‘Batgirl’: Por que a Warner Bros. cancelou a estreia do filme? ‘Batgirl’: Por que a Warner Bros. cancelou a estreia do filme?

‘Batgirl’: Por que a Warner Bros. cancelou a estreia do filme?

O filme da Batgirl, bem como um spin-off animado de ‘Scooby-Doo’, estavam programados para estrear na HBO Max

Lalo Ortega   |  
3 de agosto de 2022 14:51
- Atualizado em 4 de agosto de 2022 01:07

A surpreendente notícia que chegou ontem à tarde (2) : a Warner Bros. Discovery tomou a decisão de cancelar o filme da Batgirl, estrelado por Leslie Grace, apesar de estar praticamente terminado e ter custado entre 70 e 90 milhões de dólares (embora algumas fontes sugiram que custou ainda mais ). Sua estreia estava programada para este ano na HBO Max.

Um spin-off animado do Scooby Doo, ‘Scoob! Holiday Haunt’ teve o mesmo destino, embora também tenha sido finalizado. Nenhuma produção deve ver a luz do dia, seja nos cinemas ou streaming, sob a atual gestão da empresa.

A decisão, descrita como “sem precedentes” por informantes da indústria de Hollywood, não foi tão insperada assim. Apesar de estar nos estágios finais da pós-produção, a Batgirl sequer deu as caras no painéis da Warner e da DC na última San Diego Comic-Con, que forneceu vislumbres de produções como ‘Adão Negro’ e da sequência de ‘Shazam!’.

Por que a Warner Bros. Discovery cancelou o lançamento de ‘Batgirl’?

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Essa resposta traz muitas teorias da conspiração, que vão desde a qualidade do filme, resposta do público nas exibições de teste e até a falta de uma direção concisa para a franquia de filmes da DC. No entanto, de acordo com o Deadline, a decisão se resume a duas coisas: primeiro, o estúdio mudando de gestão (e estratégia) este ano; e segundo, a Netflix. O que mostra uma perspectiva menos promissora na guerra do streaming.

Cinema vem em primeiro lugar para a Warner Bros. Discovery

Parece que muitos, mais muitos anos se passaram desde que os cinemas foram forçados a fechar durante a pandemia, e muitos lançamentos foram adiados ou enviados para plataformas de streaming. Tempos tão complicados quanto fascinantes para uma indústria que teve que se virar para sobreviver.

Foram naqueles meses que a WarnerMedia, sob a direção de Jason Kilar, adotou a estratégia de lançar todos os seus filmes simultaneamente nos cinemas e na HBO Max, para alimentar o crescimento da plataforma (a mesma estratégia que deixou Christopher Nolan tão irritado que o fez romper seu relacionamento com estúdio). O streaming era visto como a salvação, se não o futuro da indústria.

Muita coisa mudou desde então. Para começar, em 2021, a WarnerMedia foi desmembrada do conglomerado AT&T para se fundir com a Discovery, Inc. A empresa resultante, a Warner Bros. Discovery, substituiu Kilar por David Zaslav, que tem uma visão radicalmente diferente.

É tudo culpa da Netflix… e do Tom Cruise

A direção tomada por Zaslav tem a ver, ainda que tangencialmente, com a Netflix, liderando a “guerra do streaming”. É um fato conhecido que 2022 não foi bom para a empresa pioneira, fundada por Reed Hastings. Até agora este ano, a “gigante do streaming” perdeu mais de um milhão de assinantes, despencando o valor de suas ações.

Aos olhos dos executivos dos grandes conglomerados de mídia, se a Netflix está sofrendo, o futuro do streaming pode não ser tão brilhante. Lançamentos simultâneos podem ter sido uma medida provisória, mas os últimos meses mostraram que o negócio real ainda está nos cinemas.

Top Gun: Maverick mostrou que os cinemas ainda são valiosos.
Top Gun: Maverick mostrou que os cinemas ainda são valiosos (Crédito: Divulgação/Paramount Pictures)

O caso mais emblemático é o de ‘Top Gun: Maverick’. Em vez de enviar o filme, estrelado e produzido por Tom Cruise, para streaming, a Paramount Pictures adiou o lançamento pelo maior tempo possível. A aposta deu certo: até agora, é o longa de maior bilheteria do ano em todo o mundo (de longe), e sua estreia no streaming ainda está no horizonte.

