estratégia foi uma criação 100% de Feige: é comum, nos quadrinhos americanos, que as publicações de heróis abracem influências das histórias de terror, aventura, suspense, crime, mistério e muito mais. Quem leu um gibi detetivesco do Batman ou uma história do Drácula da Marvel Comics sabe muito bem como é. O mérito do executivo foi saber empregar isso de forma bem-sucedida no audiovisual.

Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis‘, que chega nesta quinta (2) exclusivamente aos cinemas brasileiros, é exatamente essa mistura de estilos. Só que, desta vez, a Casa das Ideias cruzou o mundo e foi até a China pegar emprestada os elementos de um gênero muito popular lá, o dos filmes de wuxia.

Imagem promocional de Shang-Chi bem ao estilo do material de divulgação dos wuxia modernos (Crédito: divulgação / Marvel Studios)
Imagem promocional de ‘Shang-Chi bem ao estilo do material de divulgação dos wuxia modernos (Crédito: divulgação / Disney)

O que é wuxia?

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Você, provavelmente, deve estar se perguntando justamente o que é um filme de wuxia – lê-se “vúchia” mesmo, e significa “heróis marciais” em tradução literal. Esse é, sem dúvida alguma, o gênero mais popular na China, aquele que atualmente é o maior mercado de cinema do mundo.

O gênero, que também está presente na literatura e em outras mídias, basicamente mistura elementos fantásticos da cultura chinesa com as lutas de kung-fu e de outras artes marciais.

A histórias normalmente se passam na China na antiga, ou em tempos anteriores à fase moderna. Os personagens principais são heróis corajosos e leais que não servem a grandes poderes ou pessoas influentes, que descobrem (ou desenvolvem) um grande poder e partem contra um antagonista para defender grandes valores, causas, pessoas, a honra e afins.

É, de certa forma, parecido com a jornada do herói tão usada nos gibis e em Hollywood. Também se assemelha aos títulos de espada e magia do ocidente.

Tudo isso normalmente envelopado com uma fotografia incrível, grandes e belos cenários e lutas extremamente estilizadas.

O Tigre e o Dragão, de Ang Lee, é provavelmente o wuxia mais famoso no resto do mundo (Crédito: divulgação / Columbia Pictures)
‘O Tigre e o Dragão’, de Ang Lee, é provavelmente o wuxia mais famoso no resto do mundo (Crédito: divulgação / Columbia Pictures)

Você no mínimo já ouviu falar de algum filme de wuxia: grandes exemplos do gênero incluem ‘O Tigre e o Dragão’, ‘Herói’, ‘O Clã das Adagas Voadoras’ e ‘O Grande Mestre’.

Combinando wuxia e super-heróis

Não por acaso, a Marvel Studios não só estava ciente da oportunidade que seria se aproximar do wuxia (ao menos daqueles de grande orçamento), mas também da importância do mercado de cinema chinês. Para isso, resgatou um personagem pouco conhecido do grande público – Shang-Chi, criado em 1973 -, junto a outros elementos dos gibis e de outros filmes do estúdio, para criar essa mistura que é ‘Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis’.

O grande mérito foi não ter caído no lugar comum de colocar ocidentais sem qualquer ligação com a cultura oriental para produzir o longa.

Destin Daniel Cretton, o diretor, é um havaiano de origem japonesa. Já Simu Liu, que interpreta o protagonista, é um chinês criado no Canadá. Ou seja, profissionais que orbitam tanto no ocidente quanto no oriente. O elenco ainda conta com Awkwafina (‘Podres de Ricos’), Michelle Yeoh (‘O Tigre e o Dragão’) e com Tony Leung Chiu-wai, famosíssimo ator chinês de longas como ‘Amor à Flor da Pele’ e do já citado ‘O Grande Mestre’.

Tony Leung, um dos grandes atores do cinema chinês, é o vilão de Shang-Chi (Crédito: reprodução / Marvel Studios)
Tony Leung, um dos grandes atores do cinema chinês, é o vilão de ‘Shang-Chi’ (Crédito: reprodução / Disney)

O resultado disso é um filme que consegue ser formulaico dos dois sentidos possíveis. Afinal, temos uma história de origem, de um jovem que recebe o chamado para salvar o mundo e se tornar um super-herói, tal qual vimos em ‘Capitã Marvel‘, só para ficar em um exemplo. Do outro, ainda que se passe nos tempos atuais, ‘Shang-Chi’ pega emprestado diversos elementos da estrutura dos wuxias.

Quem está acostumado aos dois tipo de produção sentirá uma espécie de déjà vu. Mas esse nunca foi o público-alvo da Marvel e da Disney.

A intenção de Kevin Feige é bem clara, aliás: usar os elementos dos wuxia, menos conhecidos pelo público ocidental, como a “surpresa” do novo longa. Ao mesmo tempo, usa as referências ao gênero popular no ocidente para “doutrinar” o público oriental ao estilo habitual da Marvel Studios.

Em ambos os sentidos, ‘Shang-Chi’ é muito bem-sucedido.

Entra o resto do Universo Cinematográfico Marvel

Com todos esses elementos, o novo filme nos apresenta Shang-Chi – um jovem que, quando criança, foi treinado para ser um assassino pelo pai, mas agora vive nos EUA e trabalha como manobrista. Um belo dia, ele recebe um pedido de ajuda da irmã (Meng’er Zhang) e leva a amiga Katy (Awkwafina) para uma aventura na China, onde deverá enfrentar justamente o pai (Tony Leung), chefe da organização Os Dez Anéis.

Seria ótimo se fosse só isso – e é, quando se prende a esses elementos -, mas o grande problema de ‘Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis’ é quando o filme se vê obrigado a lidar com o restante do Universo Cinematográfico Marvel.

A organização Os Dez Anéis é a mesma que apareceu no primeiro ‘Homem de Ferro‘ e há a necessidade de corrigir o rumo dado em ‘Homem de Ferro 3‘ – no entanto, o enredo construído para isso falha no teste da suspensão da descrença. Também são jogados outros personagens e referências da Casa das Ideias que pouco ajudam na história que é contada na tela.

Esse é, infelizmente, o preço que se paga quando se constrói um universo de filmes tão interligado e que tem a necessidade – ou melhor, a obrigação corporativa – de construir um enredo maior que englobe todos os outros filmes.

Como diz aquele velho clichê: tirando tudo que deu errado, deu tudo certo. Se você superar esses percalços do universo compartilhado, vai encontrar uma história de origem bem executada e que, principalmente, apresenta uma cultura e um jeito de fazer cinema diferente daquele que o público médio do Ocidente está acostumado.

No fim de tudo, saber pegar o mesmo de duas inspirações tão distantes geograficamente e criar um entretenimento para todos é um grande mérito.

Se após esse gostinho dos wuxia você quiser mais, ah, seja bem-vindo aos seus novos horizontes cinéfilos! Nesse caso, a sugestão para você assistir a seguir é ‘Herói’, com Jet Li’, ou ‘O Tigre e o Dragão‘.

‘Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis’ está em cartaz exclusivamente nos cinemas – clique aqui para saber mais, inclusive os horários das sessões.

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