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Oscar 2024: analisamos o bom e o ruim da cerimônia

Foi um ano complicado para Hollywood: greves de atores e roteiristas na busca por melhores condições de trabalho, especialmente diante da proliferação de ferramentas de Inteligência Artificial nas áreas criativas. A bilheteria, exceto pelo fenômeno Barbenheimer, tem sido irregular. Os Oscar 2024 chegaram somando esses antecedentes à pergunta que os acompanha há pelo menos uma década: esses prêmios ainda importam, pelo menos?

Mais sobre o Oscar 2024:

Como sempre, tudo isso costuma vir acompanhado de expectativas e medidas por parte da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (AMPAS) para salvar sua “grande festa do cinema” da irrelevância.

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Este ano não foi exceção (começando com a mudança de horário para iniciar a cerimônia mais cedo). Os resultados, para não perder o costume, foram mistos, abrangendo desde a emotividade e a significância até o questionável, decepcionante ou simplesmente bizarro. A seguir, apresentamos um resumo do mais notável e do mais decepcionante da cerimônia do Oscar 2024.

O bom e o ruim do Oscar 2024

O bom: a apresentação dos prêmios de atuação

O primeiro prêmio da noite foi na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante, e imediatamente ficou evidente uma mudança significativa na cerimônia. A tradição, por muito tempo, era apresentar as indicadas com um pequeno clipe de seus respectivos filmes. Este ano foi diferente: em vez disso, cinco atrizes vencedoras do Oscar no passado subiram ao palco para apresentar cada uma as indicadas na categoria. Jamie Lee Curtis, vencedora do ano passado por Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo, falou com orgulho de sua amiga Jodie Foster, indicada por Nyad. Rita Moreno, lendária vencedora por Amor, Sublime Amor, dirigiu-se a America Ferrera, a candidata por Barbie. E assim por diante.
As categorias de atuação do Oscar 2024 ficaram entre as mais emocionantes (Crédito: AMPAS)
A dinâmica se repetiu em todas as categorias de atuação do Oscar 2024. Com isso, a cerimônia alcançou seus momentos mais emotivos da noite, estabelecendo um sentimento de continuidade de um legado, uma passagem de bastão. Artistas celebrando artistas, que é do que se tratam os Prêmios da Academia, essencialmente.

O ruim: as piadas em algumas apresentações

A rotina é a seguinte: a Academia convida uma série de celebridades, na maioria atores, mas também comediantes, músicos, etc., para apresentar os prêmios em várias categorias. E como sempre, os resultados são variados. A combinação de Kate McKinnon e America Ferrera apresentando as categorias de documentário foi muito divertida. Mas outras piadas – e duplas – simplesmente não conectaram ou se prolongaram demais, como a de Octavia Spencer e Melissa McCarthy apresentando as categorias de roteiro.
Muitas das piadinhas não funcionaram (Crédito: AMPAS)
É uma dinâmica que os organizadores da cerimônia ainda não conseguiram aperfeiçoar. Mas deveriam aprender com suas próprias lições: às vezes, a simplicidade é o melhor, como aconteceu nas categorias de animação. Chris Hemsworth e Anya Taylor-Joy apenas subiram ao palco, pareciam incríveis e apresentaram os prêmios. A celebração, assim, ficou nos filmes em si e não nos apresentadores no palco.

Em termos médios: Jimmy Kimmel

Vale a pena destacar para aqueles que não estão acompanhando: os Oscar 2024 marcaram a quarta vez, em oito anos, que o comediante e apresentador Jimmy Kimmel atuou como mestre de cerimônias. Alguns veem isso como um sinal de consistência muito necessária: na luta pelos esquivos índices de audiência, os organizadores costumam trocar de apresentador a cada ano, com resultados diferentes. Manter Kimmel foi uma aposta conservadora: ele tem altos e baixos, para ser honesto, mas o apresentador consegue trazer uma dose consistente de comédia e agilidade à cerimônia sem se tornar o centro das atenções ou indignar ninguém (como costuma acontecer com Ricky Gervais no Globo de Ouro, por exemplo). O problema, se os organizadores decidirem que ele volte para o próximo ano, será manter o entusiasmo.
Jimmy Kimmel tem sido uma aposta segura como mestre de cerimônias (Crédito: AMPAS)

