Com ‘Nomadland’ e ‘Eternos’, Chloé Zhao se consolida para além do cinema independente Com ‘Nomadland’ e ‘Eternos’, Chloé Zhao se consolida para além do cinema independente

Com ‘Nomadland’ e ‘Eternos’, Chloé Zhao se consolida para além do cinema independente

Cineasta, que começou a carreira com os independentes ‘Songs My Brothers Taught Me’ e ‘Domando o Destino’, ganha o espaço merecido em Hollywood

3 de novembro de 2021 11:07
- Atualizado em 4 de novembro de 2021 11:20

Pode-se dizer que, até 2019, Chloé Zhao era uma cineasta de nicho. Ainda que com alguns prêmios abrilhantando a carreira, seu nome era majoritariamente associado ao cinema independente, longe das grandes produções, e fazendo barulho entre um público bem específico. No entanto, a partir de 2020, tudo mudou.

Primeiramente, Zhao lançou nos cinemas o emocionante ‘Nomadland‘, longa-metragem protagonizado por Frances McDormand (‘Três Anúncios para um Crime’). Caiu nas graças de público e crítica, com uma história que fala sobre as pessoas que vivem sem endereço nos Estados Unidos. Foi o grande vencedor do Oscar de 2021.

Agora, ela é a diretora por trás de ‘Eternos’, novo longa-metragem da Marvel com um elenco que conta com nomes como Angelina Jolie, Richard Madden e Kit Harington. Assim, depois de anos se consolidando no cinema independente dos Estados Unidos, Zhao chega ao blockbuster.

Chloé Zhao em Nomadland
A cineasta Chloé Zhao e a atriz Frances McDormand nos bastidores de ‘Nomadland’ (Crédito: Divulgação/20th Century Studios)

😱 Quer mais filmes de drama para assistir nos cinemas ou no streaming? Confira aqui!

História de Chloé Zhao

No entanto, sua jornada vem muito antes dela se tornar um nome conhecido no meio cinéfilo, é claro. Nascida com o nome de Zhao Ting em Pequim, na China, Chloé Zhao não teve grandes influências artísticas: o pai era executivo em uma siderúrgica e a mãe trabalhava em um hospital. Só a madrasta que era uma famosa comediante de TV.

Publicidade

As influências culturais na vida de Zhao chegaram com mais força na adolescência, quando ela vai para um internato em Londres — é lá, por exemplo, que ela começa a ter mais contato com mangás, música pop e o cinema de Wong Kar-Wai, em quem se inspira. Este, porém, foi um momento de extrema indecisão de como prosseguir na carreira.

Zhao, assim, acaba se mudando para Los Angeles para terminar o Ensino Médio. Depois, do outro lado dos Estados Unidos, ela começa a estudar ciência política na Universidade Mount Holyoke, em Massachusetts. E é no meio desse processo, enquanto também trabalhava fazendo bicos como bartender, que Zhao compreende sua paixão pelo cinema.

Estreia nos cinemas

Entre 2008 e 2011, Zhao dirigiu quatro curtas: ‘Post’, ‘The Atlas Mountains’, ‘Daughters’ e ‘Benachin’ — todos eles sem distribuição no Brasil. Ainda que nenhum dos quatro títulos tenha passado por circuitos ou festivais, acabou sendo o primeiro contato da cineasta com a sétima arte e, principalmente, um cartão de entrada para projetos mais ousados.

O primeiro longa-metragem da cineasta veio em 2015 com ‘Songs My Brothers Taught Me’, novamente sem distribuição no nosso país. Singelo, mas com toda a força e naturalidade que viríamos a conhecer em projetos futuros, o filme acompanha a história de Johnny e Joshuan, que vivem na reserva indígena de Pine Ridge, no estado de Dakota do Sul.

Foi um acerto, com exibições em festivais como os de Cannes e Sundance. Além disso, foi indicado em algumas das maiores premiações do cinema, como o Spirit e Gotham Awards — onde ganhou a estatueta de diretora em destaque. Além disso, Zhao fortaleceu sua linguagem usando não-atores e escrevendo cenas no dia das gravações para incorporar histórias que ouvia no local.

