Crítica: 'Barbie' decepciona com filme que não encontra seu caminho no roteiro
Longa-metragem tem muita coisa a dizer, mas poucas delas realmente funcionam dentro da história
Se até no mundo perfeito de "Barbieland" existem figuras como Allan e a Barbie Grávida, o que impediria do mundo real ter aqueles que amam e os que detestam Barbie? O novo filme de Greta Gerwig, que estreia nesta quinta-feira, 20 de julho, conseguiu reunir opiniões bem diferentes aqui no Filmelier: eu saí do filme com uma opinião morna, bem próximo de detestar o resultado; já a redatora e estrategista de conteúdo Vitória Pratini amou, como você pode ler aqui.
Por que, então, não deixar que cada um mostre seus argumentos e deixe que você, leitor, entenda os prós e contras de Barbie? Abaixo, você confere os exatos motivos que me fizeram achar Barbie um filme morno, no melhor dos cenários.
Por que não gostei de Barbie?
Barbie, a meu ver, está bastante longe de ser um filme horroroso ou algo do tipo. A cineasta Greta Gerwig (dos ótimos Lady Bird, Adoráveis Mulheres) sabe como construir esse cenário distópico da “Barbieland” e brinca com a imaginação do público. Mais do que isso: o elenco está bem em cena, principalmente Ryan Gosling e Margot Robbie.
Veja: ‘Barbenheimer’: tudo que você precisa saber sobre a maratona de ‘Barbie’ e ‘Oppenheimer’
O que me incomodou foi, quase que exclusivamente, o roteiro de Gerwig e de seu marido, o cineasta Noah Baumbach (História de um Casamento). Ainda que tenha uma história bem definida, da Barbie (Robbie) indo ao mundo real, ao lado do Ken (Gosling), para encontrar sua dona e ser consertada, a sensação é que Barbie não sabe seu caminho.
O filme traz uma série de discursos prontos, que são válidos, mas que são jogados a esmo na história. É a crítica ao patriarcado, a insistência em colocar mulheres em padrões pré-definidos, a constatação do absurdo que é o mansplaining e por aí vai. Pautas contemporâneas absolutamente necessárias, que fazem sentido ao pensar na história da boneca mais vendida do mundo, mas que são apenas derramadas em um roteiro frio e pouco maleável.
Muito barulho por (quase) nada
Curiosamente, é uma sensação parecida que nasceu a partir da experiência (pouco agradável) de assistir a I Wanna Dance With Somebody, a fraquíssima cinebiografia sobre Whitney Houston. As pautas sobre a vida da cantora eram apenas elencadas uma após a outra, sem naturalidade, como se fosse uma longa linha do tempo. Em Barbie, parece que Greta Gerwig selecionou uma série de assuntos e foi ticando conforme conseguia encaixar no roteiro.
Com isso, quando se aproxima do final, o longa-metragem começa a se complicar para encerrar todas as suas histórias. Há a narrativa de aceitação da boneca (que é deixada de lado por um tempo e depois volta para fechar o filme), a história curiosa envolvendo o Ken (e que rende a melhor cena do filme, com America Ferrera), a jornada dos executivos da Mattel (encabeçada por um hilário Will Ferrell, com uma cena absolutamente divertida). Coisa demais.
Além disso, há de se destacar que muitas piadas realmente funcionam e me fizeram dar boas gargalhadas, mas algumas outras realmente não funcionam. Oras, em vários momentos, a Mattel faz piada sobre a empresa estar lucrando com o feminismo da boneca. E quem vai lucrar em um filme sobre a Barbie, justamente levantando pautas tão relevantes? Já deu de empresas zoando empresas. Não tem mais graça nenhuma. São elas que saem ganhando.
Enfim: não vejo problemas de quem gosta, muito menos de quem ama o filme. É, enfim, um filme. Há quem ame, há quem odeie. O fato é que, por aqui, não funcionou: muita conversa e pouco cinema. Quem diria: na briga do ano entre Nolan e Greta Gerwig, acabei ficando do lado da história que poucos estavam apostando suas fichas.
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Jornalista especializado em cultura, gastronomia e tecnologia, cobrindo essas áreas desde 2015 em veículos como Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites. Já participou de júris de festivais e hoje é membro votante da On-line Film Critics Society. Hoje, é editor do Filmelier.
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