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Crítica: ‘Guardiões da Galáxia Vol. 3’ diverte e emociona, mas falta coragem

Se tem uma coisa que a franquia Guardiões da Galáxia tinha, pelo menos até agora, era coragem. Afinal, foi uma aposta no vazio da Marvel Studios, que lançou o primeiro longa-metragem, em 2015, um tanto quanto desacreditado. Muitas pessoas achavam que a história de não uma equipe com Chris Pratt, um guaxinim, uma árvore que quase não fala e uma mulher verde não ia pra frente. Mas erraram. O primeiro filme fez US$ 770 milhões de bilheteria, o segundo passou os US$ 860 milhões e, na próxima quinta-feira, 4, Guardiões da Galáxia Vol. 3 chega aos cinemas brasileiros.

Novamente dirigido por James Gunn, o filme é o encerramento — pelo menos na teoria — dos Guardiões nos cinemas. Curiosamente, porém, o foco não é Peter Quill, o líder do grupo vivido por Chris Pratt, mas Rocket, o guaxinim falante de Bradley Cooper. É ele que concentra toda a história ao seu redor quando o filme começa com Adam Warlock (Will Poulter), poderoso personagem da Marvel, que vai atrás do animal falante. Rocket é ferido e, então, o grupo precisará regressar às origens do guaxinim para salvá-lo – e, com isso, o público finalmente conhece a história de Rocket.

Guardiões da Galáxia Vol. 3 é o último filme da franquia?

Tudo indica que este é o fim da história dos Guardiões como conhecemos até agora — não apenas por decisão da Marvel Studios, mas também de Gunn e de boa parte do elenco. Publicamente, Dave Bautista (Drax), Zoe Saldana (Gamora) e Karen Gillan (Nebula) já falaram que não pretendem voltar para os seus personagens – Bautista, aliás, chegou a dizer à revista GQ que não reprisar o Drax é um alívio. “Não foi completamente agradável. Foi difícil interpretar esse personagem. O processo de maquiagem estava me derrubando. Eu simplesmente não sei se quero que o Drax seja meu legado. É uma performance boba e eu quero fazer coisas mais dramáticas”, disse o ator.
Peter e Gamora estão de volta — e com algumas outras criaturas a mais (Crédito: Marvel Studios)

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Além disso, há toda a história envolvendo Gunn, diretor, roteirista e principal mente criativa por trás de Guardiões nas telonas. Entre o segundo e o terceiro filmes, ele foi demitido pela Marvel Studios depois que usuários do Twitter desenterraram tuítes problemáticos de Gunn. A Marvel achou que era fim da linha. No entanto, o elenco se revoltou e boa parte dos atores disse que não voltaria aos seus papéis sem o diretor. A Marvel o contratou para o filme, mas, nesse ínterim, Gunn já havia sido cooptado pela “concorrente” DC para comandar o novo universo cinematográfico. Guardiões da Galáxia Vol. 3 é, assim, uma espécie de interlúdio entre O Esquadrão Suicida, primeiro trabalho da DC com a assinatura de Gunn, e esta nova fase do cineasta, comandando projetos de peso da Warner Bros. Discovery.

Mas Guardiões da Galáxia Vol. 3 é um bom filme?

Partindo do princípio que é uma despedida, Guardiões 3 é bastante emocional. A partir dessa união de todos os personagens do grupo ao redor do personagem ferido, Gunn trabalha elementos do roteiro para falar sobre amizade, família e a importância de existir pessoas que estão sempre ao seu lado. Além de uma quantidade razoável de minutos do longa-metragem, com suas 2h30, que é dedicada a, basicamente, criar uma distopia sobre testes de animais em laboratórios. É o ciclo completo da visão de James Gunn para esses personagens, conforme ele conta à Collider. “Foi muito importante para mim contar esta história porque foi isso que me levou a escrever o primeiro filme”, disse. “Eu meio que tive essa visão desse passado realmente horrível para esse animalzinho que foi levado como um animal, uma criaturinha inocente, e se transformou em algo que não deveria ser, dilacerado e remontado. Sua vida foi dolorosa e ele estava sozinho porque não há mais nada como ele. E então essa ideia estava lá desde o começo”. O filme está longe de ser perfeito ou, sequer, o melhor desta trilogia – fica evidente como é um trabalho para cumprir tarefas para muitos dos envolvidos, principalmente Gunn, Bautista e Saldana, que já estão cansados de suas funções. Isso acaba refletindo na falta de coração em muitas decisões criativas, como as músicas da trilha sonora, com quase nenhuma de destaque, e até mesmo nas interações em cena, menos virtuosas e sem aquele frescor que vimos nas outras duas produções e em outros filmes da Marvel Studios. Até Chris Pratt, sempre empolgado, está mais apagado.
A equipe toda está junta novamente uma última vez (Crédito: Marvel Studios)
Também falta coragem. Oras, Gunn “matou” Groot logo no primeiro filme, enquanto Yonlu se foi no segundo. Duas mortes inclementes. Aqui, há muito medo em acabar com ciclos de personagens. Talvez por conta de algo maior, com a Marvel Studios de olho em novas produções para o streaming? Talvez. Acredito que Gunn, neste momento, não teria paciência, nem vontade de bater o pé e exigir que algum personagem tivesse um destino diferente do que Kevin Feige, o chefão da Marvel, deseja. O cineasta agora já tem outras prioridades e a Marvel não é uma delas, obviamente. Outro ponto de atenção é que Guardiões da Galáxia Vol. 3 tenta resolver muitas coisas: a “nova” Gamora, o passado do Rocket, dá algumas pistas da vida de Drax, insere Adam Warlock, traz o Alto Evolucionário como o grande vilão, explica o que aconteceu com o personagem de Sylvester Stallone após uma brevíssima aparição… Muita coisa para concluir.

Uma conclusão emocionante

Ainda assim, Guardiões da Galáxia Vol. 3 consegue criar conexão. Não só por ser um dos últimos resquícios dessa Marvel que está ficando para trás, dando passagem para novos heróis, como também pela completa ausência de tentar fazer com que os heróis sejam mais do que são. Nada de multiverso, de coisas complicadas. São personagens à margem, como sempre foram, e que conquistam justamente por isso. São simples, estranhos e divertidos. É, sem dúvidas, uma das melhores coisas que a Marvel fez desde que Vingadores: Ultimato chegou aos cinemas. Falta mais coragem, que não é uma marca dos filmes da empresa, mas sobre uma trama com personagens queridos que desafiaram as piores previsões iniciais e fizeram sucesso. Fica a torcida para que, mesmo com um último filme com algumas passagens irregulares, a produção volte a inspirar a Marvel Studios a ir atrás de projetos mais ousados, que não navegam no mar da mesmice. As pessoas não estão cansadas dos heróis, mas da falta de criatividade.

Assista ao trailer de Guardiões da Galáxia Vol. 3:

Guardiões da Galáxia Vol. 3 estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 4. Compre ingressos aqui.

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Matheus Mans

Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.

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