Logo depois, recebeu o sinal verde para ‘Domando o Destino’ (ou, no título original, apenas ‘The Rider’). Mais uma vez visitante a região árida dos Estados Unidos, como viria a ser o cenário de todos seus filmes, o longa-metragem emociona com a tocante história de Brady Blackburn, um jovem domador de cavalos que sofre um grave acidente.

Longa-metragem ‘Domando o Destino’ afinou ainda mais o estilo da cineasta (Crédito: Divulgação/Sony Pictures Classics)

Repetiu a passagem pelo Festival de Cannes e as indicações ao Spirit. No entanto, no Gotham Awards, se consolidou de vez ao levar o prêmio de Melhor Filme. Desta vez, ficou ainda mais na mira da crítica e do mercado de Hollywood.

Aqui, assim, ela consolida de vez sua visão para fazer cinema. Seja a ambientação ou a forma de tratar os personagens, sempre com um pé mais forte na realidade. Os dois filmes e os curtas foram a área de experimentação de Zhao.

Sucesso de Chloé Zhao

A carreira da realizadora estava se consolidando no cinema independente quando ela começou a filmar ‘Nomadland’, em 2018. Zhao não imaginaria as mudanças que a história traria para sua vida. O longa é estrelado por Frances McDormand e David Strathairn, primeiros atores profissionais com quem ela trabalhou. McDormand, ganhadora de dois prêmios Oscar na época – e viria a ganhar o terceiro justamente por ‘Nomadland’.

Na trama, acompanhamos a personagem de McDormand, Fern, em sua jornada como uma nômade moderna pelas estradas do interior dos EUA, lidando com os reflexos da crise econômica. O filme, premiado em diversos festivais como Toronto e Veneza, fez o mundo conhecer Chloé Zhao.

‘Nomadland’ foi o grande sucesso das grandes premiações de Hollywood também: vencedor de dois Globos de Ouro, melhor direção e filme dramático, quatro BAFTAs, melhor direção, filme, atriz e fotografia, e três Oscars, melhor direção, filme e atriz, para Frances McDormand – terceiro de sua carreira.

No mesmo ano em que o filme foi rodado – apesar de só ter sido lançado em 2020 – Zhao foi anunciada como diretora de ‘Eternos’. Nesse meio tempo veio a pandemia da covid 19, que prejudicou muito o mercado cinematográfico e o longa da Marvel Studios só chegou as cinemas agora, em 2021.

Futuro

Chloé Zhao fez história, não só se tornando a segunda mulher da história a ganhar um Oscar de Melhor Direção, como se tornou a primeira chinesa a conquistar o prêmio – também levando o Globo de Ouro e o BAFTA. Além disso, ela também assumiu a direção de um dos longas mais ousados no Universo Cinematográfico Marvel (MCU).

Em ‘Eternos’, a diretora assume seu projeto mais popular e arriscado, pois ele longe do padrão filme de herói que estamos acostumados. Se ‘Logan‘ mostrou que esse tipo de produção pode ser mais emotiva, Zhao leva para este algo e traz algo ainda mais poderoso, a inclusão, que demorou para bater na porta do estúdio.

Angelina Jolie em ‘Eternos’ (Crédito: Divulgação/Disney)

A história segue uma raça de seres imortais, os Eternos, que vivem na Terra há milhares de anos, moldando as civilizações enquanto batalhavam contra os malignos Deviantes. Essa trama parece bem lugar comum, mas seu desenvolvimento vai além disso, dando início a uma nova fase no MCU.

Chloé Zhao mostra em ‘Eternos’ que é capaz de dirigir um grande elenco – formado por Angelina Jolie, Richard Madden, Salma Hayek, Kit Harrington e Gemma Chan – e não perder sua identidade no cinema de autor. Além da diversidade étnica, a produção traz a temática LGTBQIA+ pela primeira vez ao mundo da Marvel nos cinemas e também a inclusão de deficientes auditivos – uma das heroínas é deficiente auditiva e em nenhum momento ela perde sua magnitude e poder por conta disso.

Com a projeção de ‘Nomadland’ e de ‘Eternos’, é bem provável que o nome de Chloé Zhao se torne ainda maior em Hollywood. Que seja assim!

Siga o Filmelier no FacebookTwitterInstagram e TikTok.