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‘1982’, um filme que fala sobre guerra pelos olhos do amor

Oualid Massoud estava na escola, em 1982, quando a Primeira Guerra do Líbano explodiu nas ruas do país árabe. Na época, as Forças de Defesa de Israel invadiram o sul do Líbano com o objetivo de fazer cessar os ataques dos palestinos da Organização para a Libertação da Palestina. Ao mesmo tempo, neste mesmo período, acontecia a Guerra Civil do Líbano, conflito interno que iria perdurar até 1990. Oualid era só uma criança — e não entendia nada.

Agora, esse seu olhar infantil e um tanto quanto ingênuo se torna protagonista de ‘1982’. Estreia dos cinemas desta quinta-feira, 2, o longa-metragem conta a história, principalmente, de um garotinho que está em processo de descobrir as dores e as maravilhas do amor por conta de uma paixão avassaladora por uma colega de classe. Há, ainda, o amigo que não entende muito bem esse amor e a professora (Nadir Labaki), preocupada com a guerra.

Nadir Labaki, diretora de ‘Cafarnaum’, interpreta a professora preocupada com a guerra lá fora (Crédito: Divulgação/Escarlate)

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A câmera de Oualid está quase sempre dentro dos muros da escola. A guerra está ali fora, sendo constantemente lembrada por conta dos tanques que chegam na região, os pais que vão buscar os filhos no meio de uma prova ou, ainda, o medo dos professores. No entanto, Wissam (Mohamad Dalli), esse garotinho perdidamente apaixonado, só se preocupa com essa garota de seus sonhos. É um microcosmos potente, mas que traz a leveza da idade tenra.

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“A mensagem do filme é importante já que nos faz olhar para a nossa humanidade, para as pessoas nos diferentes lados de um conflito”, conta o cineasta, que está visitando o Brasil para divulgação do longa-metragem. “Estava preocupado, quando estava fazendo o filme, queria contar uma história que todos pudessem se relacionar. É um filme sobre todos. Em essência, o que percebi, a jornada de medo e de amor existe em todos os lados do conflito”. Com isso, ‘1982’ surge como uma espécie de manifesto memorialista de Oualid. Assim como Alfonso Cuarón fez com a obra-prima ‘Roma’ e Kenneth Branagh fez com o dividido ‘Belfast’, o cineasta libanês faz com ‘1982’. Obviamente, com isso, abrem-se concessões e muitas particularidades desse período passam pelo filtro natural de uma criança. Ainda assim, porém, há beleza na forma que Oualid conta o período e, acima de tudo, encerra as discussões na conclusão.
“Cresci em dois países, Libéria e Líbano. Os dois foram devastados pela guerra. Durante a primeira grande guerra da minha vida, eu não entendia o que isso significava, mas eu sentia”, contextualiza o cineasta, quando questionado sobre o teor autobiográfico da obra. “Fazer esse filme foi um processo de cura. Pude olhar para trás com mais sabedoria. Você deve mostrar para as pessoas que pode haver esperança para que elas vivam com esperança”.

‘1982’ e a Escarlate Filmes

Além de ‘1982’ ser um filme importante para Oualid, ele também é um marco para a Escarlate Filmes. Este é o primeiro longa-metragem que a empresa assume inteiramente a distribuição, sem dividir com outras marcas. “A Escarlate atua no modelo de estúdio, com desenvolvimento de propriedade intelectual, produção e, agora, também na distribuição”, explica Joana Henning, fundadora e sócia da Escarlate. “É um filme de amor e poesia. É um orgulho trazê-lo ao Brasil”. Na primeira empreitada da Escarlate, ‘1982’ terá distribuição em cerca de 20 salas no circuito — um número bom para um lançamento árabe independente. Segundo Joana, há uma boa relação com o mercado e expectativas na altura. “Buscamos soluções para o mercado exibidor. Se a indústria não tiver a conexão entre as etapas de difusão e criação do audiovisual, nós não conseguimos ser competitivos para o mundo e temos uma operação muito desmembrada, afetando o resultado final. A distribuição tem algo de curadoria, já que só atuamos com conteúdo que tenha alguma relevância”, diz. “‘1982’ atua, justamente, como essas guerras e disputas interferem no curso da infância e da vida. 40 anos depois, temos esse impacto retratado na vida real. Para o público brasileiro, gera uma empatia imediata. Como distribuidora pós-pandemia, no momento que a indústria vive, me sinto em um espaço muito privilegiado. Com essa visão holística, estamos conseguindo boas parcerias no mercado exibidor. É um momento duro para o mercado, de reconstrução de estabilidade e solidez, mas também é um momento feliz para buscarmos novos modelos e formatos”, conclui Joana Henning.

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Matheus Mans

Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.

Escrito por
Matheus Mans

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