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‘Solteira Quase Surtando’ e a reflexão sobre as escolhas da mulher moderna

‘Solteira Quase Surtando’ é um dos lançamentos desta semana em video on demand. A produção deveria ter estreado nos cinemas, mas houve uma pandemia de coronavírus no caminho. Agora, é possível assistir ao longa em casa: ele está disponível online, nas principais plataformas de streaming para compra e aluguel.

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Com roteiro de Mina Nercessian, que é também a protagonista, ‘Solteira Quase Surtando’ é uma produção ousada, divertida e com um assunto atual. A comédia discute uma fase delicada na vida das mulheres: a decisão de ter ou não filhos.

O longa tem roteiro e produção feminina, mas a direção é de Caco Souza, que se aventurou pelo mundo da comédia pela primeira vez e contou com dicas de Daniel Filho (‘Se Eu Fosse Você’). A roteirista também esteve sempre presente para possíveis adaptações na história.

‘Solteira Quase Surtando’ é escrito e estrelado pela atriz e roteirista Mina Nercessian (Foto: Reprodução/Anagrama Filmes)
“Pegar uma comédia foi algo muito distante daquilo que eu vinha fazendo como diretor, então eu acabei me preparando um pouco, assistindo algumas coisas que eu tinha gostado, filmes de outras épocas e fui pro set desse jeito para tentar entender um pouco mais na história da comédia”, conta ele, que assistiu a clássicos de comédia ingleses de Peter Sellers e também do grupo Monty Python para se inspirar, mesmo que esse tipo de humor fuja um pouco da proposta de sua produção.

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No entanto, o filme, escrito em 2015 e filmado em 2016, acabou ficando um pouco datado em alguns diálogos que assistindo hoje em dia pode ser problematizados, mas a própria autora assumiu que faria adaptações se tivesse escrito em 2020.

“Na época que eu escrevi ainda se falava
muito de casar para ter filho, hoje em dia
a mulher já evoluiu bastante”

“Acredito que dê 2015 pra cá se passaram uns 200 anos no mundo feminino. Então, hoje em dia nós temos uma outra óptica, eu acho que eu feito mudanças se eu tivesse escrito esse filme hoje em dia. Tem algumas coisas que me incomodam quando eu vejo, mas era o certo naquela época”, conta Mina Nercessian. Na história, Beatriz, a protagonista viviva por Mina, é uma mulher no auge dos 30 anos que é viciada em trabalho e que não tem vontade de se casar, muito menos de ter filhos. Quando ela descobre que está entrando na menopausa precoce e só tem seis meses para engravidar, parte em uma missão de encontrar um pai para seu futuro filho. “Esse sonho de casar e ter filho é uma coisa muito ultrapassada e muito injusta com as mulheres, que lidam com a pressão disso, e se elas não conseguem realizar esse ‘objetivo’ parece que fracassaram em alguma coisa, e não é verdade. Isso tem que mudar, primeiro que a maioria dos casamentos acaba em divórcio e essa ideia de que casar é para sempre é muito ultrapassada. A sociedade tem que mudar essa perspectiva e acho que está mudando. Na época que eu escrevi ainda se falava muito de casar para ter filho, hoje em dia a mulher já evoluiu bastante”, completa.
Além de Mina, o tem Leandro Lima, Leticia Birkheuer, Dani Valente, Stepan Nercessian e Rafael Infante no elenco (Foto: Reprodução/Anagrama Filmes)

A inspiração para ‘Solteira Quase Surtando’

Muito gente pode assistir ao filme e pensar que é uma história autobiográfica, mas não é. Mina Nercessian se casou aos 17 anos e hoje tem quatro filhos, bem diferente da protagonista de ‘Solteira Quase Surtando’. Entretanto, ela assume que tem uma relação forte com sua personagem, ainda que que a inspiração tenha vindo de outro lugar. “Me inspirei em histórias de mulheres próximas que tinham dificuldade e a pressão de decidir se quer filho ou não, e o tempo passando, isso me afetou muito, me comoveu muito. Eu sentia que era um dilema muito atual da mulher moderna, o mundo mudou, as coisas evoluíram graças a Deus. A mulher quer acompanhar essas mudanças, mas o corpo não. Temos basicamente a mesma data de fertilidade de quando viemos ao mundo, claro que existem tratamentos, mas que nem sempre é acessível, vamos concordar que é caríssimo um tratamento de fertilidade. Só um grupo muito seletivo de mulheres tem acesso a esse tipo de tratamento”, conta ela. O primeiro filme pode não ter sido baseado na vida da autora, mas segundo será já o foco é em casamento. A atriz e roteirista contou ao Filmelier que a história é uma trilogia e revelou os títulos dos próximos filmes: ‘Casada Quase Surtando’ e ‘Divorciada Quase Surtando’.