Em um caso muito mais próximo de ‘Batgirl’, temos o de ‘Batman’, estrelado por Robert Pattinson. A produção foi lançada com uma nova estratégia, primeiro com uma janela de exclusividade de 45 dias nos cinemas, antes de chegar na HBO Max. É, até o momento, o quarto filme mais bem-sucedido do ano.

A performance nos cinemas, porém, não afetou os resultados do streaming, pois foi visto muito mais na plataforma do que nas estreias simultâneas. E ainda continua sendo um dos longas mais assistidos na HBO Max.

Enquanto isso, a aposta cinematográfica mais cara da Netflix até hoje, ‘Agente Oculto’, teve que lutar para manter sua relevância no imaginário coletivo. Com um custo de produção de 200 milhões de dólares, o filme foi mal recebido pela crítica e já começa a descer na lista de popularidade da plataforma.

'Agente Oculto' é o filme mais caro da Netflix até hoje. Se o custo vale o benefício, ainda não se sabe.
‘Agente Oculto’ é o filme mais caro da Netflix até hoje. Se o custo vale o benefício, ainda não se sabe (Crédito: Divulgação/Netflix)

Conclusão: para os grandes estúdios, o verdadeiro campo de batalha pela cobiçada relevância cultural continua na tela grande. E na tela grande eles vão investir.

‘Batgirl’: Dano colateral do mercado

Mas por que cancelar o lançamento de um filme praticamente finalizado? Resposta curta: a Warner Bros. Discovery está apostando novamente nos grandes “filmes-evento” (como ‘Batman’ e ‘Top Gun’), e ‘Batgirl’ não era isso.

A solução teria sido aumentar o orçamento de ‘Batgirl’ e ‘Scoob! The Holiday Haunt’ para calibres de grande sucesso cinematográfico (além de algo semelhante para marketing e publicidade). No final, era mais barato simplesmente desistir de ambos os longas.

A outra razão é que, em ‘Batgirl’, apareceriam personagens que também participariam de filmes maiores. O caso mais importante: o do clássico Batman interpretado por Michael Keaton, que também aparecerá no aguardado (e bem mais caro) ‘Flash’, com Ezra Miller. Independentemente do que aconteça com o longa conturbado (o estúdio ainda não decidiu o que fazer com ele diante dos escândalos de seu protagonista), este é um cartucho que a Warner Bros. Discovery prefere queimar com uma produção maior.

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Parece que a Warner Bros. Discovery quer reservar o retorno de Michael Keaton como Batman para Flash (Crédito: Divulgação/Warner Bros.)

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Tudo, no final das contas, é resultado de uma manobra de “contabilidade de compras”. Trata-se de revisar os ativos e passivos de uma empresa quando ela muda de gestão e permite que o novo proprietário não reflita em possíveis perdas em seus balanços (a Warner Bros. Discovery enfrenta atualmente dívidas de três bilhões de dólares). Em outras palavras: uma forma de reduzir impostos.

O que, nas entrelinhas, é dizer que os executivos da empresa não tinham tanta fé na Batgirl afinal. Ou, pelo menos, eles sentiram que seu orçamento de produção não valia seus lucros potenciais, então a decisão mais barata foi não lançá-lo.

Mas se a campanha #ReleaseTheSnyderCut nos ensinou alguma coisa, é nunca dizer nunca. A Warner Bros. Discovery deve garantir que o filme nunca seja visto pelo público, justamente para reduzir os custos fiscais.

‘Batgirl’ seria estrelado por Leslie Grace, com Michael Keaton como Batman, J.K. Simmons como Comissário Gordon (dos filmes de Zack Snyder) e Brendan Fraser como o vilão Ted Carson, também conhecido como Firefly. Com direção de Adil El Arbi e Bilall Fallah (‘Bad Boys Para Sempre’) e escrito por Christina Hodson (‘Aves de Rapina’), o filme chegaria na HBO Max ainda neste ano.

Publicado primeiro na edição mexicana do Filmelier News.

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