Apenas 23% das diretoras de cinema na Europa são mulheres, diz estudo
Não é surpresa para ninguém que o cinema, assim como em tantos outros mercados, possui desigualdade de gênero. Na Europa, por exemplo, as diretoras mulheres representam apenas 23% da indústria cinematográfica. É o que aponta mostra o estudo publicado terça-feira, 11, pelo Observatório Europeu do Audiovisual (EAO).
Isso significa que, apesar das promessas de festivais, órgãos de financiamento e associações da indústria de trabalhar para diminuir a diferença essa disparidade, menos de um em cada quatro diretores são mulheres, segundo um recente relatório da indústria.
De acordo com a pesquisa, feita com equipes de longas-metragens europeus produzidos e lançados entre 2016 e 2020, os homens constituem 77% dos cargos de direção. Além disso, elas representavam pouco mais de um terço (33%) dos produtores e pouco menos de um terço (27%) dos roteiristas,
A diferença de gênero é mais evidente entre os diretores de fotografia e compositores de filmes, onde as mulheres representam apenas 9% e 10%, respectivamente, dos profissionais ativos. Mesmo na tela, há um desequilíbrio significativo: apenas 39% dos papéis principais em produções europeias são empenhados por atrizes nos últimos cinco anos.
O gênero que tem mais representantes femininas é no documental, as mulheres compõem 29% dos diretores. Em comparação com ficção, que o percentual é de 19%, e animação, 16%. Mesmo com os esforços públicos na Europa para alcançar a paridade 50/50 entre os cineastas, os números do relatório são preocupantes. Os dados devem dar munição aos que pedem por equidade, incluindo cotas de gênero para financiamento de futuras produções. Muitos dos filmes europeus mais aclamados de 2021 foram dirigidos por mulheres, como o vencedor da Palma de Ouro de Julia Ducournau, ‘Titane’, o candidato alemão ao Oscar de Maria Schrader, ‘O Homem Ideal’, e o drama sobre aborto de Audrey Diwan, ‘Happening’, que ganhou o Leão de Ouro de melhor filme no Festival de Cinema de Veneza Outro premiado título é ‘Quo Vadis, Aida?’, um olhar com foco feminino no massacre de Srebrenica da diretora da Bósnia Jasmila Žbanić. O longa ganhou os prêmios de melhor filme, melhor diretor e melhor atriz (para Jasna Đuričić) no European Film Awards de 2021.
Na primeira semana de janeiro, o Centro para o Estudo das Mulheres na Televisão publicou no mais recente Celluloid Ceiling Report os dados da participação feminina no cinema. Enquanto 2020 bateu recordes históricos para a inclusão nos filmes de maior bilheteria, o ano que passou deixou a desejar. Apenas 12% das 100 produções de maior bilheteria de 2021 nos Estados Unidos foram dirigidos por mulheres, em vista dos 16% em 2020. Quando a lista aumenta para 250 longas, o percentual sobre para 17%, ante 18% em 2020. Ou seja, mais de 80% dos filmes foram comandados por homens, constata o estudo. Entre as principais funções nos bastidores, as mulheres ocuparam 21% dos empregos entre os 100 filmes principais (mesmo em 2020) e 25% entre os 250 principais, um pequeno aumento em relação aos 23% de 2020 – graças ao crescimento da proporção de produtoras (de 30% para 32%) e produtoras executivas (de 21% para 26%). Por outro lado, a proporção de escritoras (17%), editoras (22%) e cineastas (6%) permaneceu estável. A maioria, cerca de 61%, das produções de 2021 empregava não mais do que quatro mulheres nessas posições, enquanto 72% dos filmes tinham pelo menos 10 homens nos empregos. Apenas 8% tiveram esse número de mulheres trabalhando nesses papéis-chave. Como parte dessas funções eram administrados por equipes mistas, há outra maneira de ver a liderança feminina entre os 250 principais filmes de 2021: 82% deles não tinham diretoras, 72% não eram escritoras, 94% não eram cineastas e 73% não tinham editoras.
Como citamos acima, o ano passado também foi bastante representativo com as vitórias de Chlóe Zhao por ‘Nomadland’. O filme foi vencedor de dois Globos de Ouro, melhor direção e filme dramático, quatro BAFTAs, melhor direção, filme, atriz e fotografia, e três Oscars, melhor direção, filme e atriz, para Frances McDormand – terceiro de sua carreira. Apesar de todas essas conquistas, os números mais recentes do mercado cinematográfico continuam mostrando que as mulheres não representam sequer 50% da indústria. E estamos analisando estudos dos Estados Unidos e Europa, onde o investimento é maior no cinema. Com o contexto citado acima, se tratando do circuito europeu, grande parte dos principais festivais de cinema se comprometeram a paridade de gênero – prometendo tentar alcançar um equilíbrio 50/50 entre diretores masculinos e femininos para filmes em suas seleções oficiais.
Jornalista de cultura e entretenimento. Já passou pelo Papelpop, UOL e Revista Claudia escrevendo sobre beleza, moda, cinema, música e TV, e também trabalhou com produção na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Foi redatora do Filmelier.