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‘Godzilla vs. Kong’: quase 90 anos de porradaria e crítica social

A briga entre o King Kong e o Godzilla não é nenhuma novidade no mundo cinematográfico. As duas feras já se encontraram no passado, mas agora – com o avanço dos efeitos visuais – a briga ficou ainda mais grandiosa.

Aproveitando a chegada de ‘Godzilla vs Kong’ aos cinemas brasileiros, relembramos aqui o passado deste dois monstros – incluindo o contexto em que os titãs foram criados e que houve espaço, sim, para muitas críticas sociais.

Godzilla

No cinema japonês, o Gojira – como é conhecido o gigantesco réptil no Japão – é famosíssimo e tem mais de 30 produções no currículo. Ele surgiu em 1954, em um filme que leva seu nome e foi produzido pela Toho, um dos estúdios mais conhecidos do país.

Cena de ‘Gojira’, filme japonês de 1954, que lançou o Godzilla ao estrelato (Foto: Reprodução/Toho Co., Ltd.)
Criado pelas mentes do produtor Tomoyuki Tanaka, do diretor Ishirō Honda e do mago dos efeitos Eiji Tsuburaya, a principal inspiração foram as armas nucleares. O monstro, no roteiro, é o fruto de uma explosão nuclear: as bombas atômicas lançadas em Hiroshima e Nagasaki acabam criando o Godzilla.

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É uma forte simbologia ao que a Segunda Guerra Mundial gerou no Japão e uma crítica a quem causou o estrago e ao imperialismo. A criatura é um réptil gigantesco e com poderes – em uma representação que varia um pouco em cada filme, mas a essência é quase sempre a mesma. Nos Estados Unidos, o monstro (ou, como chamam os japoneses, o kaiju) fez a sua estreia em 1956, no longa ‘Godzilla, O Monstro do Mar’ (no original, ‘Godzilla, King of the Monsters!’) – que é, na realidade, uma “americanização” do filme lançado dois anos antes. A produção mantém as cenas de ação da versão original, mas adiciona novos trechos, com atores americanos, modificando a história. O protagonista passa a ser o jornalista Steve Martin, interpretado por Raymond Burr. Boa parte da crítica social fica de fora, mas o filme introduziu o Godzilla para o público ocidental e se tornou um sucesso cult. Ainda no ocidente, os filmes japoneses seguintes seriam bastante editados para o lançamento nos cinemas.
A versão de Hollywood do Godzilla (Foto: Reprodução/TriStar Pictures)
Uma versão totalmente americana surgiu apenas em 1998. Em ‘Godzilla’, dirigido por Roland Emmerich (de ‘Independence Day’), o monstro e a sua história são bem modificados – o kaiju é bem parecido com um tiranossauro rex que ataca Nova York -, focando muito mais no espetáculo e pouco na história.

King Kong

O gorilão tem mais de 10 filmes, e tudo começou em 1933 com o clássico ‘King Kong’, dirigido por Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack. Sim, se você ainda não sabia, quem nasceu primeiro foi o Kong, há quase 90 anos. Na versão de 1933, a atriz Fay Wray dá vida à donzela em perigo, que ia se tornar um sacrifício pelo nativos da ilha em que Kong era o rei – não é a toa que a tradução do nome dele é Rei Kong. Quem salva a mocinha é logo o primata, que acaba se encantando por ela.
O rei Kong sendo explorado pelos norte-americanos no filme de 1976 (Foto: Reprodução/Paramount Pictures)
Se você acha que o King Kong está longe de críticas sociais, está enganado. O gorila gigante na história se mostra como um ser humanizado, enquanto os homens exercem seu lado animalesco. E tem também a questão da exploração do símio, visando o lucro que ele daria se fosse exibido em uma metrópole. Tudo isso nos faz novamente lembrar do imperialismo, agora com a inserção de críticas mais claras ao capitalismo. King Kong foi levado da Ilha da Caveira para se tornar um objeto de exploração do “colonizador”. A produção de 1933 ganhou um remake de muito sucesso nos anos 1970, que contou com Jeff Bridges no elenco e lançou Jessica Lange. Foi o primeiro filme da atriz, que ganhou o Globo de Ouro de Melhor Nova Estrela. Um nova refilmagem foi feita em 2005, assinada por Peter Jackson e muito mais próximo ao longa original, mas o efeito com o público não foi o mesmo – ainda que tenha sido elogiada pela crítica, além de vencer vários prêmios.

Godzilla vs. Kong

Eis que em 2014 somos introduzidos ao MonsterVerse – nome dado ao universo de monstros da Legendary Pictures com a Warner Bros. – com a nova versão norte-americana de ‘Godzilla’, que ganharia força depois com ‘Kong: A Ilha da Caveira’ (2017). Os dois filmes preparam o território para ‘Godzilla II: Rei dos Monstros’ e para o atual lançamento.
‘King Kong vs Godzilla’ é o terceiro filme da franquia dos estúdios Toho (Foto: Reprodução/Toho Co., Ltd.)
‘Godzilla vs. Kong’ é o 36º longa do Godzilla e o 12º do King Kong, mas esse duelo já foi encenado em 1962 em ‘King Kong vs. Godzilla’ – sim, rolou uma inversão no título dos personagens. A versão raiz do filme, rodada antes do CGI, é feita com atores vestidos de monstros, maquetes e até mesmo polvos, que é como as coisas eram feitas naqueles tempos. Inclusive, o novo filme faz a devida referência ao encontro do Kong com a criatura do mar. No remake, acompanhamos a épica batalha entre os dois monstros e como ficam os humanos em meio disso. Na trama, os protetores do gorila querem encontrar o lar do símio e, para manter a fera sempre calma, eles contam a ajuda de uma garotinha que desenvolveu uma ligação com o animal.
O grande duelo entre Godzilla e King Kong está em cartaz nos cinemas brasileiros (Foto: Divulgação/Warner Bros. Pictures)
Novamente, vemos o Kong retratado como uma criatura sensível e, até certo ponto, humanizada. Se nos filmes antigos ele se apaixonava, dessa vez ele mostra que é capaz de desenvolver amizade e proteger quem está ao seu lado. Do outro lado do ringue, temos o Godzilla revoltado e o culpado disso é a Apex Cybernetics, uma empresa que está desenvolvendo uma arma para livrar os humanos dos seres monstruosos, conhecidos como titãs. Neste contexto, começa a briga entre os dois monstros e eles precisam decidir quem é o real inimigo. ‘Godzilla vs Kong’ está em cartaz nos cinemas brasileiros – clique aqui para saber mais.

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Raíssa Basílio

Jornalista de cultura e entretenimento. Já passou pelo Papelpop, UOL e Revista Claudia escrevendo sobre beleza, moda, cinema, música e TV, e também trabalhou com produção na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Foi redatora do Filmelier.

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