O bom: os discursos de Zona de Interesse e 20 Dias em Mariupol

Em maior ou menor medida, nunca falta um discurso de teor político no Oscar. Os Oscar 2024, no entanto, permaneceram incomumente apolíticos durante boa parte de sua duração, apesar de ser um ano marcadamente político para questões da própria indústria cinematográfica. Isso e o fato de que, bem na frente do Dolby Theatre, onde ocorre a premiação, houve manifestações pedindo o fim das hostilidades na Palestina. Então Zona de Interesse e 20 Dias em Mariupol emergiram como vencedores de Melhor Filme Internacional e Melhor Documentário, respectivamente.
“Todas as nossas decisões foram tomadas para nos confrontarmos no presente, não para dizer ‘veja o que faziam no passado’, mas para dizer ‘veja o que fazemos agora’. Nosso filme mostra para onde a desumanização leva em sua pior faceta. Moldou nosso passado e presente. Agora estamos aqui como homens que negam que o judaísmo e o Holocausto foram sequestrados por uma ocupação que levou a um conflito para tantas pessoas inocentes. Sejam as vítimas de 7 de outubro em Israel ou o atual ataque em Gaza, todos são vítimas dessa desumanização. Como resistir?”Jonathan Glazer, no Oscar 2024
Por sua vez, Mstyslav Chernov, diretor do documentário 20 Dias em Mariupol, expressou: “Acredito que serei o único diretor a dizer isso neste palco. Gostaria de nunca ter feito este filme. Gostaria de trocar isso pelo fato de a Rússia não ter invadido a Ucrânia e ocupado várias cidades. Mas não posso alterar a História nem o passado. No entanto, todos juntos podemos fazer com que a História siga seu curso adequado e que a verdade perdure”.

O ruim: Lily Gladstone

A categoria mais disputada do Oscar 2024 era, de longe, a de Melhor Atriz, entre Emma Stone por Pobres Criaturas e Lily Gladstone por Assassinos da Lua das Flores. Com todos os prêmios anteriores bastante divididos (Stone recebeu o BAFTA, Gladstone o Prêmio do Sindicato de Atores), não havia uma vencedora clara antes da grande noite. Stone conquistou o Oscar de Melhor Atriz no final (sua segunda estatueta na categoria), em um resultado que dividiu opiniões. A própria atriz parecia um tanto desconfortável em seu discurso, aparentemente consciente de que sua vitória interrompia o caminho de Gladstone para fazer história como a primeira atriz nativa americana a triunfar na categoria. Fica a pergunta se Stone, uma atriz e produtora com uma carreira já consolidada em Hollywood, precisava de um segundo Oscar. Mas sem desmerecer ninguém (ambas as atrizes são espetaculares), o resultado pode ser compreendido: o desempenho de Gladstone é mais contido, enquanto o de Stone é mais extravagante e grandioso. O tipo de trabalho que costuma atrair os votantes.
O desempenho de Emma Stone está mais próximo das preferências da Academia (Crédito: Searchlight Pictures)

O bom: 13 mulheres ganharam o Oscar 2024

Seria de uma visão muito estreita focar apenas no caso de Barbie, mas o fato de o filme ter sido ignorado em categorias como Melhor Atriz e Melhor Direção trouxe à tona um problema persistente nas indicações ao Oscar 2024: a falta de artistas femininas nas indicações e, por extensão, na indústria como um todo. No entanto, há coisas a serem celebradas nos resultados finais: muitas mulheres conquistaram o Oscar nesta noite: 13 ao todo, das quais 11 são vencedoras pela primeira vez. Para começar, temos Emma Thomas, produtora de Oppenheimer e colaboradora de longa data de Christopher Nolan, além de ser sua esposa. O prêmio de Melhor Filme pertence a ela. Ignorando as vitórias de maior destaque (a já mencionada Emma Stone, Da’Vine Joy Randolph em Os Rejeitados e Billie Eilish por Melhor Canção Original), as outras áreas são, em sua maioria, aquelas consideradas menos visíveis, as chamadas categorias técnicas ou abaixo da linha.
Jennifer Lame, editora da Oppenheimer, é uma das mulheres vencedoras do Oscar 2024 (Crédito: AMPAS)
Oppenheimer conquistou o Oscar de Melhor Edição, para Jennifer Lame. Godzilla Minus One, surpreendentemente vencedora em Melhores Efeitos Visuais (de longe, a menos cara de todas as indicadas), tem Kiyoko Shibuya como supervisora de efeitos visuais. Pobres Criaturas, por sua vez, dominou em categorias visuais como Melhor Design de Produção (Shona Heath e Zsuzsa Mihalek), Melhor Figurino (Holly Waddington) e Melhor Maquiagem e Penteado (Nadia Stacey). A vitória de 20 Dias em Mariupol significou que suas duas produtoras, Michelle Mizner e Raney Aronson-Rath, também são vencedoras do Oscar. Por fim, não podemos esquecer que Justine Triet foi para casa com o prêmio de Melhor Roteiro Original por Anatomia de uma Queda, compartilhado com seu parceiro, Arthur Harari.