“Precisamos acabar com esse tabu de
que mulher não pode se ausentar
da família, sequer para trabalhar”

Em 2016, Mina Nercessian ficou quase um mês longe do marido e dos filhos para gravar ‘Solteira Quase Surtando’ e sentiu desaprovação do seu ciclo de amigas por se afastar da família, sendo que época uma das crianças tinha dois anos. Ela compartilhou que sua mão sempre viajou muito a trabalho, então tem em mente que é possível criar os filhos sem estar presente o tempo inteiro. Ela reflete que o equilíbrio é essencial para administrar a carreira e a maternidade, mas que ainda assim a sociedade é o maior inimigo da mulher. “Quando eu fui gravar o filme minhas amigas fizeram uma pressão muito grande por eu ficar um mês viajando a trabalho longe dos meus quatro filhos, perguntando se eu ia morrer de saudade, falando que eu deveria levar um deles. Então eu sempre perguntava se elas tinham essa mesma reação quando os maridos delas iam viajar. ‘Fulano, você vai conseguir fazer essa reunião sem seu filho? Leva seu filho’, ninguém pergunta isso para um homem, é engraçado pensar nisso. Quando homem viaja ou volta do trabalho nenhum amigo pergunta ‘Foi difícil para você ficar longe do seu filho’?”, conta a atriz. “Quando eu voltei, não entrei na jogo delas, eu respondi que foi ótimo passar esse tempo longe, que fiz o que eu amo e que as crianças ficaram ótimas com meu marido. Não me senti culpada, fiquei com saudades mas fiquei bem. Precisamos acabar com esse tabu de que mulher não pode se ausentar da família, sequer para trabalhar”, completa.
‘Solteira Quase Surtando’ está disponível para assistir online (Reprodução/Anagrama Filmes)

Lançamento online

Como já citado, a ideia era que ‘Solteira Quase Surtando’ ficasse em cartaz nos cinemas e o filme chegou a estrear em algumas salas, mas logo veio a pandemia – com a quarentena começando na mesma semana. Devido ao novo cenário, a produção foi lançada direto nas plataformas de video on demand. “Fizemos as pré-estreias na semana anterior, o filme entrou em cartaz na quinta e no sábado os cinemas do Rio de Janeiro começaram a fechar. Então foi uma pena, um esforço com toda a produção para lançar o longa, que chegaria a 310 salas. Mas enfim, a pandemia jogou um balde de água gelada na nossa frente”, conta o diretor Caco Souza. Mina Nercessian concorda que foi uma infelicidade o que aconteceu, mas que a questão mais importante é o coronavírus, então ela ficou feliz que ‘Solteira Quase Surtando’ poderá ser visto em casa, o que acaba sendo mais acessível para muita gente. “Eu fiz o filme em 2016 e foi lançado na semana da pandemia? Tanta semana para lançar, mas o que aconteceu é muito grande para ficar pensando em mim. Então, eu fico feliz de saber que a estreia nos cinemas aconteceu, foi boa, mesmo que em um curto período de tempo. Eu tive o prazer de ver o público se divertindo vendo ao filme, foi uma coisa  muito gratificante, ver meu trabalho, o reconhecimento”, disse a artista. “Agora a produção chega em VOD e é uma ótima época, as pessoas estão sozinhas e uma coisa que sinto muita falta é ver minhas amigas, pois eu estou em casa, sigo em isolamento, e esse filme é como se fosse sair com suas amigas, é muito divertido para ver esse mundo feminino, que como disse, sinto muita falta. É uma forma das pessoas se divertirem em casa, com segurança, então espero que seja bem recebido e que mais pessoas tenham a oportunidade de assistir”. Para assistir à ‘Solteira Quase Surtando’ e ver mais informações do filme, é só clicar aqui!

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Raíssa Basílio

Jornalista de cultura e entretenimento. Já passou pelo Papelpop, UOL e Revista Claudia escrevendo sobre beleza, moda, cinema, música e TV, e também trabalhou com produção na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Foi redatora do Filmelier.

Escrito por
Raíssa Basílio

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