Exibido no TIFF, ‘Apples’ já é um dos filmes mais aguardados para 2021

O cinema grego está em alta. Afinal, mesmo rodeado de estranheza e abstratismos, o cineasta Yorgos Lanthimos acabou se tornando queridinho da comunidade cinéfila com filmes como ‘Dente Canino’, ‘O Lagosta‘ e o premiado ‘A Favorita‘. Agora, após transcender as fronteiras gregas, outro diretor segue os passos de seu mestre: é Christos Nikou, com ‘Apples‘.

O longa, que ainda não tem data de lançamento no circuito comercial dos cinemas brasileiros, é um dos destaques do Festival Internacional de Cinema de Toronto, que ocorre nesta semana na cidade canadense – e, para convidados, também no resto do mundo, via internet.

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Assistente de direção de Lanthimos em ‘Dente Canino’, Nikou não pensa duas vezes antes de seguir os mesmos caminhos de seu conterrâneo neste seu filme de estreia, selecionado para o Festival de Veneza e exibido em Toronto como parte do acordo entre os eventos nestes tempos de pandemia. Afinal, aqui, ele conta a história de um homem (Aris Servetalis) que se torna vítima de uma pandemia global de amnésia.

Assim, de uma hora pra outra, ele esquece quem é, o que faz, onde vive. Não tem mais personalidade. A partir desse momento, passa a depender do governo, que cria um programa de “nova identidade”. Nesse processo, ele precisa reaprender a viver. A socializar. Sai pelas ruas, faz amizades, entra em romances e, depois, tira foto com uma Polaroid para mostrar ao médico.

Em ‘Apples’, estranheza como motor da reflexão

Com essa premissa, aparentemente banal e simples, Nikou refaz os caminhos de Lanthimos em ‘Dente Canino’, filme que conta a história de três irmãos mantidos em casa pelo pai e educados como se o mundo exterior fosse um perigo. Aqui, em ‘Apples’, o caminho é parecido: este homem, de memória apagada, precisa entender de novo o que há por aí. Para isso, ouve diariamente instruções de um médico gravadas em uma fita. Muitas coisas inicialmente não fazem sentido para o personagem, como fazer sexo com uma mulher no banheiro de uma balada. Já outras o fazem sentir e se emocionar, como uma festa a fantasia onde ele encontra com outros amnésicos também tentando entender seu papel na sociedade.

No entanto, onde Lanthimos explica, Nikou cria um vácuo. Vazios narrativos surgem e provocam. E assim, com estranheza em cima de estranheza, somos instigados a nos imaginar naquela situação atípica — que, convenhamos, dialoga com a atual situação global de covid. E mais do que isso: apesar do filme se passar num mundo analógico, critica a tecnologia. Afinal, o próprio programa de ressocialização, que obriga o paciente amnésico a tirar fotos para comprovar que esteve ali, nos faz pensar sobre as fotos nas redes sociais. Será que estamos realmente nos divertindo?

Referências de ‘Apple’

Por fim, numa mistura de ‘Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças’ e ‘Dente Canino’, vemos esse homem embarcando numa nova vida. Busca entender os prazeres mundanos, compreender os relacionamentos e, assim, socializar para avançar com sua nova identidade. E é aí que surgem as principais perguntas do filme: socializamos por quem e para quem? ‘Apples’ reforça a presença do cinema grego, assim como sua originalidade. A partir de estranhezas, filmes como este colocam um espelho em nossas vidas. Nos vemos nos personagens e, assim, vemos incertezas, inseguranças. É um filme que promete fazer barulho durante a temporada de premiações. E Nikou, assim como Lanthimos, promete uma carreira brilhante. Siga o Filmelier no Facebook, Twitter e Instagram.