O bizarro: Al Pacino

Parece que a Academia tem um trauma coletivo desde o fiasco de La La Land sendo anunciada como Melhor Filme, antes de corrigir o erro e coroar Moonlight (confusão perpetrada por Warren Beatty). No entanto, os organizadores insistem em trazer atores lendários, mas de… certa idade, para apresentar o grande prêmio da noite.
O lendário Al Pacino protagonizou um dos momentos mais estranhos do Oscar 2024 (Crédito: AMPAS)
Nos Oscar 2024, Al Pacino teve a distinção duvidosa. E o lendário ator de O Poderoso Chefão parece que simplesmente levantou da cama naquele dia, com a vaga ideia de abrir um envelope, ler algumas palavras escritas ali e ir para casa dormir cedo. Oppenheimer foi anunciada como a grande vencedora como quem pede ovos e café para o café da manhã.

O bom: Cord Jefferson (e os filmes pequenos)

Ficção Americana foi a vencedora do Oscar 2024 de Melhor Roteiro Adaptado (uma das surpresas da noite). Em seu discurso de aceitação, o diretor e roteirista, Cord Jefferson, fez um apelo à indústria para assumir maiores riscos criativos com filmes menores e não megaproduções perigosamente caras.
“Isso é mais uma petição. Uma petição para reconhecer que há muita gente lá fora que adoraria ter a oportunidade que me foi dada (…) E entendo que esta é uma indústria avessa a riscos, eu entendo, mas os filmes de 200 milhões de dólares também são um risco, sabem? E nem sempre dão certo, mas você tem que arriscar mesmo assim.” E, em vez de fazer um filme de 200 milhões, tente fazer 20 de 10 milhões! Ou 50 de quatro milhões! (…) Estou muito feliz de estar aqui, me senti muito feliz fazendo este filme e quero que outras pessoas experimentem essa alegria”.
O ponto é reforçado pela vitória de Godzilla Minus One em Melhores Efeitos Visuais. O orçamento de produção do filme foi estimado em 15 milhões de dólares, uma fração do custo do blockbuster hollywoodiano convencional (incluindo os das outras indicadas da categoria) e uma cifra que o diretor Takashi Yamazaki desmentiu, dizendo “tomara que tivesse sido tanto”.
Godzilla Minus One era uma história de Davi contra Golias no Oscar de 2024 (Crédito: AMPAS)

O bom: I’m Just Ken

É tradição que as indicadas a Melhor Canção Original sejam apresentadas ao vivo durante a cerimônia. Quando I’m Just Ken foi indicada, surgiu a expectativa de ver Ryan Gosling nos Oscar 2024 interpretando a música que, para ser honesto, roubou a cena.
Surpreendentemente, esse não seria o caso, pois Gosling inicialmente recusou e delegou a responsabilidade aos compositores Mark Ronson e Andrew Wyatt. Isso mudou algumas semanas depois, uma decisão que nos proporcionou um dos momentos mais marcantes da noite.

O bizarro: IT’S JOHN CENA!

Como mencionado anteriormente, Jimmy Kimmel tem seus altos e baixos. Mas um dos pontos mais estranhos começou com o mestre de cerimônias comemorando o 50º aniversário de um dos momentos mais estranhos na história do Oscar: quando um homem nu apareceu atrás de David Niven enquanto apresentava Elizabeth Taylor. Como ele fez isso? Dizendo: “Imaginem se um homem nu aparecesse no palco?”. Em seguida, John Cena apareceu seminu, cobrindo apenas suas partes íntimas com um envelope. Deu o que falar? Sem dúvida. Mas o tom foi o de uma cerimônia desesperada por um pouco de viralização nas redes sociais para se manter relevante.

Confira a cobertura especial do Filmelier para o Oscar:

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Lalo Ortega

Lalo Ortega é crítico e jornalista de cinema, mestre em Arte Cinematográfica pelo Centro de Cultura Casa Lamm e vencedor do 10º Concurso de Crítica Cinematográfica Alfonso Reyes 'Fósforo' no FICUNAM 2020. Já colaborou com publicações como Empire en español, Revista Encuadres, Festival Internacional de Cinema de Los Cabos, CLAPPER, Sector Cine e Paréntesis.com, entre outros. Hoje, é editor chefe do Filmelier.

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Lalo Ortega

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