Crítica: ‘A Noite das Bruxas’ é o melhor filme com Poirot de Kenneth Branagh Crítica: ‘A Noite das Bruxas’ é o melhor filme com Poirot de Kenneth Branagh

Crítica: ‘A Noite das Bruxas’ é o melhor filme com Poirot de Kenneth Branagh

Com um toque sobrenatural, ‘A Noite das Bruxas’ é uma melhoria significativa em relação aos seus predecessores

Lalo Ortega   |  
14 de setembro de 2023 13:46

Os mistérios de assassinato, ou os chamados “whodunit”, podem ser considerados um dos gêneros narrativos menos cinematográficos na tela grande. Ao girar em torno da resolução lógica de um enigma, eles tendem a recorrer ao abuso do diálogo explicativo em vez de permitir que a imagem e a ação façam o trabalho. A Noite das Bruxas, que estreia nos cinemas do Brasil em 14 de setembro, consegue evitar esse vício… na medida do possível.

Porque, afinal, a própria essência do gênero exige priorizar a surpresa e a explicação eventual sobre a tensão narrativa sustentada por recursos visuais (nos melhores casos, caem em uma engenhosa, mas repetitiva auto-referencialidade).

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No entanto, esta nova entrada na série de Hercule Poirot, estrelada e dirigida por Kenneth Branagh (Belfast) e inspirada no livro A Noite das Bruxas, de Agatha Christie, consegue ser uma melhoria significativa em relação aos seus predecessores irregulares. Isso é feito pela adição de ingredientes melhores e mais refinados dentro dos limites de sua fórmula.

A Noite das Bruxas: entre whodunit e história de terror

Em 1947, Hercule Poirot (Branagh) se retira para Veneza, finalmente se aposentando do trabalho de detetive. No entanto, apesar de seus melhores esforços, ele é encontrado por uma velha amiga: a romancista de mistério Ariadne Oliver (Tina Fey), cujas obras foram inspiradas por Poirot e contribuíram para sua fama.

Embora intelectual e cética como ele, Oliver confia a Poirot sua intriga sobre Joyce Reynolds (Michelle Yeoh, de Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo), uma famosa médium que se diz capaz de falar com os mortos. A suposta psíquica fará uma aparição em uma festa de Halloween organizada por Rowena Drake (Kelly Reilly), uma prestigiosa cantora de ópera que recentemente perdeu sua filha. O par decide comparecer.

A Noite das Bruxas implementa elementos como médiuns, sessões espíritas e… fantasmas? (Crédito: 20th Century Studios)

No palácio em ruínas onde Drake reside, conhecemos os personagens eventualmente envolvidos no caso. Até aqui, A Noite das Bruxas é um whodunit clássico: uma tempestade prende o grupo na residência e, naturalmente, ocorre um assassinato cujo autor e motivo Poirot deve desvendar durante a noite.

O interessante é que, devido à suposta natureza do caso e ao envolvimento da médium, há outro elemento em jogo: o sobrenatural e o ceticismo de Poirot em relação a esse mundo. Embora, inicialmente, o detetive esteja confiante de que há uma explicação lógica para tudo, o roteiro de Michael Green (Logan, Blade Runner 2049) o coloca – e a nós como público – na posição de duvidar dos eventos e dos sentidos.

Assim, A Noite das Bruxas nos confronta com um duplo mistério: por um lado, o próprio assassinato. Mas, por outro lado, também temos Poirot enfrentando a dúvida existencial sobre o que pode ou não ser verdade.

Isso, por si só, o torna um personagem mais interessante desde o início. O primeiro filme da franquia, Assassinato no Expresso Oriente, apresenta uma evolução do personagem no desfecho, que muda sua concepção do bem e do mal. Ele fica estagnado em Morte no Nilo, que, além de um vislumbre de seu passado no início, fica limitado a resolver o mistério (e um muito desajeitado), mas pouco mais.

Em A Noite das Bruxas, vemos Poirot se questionando. E, mais importante ainda, o vemos com medo.

Menos é mais

O outro fator-chave é que, como diretor, Branagh parece ter um melhor domínio do espaço e da linguagem. Enquanto nos dois filmes anteriores tinha uma variedade um pouco mais ampla de locais para explorar, em A Noite das Bruxas, ele está restrito à pequena e sombria mansão de Rowena Drake.

O elenco de A Noite das Bruxas é mais austero nos nomes, mas assim como o espaço, é mais bem aproveitado (Crédito: 20th Century Studios)

Assim, o diretor se permite experimentar mais com planos fechados e sombras que constroem uma atmosfera psicológica densa, própria do gênero de terror. Sem a possibilidade de descansar os olhos nas cordilheiras europeias ou nas paisagens suntuosas do Nilo, Branagh deve se virar com um punhado de cômodos para prender seus personagens e, ao mesmo tempo, manter uma narrativa lógica.

Essa austeridade funciona bem. Sem a possibilidade de extravagantes planos sequenciais (usados ​​desnecessariamente e desajeitadamente em Assassinato no Expresso Oriente, por exemplo), a fotografia de Haris Zambarloukos (um cinematógrafo familiar de Branagh) aposta na simplicidade e na elegância.

O resultado é, facilmente, o melhor da saga de Poirot de Branagh. Mesmo dentro dos limites narrativos do “whodunit”, é um trabalho cuidadoso, elegante e envolvente que pode satisfazer tanto os fãs de mistério quanto os amantes de sustos para o Halloween.

A Noite das Bruxas estreia nos cinemas brasileiros em 14 de setembro.

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