‘Lamento’ mistura thriller e drama para falar sobre vício
Elder vive um vazio em sua vida. Dono de um hotel caindo aos pedaços, ele não encontra mais motivação na sua rotina, no trabalho. Não tem paixão no que faz. Desanimado, já entrando em um claro quadro depressivo, ele vê a situação se deteriorar ainda mais quando um de seus hóspedes começa a causar problemas com drogas. Elder entra numa espiral de vício e obsessão com esse homem, passando a enfrentar antigos fantasmas.
Essa é a história de ‘Lamento’, drama nacional que chegou aos cinemas na última quinta-feira, 26. Dirigido pela dupla Claudio Bitencourt e Diego Lopes, o longa-metragem impressiona principalmente pela atuação precisa de Marco Ricca (‘Canastra Suja’, ‘Chatô’). Intenso em cena, mas com uma introspecção que chama a atenção, seu personagem ajuda a contar com naturalidade essa história potente, chocante e até mesmo bizarra.
Marco Ricca é a alma de ‘Lamento’, filme que chegou aos cinemas (Crédito: Divulgação/Moro Filmes)“O Elder está em um momento de inércia; Não reage mais, deixando a vida levar ele, com o casamento e o hotel também sendo levados. Ele está à deriva do mundo”, explica Claudio Bitencourt, um dos cineastas que assina a direção de ‘Lamento’, ao Filmelier. “Nós jogamos coisas para cutucar ele, com o personagem reagindo a essas coisas. É interessante ver o Elder saindo desse estado de paralisia e tendo ações nem sempre tão boas”.
Ideia de ‘Lamento’
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Sem entrar em muitos detalhes, o diretor Diego Lopes conta que a ideia do filme partiu de uma experiência familiar própria com vício em álcool. Foi o ponto de partida, se valendo dessa similaridade, para criar a trajetória de Elder nos cinemas. Segundo ele, foram sete anos de desenvolvimento do filme até ele começar a sair do papel efetivamente em 2017, quando linhas de financiamento estavam mais claras e a produção começou a funcionar. No meio desse caminho, ainda procurou seu parceiro atrás das câmeras, Claudio Bitencourt. A dupla, que faz sua estreia com longas, já tem uma longa história com curtas, como ‘Menina Bonita do Laço de Fita’, ‘O Rio e Eu’ e ‘Miroca e Seu Cuco Caduco’. Conforme conta Claudio, apesar de ser o primeiro filme de longa-metragem dos dois, o processo seguiu o mesmo caminho de sempre, conforme ambos estão acostumados, sem distinções.
“O processo é sempre assim: alguém traz uma ideia, a gente discute e começamos a desenvolver. ‘Lamento’ foi esse mesmo processo. Foi um longo processo de sete anos, de reescrita, de roteiro, de desenvolvimento”, diz ele. “Mas nessa nossa parceria, abraçamos ideias que a gente acredita para criar algo bacana, diferente, para sair da nossa zona de conforto. Gosto dessa nossa experiência com um primeiro longa-metragem”.
Do drama ao suspense
Ao longo de quase duas horas de duração, ‘Lamento’ é daqueles filmes que passeiam por gêneros. Começa como um drama desse personagem com claros sinais depressivos, lutando contra o desânimo de seus dias. Depois, quando enfim começa sua obsessão pelo hóspede em um de seus quartos, o filme adota tons intensos. Sai o drama introspectivo e entra uma história com elementos de suspense e thriller para compor a trama. “A história é isso: uma pessoa enfrentando em seus demônios e que entra numa espiral ao fundo do poço. A gente usa esses elementos do gênero para estar alinhado ao que acontece com o personagem”, diz Diego. “É um drama, mas conforme o Elder perde o controle, a gente vai junto nesse looping de paranoia. Tem essa brincadeira de trazer elementos de outros gêneros: seja o suspense, o thriller. Você fica tenso com o personagem”. E mesmo com o filme apenas esquentando nas salas de cinema, Diego e Claudio já estão em vias de renovar a parceria. “O roteiro do próximo longa já saiu do forno, mas o processo de produção tem uma certa morosidade”, diz Diego ao Filmelier. “Infelizmente, nós não conseguimos imprimir a rapidez e velocidade que a gente gostaria. Mas caminhamos a passos largos, desenvolvendo o próximo filme ao longo dos últimos três anos”.
Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.