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Crítica: ‘Indiana Jones e a Relíquia do Destino’ é filme perdido no tempo

Uma das primeiras cenas de Indiana Jones e a Relíquia do Destino, depois de uma sequência recheada de efeitos especiais em um trem nazista, traz Indiana Jones de um jeito que nunca imaginamos ver antes. O personagem, interpretado pela quinta vez por Harrison Ford, está cansado, envelhecido e, em um mundo de olho nas conquistas espaciais, tem pouca importância quando fala sobre as lembranças de suas aventuras. Indy não é mais o mesmo e esse é o ótimo ponto de partida do longa-metragem, estreia desta quinta-feira, 29.

Dirigido por James Mangold (Logan), que assume a batuta da direção depois de quatro filmes comandados por Steven Spielberg, o filme logo insere uma boa dose de aventura, como esperamos em uma história de Indiana Jones, quando a afilhada (Phoebe Waller-Bridge, de Fleabag) surge em busca de um artefato raríssimo. É aí que o passado volta, representado principalmente na figura do nazista Dr. Voller (Mads Mikkelsen). 

Indiana Jones e a Relíquia do Destino é um bom filme?

Vendido como a “última aventura de Indiana Jones”, o longa se equilibra em uma corda complicada entre passado, presente e futuro. Afinal, o roteiro de Mangold, Jez Butterworth (No Limite do Amanhã), John-Henry Butterworth (Ford vs Ferrari) e David Koepp (Jurassic Park) precisa trazer a nostalgia do passado, com tudo aquilo que aprendemos a amar na franquia; um bom filme para o presente; e, enfim, os passos para o futuro da franquia – afinal, é em cima de direitos autorais que a Walt Disney trabalha nos últimos tempos.
Indiana Jones está mais velho e cansado, mas ainda em busca de aventuras (Crédito: Disney)

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E é nessa corda-bamba que as coisas ficam mais complicadas e instáveis. O filme lembra aquela foto de Jânio Quadros, com os pés trocados, indo para frente e para trás: ele mira o que vem por aí, principalmente com Waller-Bridge e a direção inédita de Mangold, mas o passado é mais forte. É como um imã atraindo a história e os personagens o tempo todo. E Mangold, apesar dos bons resultados que já apresentou em Logan e Ford vs Ferrari, não é Spielberg. A aventura, que é o ponto alto de Indiana Jones, parece apenas uma lembrança. Afinal, o cineasta tenta o tempo todo emular aquilo que já fez sucesso em algum momento, como as aventuras aleatórias no Marrocos – e o surgimento de um personagem-mirim que em nada acrescenta em toda a história – e as chicotadas que hoje já não fazem sentido com armas de fogo. Olhando para as cenas de ação e aventura de filmes mais recentes que fizeram sucesso nesses gêneros, como Top Gun: Maverick e Avatar: O Caminho da Água, tudo aqui não traz originalidade e frescor, apenas repetições de algo que já vimos por aí. Pelo menos o elenco está entrosado e se diverte. Harrison Ford, que já tinha emocionado o público dos cinemas voltando ao papel de Han Solo em Star Wars: O Despertar da Força, mostra que continua tendo vigor aos 80 anos. Enquanto isso, Phoebe Waller-Bridge não tem nenhum grande momento da história, ficando sempre à sombra da própria jornada de Indy, sem nunca brilhar sozinha – ainda tem o tal menino, que ofusca ainda mais Phoebe.

Um filme na dobra do tempo

Na jornada de Indiana Jones neste quinto filme, a grande busca é pelo artefato mágico que, diz a lenda, tem a capacidade de fazer com que as pessoas viagem no tempo. E é o tempo o que estraga o longa-metragem: não só essa questão de ficar preso ao passado, mas também quando a viagem no tempo é tratada com mais profundidade no terceiro ato. Este último pedaço da história de Indiana Jones e a Relíquia do Destino é um verdadeiro caos.
Waller-Bridge é um bom acréscimo na historia — ainda que, infelizmente, fique mais apagada do que deveria (Crédito: Disney)
Ainda que haja algo de lúdico aqui, ampliando as chances de agradar as crianças, o final do longa-metragem traz algo de Doctor Who que fica completamente deslocado do que a franquia criada por George Lucas e Steven Spielberg trouxe para nós até aqui. É, de novo, o problema da corda-bamba do tempo, entre passado, presente e futuro: na ânsia de criar novos caminhos para Indiana Jones, Mangold acaba se arriscando no que não funciona. Fica a vontade de ver mais aquele Indiana Jones que aparece apenas por 10 ou 15 minutos, explorando a vida anônima de professor da universidade ou, então, andando de cavalo no metrô. São cenas bem mais empolgantes do que todo o restante que o filme nos apresenta. Indiana Jones e a Relíquia do Destino não é um filme ruim ou tampouco desastroso, mas falta coração. E esse é o maior pecado em uma franquia como essa. Afinal, apesar de tropeços em sua história, a franquia é sempre lembrada por ser uma aventura eficiente, que traz elementos da História embaladas com um personagem divertido, com uma trilha sonora que persegue Ford há anos. Aqui, há tentativas de emular tudo isso, mas com pouca eficiência. Pelo menos temos a trilogia clássica disponível, com um primeiro filme quase incorrigível, para mergulharmos no que há de melhor.

Indiana Jones e a Relíquia do Destino chega aos cinemas nesta quinta-feira, 29 de junho. Clique aqui para comprar ingressos.

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Matheus Mans

Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.

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