“Gostaria de nunca ter feito esse filme”, diz diretor de ’20 Dias em Mariupol’ no Oscar
Quando Mstyslav Chernov subiu ao palco do Oscar na noite de domingo, 10, já dava para imaginar que o diretor de 20 Dias em Mariupol faria um grande discurso. Afinal, o cineasta já mostrou ter uma boa habilidade para expressar narrativamente tudo o que passou no inferno que foi o cerco de Mariupol, cidade brutalmente atacada pelo exército russo. Mas Chernov se superou: ao lado de Jonathan Glazer, de Zona de Interesse, fez o melhor discurso da noite acerca de sua experiência com o longa-metragem, que está em cartaz nos cinemas desde a última quinta-feira, 7.
“Acho que vou ser o único diretor a falar isso neste palco. Gostaria de nunca ter feito esse filme. Queria trocar isso com a Rússia não ter invadido a Ucrânia e ocupado várias cidades”, disse no palco. “Mas não posso alterar a História nem o passado. Todos juntos, porém, podemos fazer com que a História tome o rumo devido e que a verdade perdure”.
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Confira, abaixo, o discurso completo de Chernov no Oscar 2024:
Essa visão de Chernov sobre o filme e sobre o prêmio é algo que ele já tinha compartilhado em entrevista com o Filmelier, algumas semanas atrás. No papo, o cineasta disse que ganhar é mais do que reconhecimento pessoal. “É importante porque somos capazes de continuar lembrando das milhões de pessoas mortas”, diz. “É ainda mais urgente do que antes porque não se trata apenas de receber prêmios e reconhecimento. Tudo isso está ajudando a encontrar mais público. As pessoas vão para a zona de guerra no conforto de suas casas, e é aí que esse reconhecimento ajuda. Para dizer, na verdade, como seres humanos, isso é o que precisamos quando nosso mundo está em chamas”. Por fim, vale lembrar que 20 Dias em Mariupolé o primeiro Oscar da história da Ucrânia. Difícil, mesmo neste momento de celebração de uma vitória no prêmio mais importante do cinema, também não ter uma forte melancolia.
Sobre 20 Dias em Mariupol
Sobre o que trata?
Em 20 Dias em Mariupol, o cineasta e fotojornalista premiado com o Pulitzer, Mstyslav Chernov, conduz o público em uma jornada visceral pelos primeiros dias da invasão russa na cidade portuária de Mariupol. Presos em meio ao caos, Chernov e sua equipe de jornalistas ucranianos testemunham em primeira mão os horrores da guerra, incluindo o bombardeio devastador de um hospital-maternidade.
Chernov nos bastidores de 20 Dias em Mariupol (Crédito: Synapse)“A primeira reação é o caos. As pessoas não sabem o que está acontecendo e entram em pânico”, explica o jornalista, capturando a essência do medo e da incerteza que permeiam os primeiros momentos do ataque. É um filme difícil de assistir, mas impossível de ignorar. A produção, que possui cenas arrasadoras e com pouca censura, é um soco no estômago, um grito de alerta e um apelo à ação.
Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.