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Entrevista: Diretor de ‘Medusa Deluxe’, filme de mistério e humor da MUBI, analisa diferenças entre streaming e cinema

Medusa Deluxe pode ser descrito como um filme inovador. A produção chegou ao serviço de streaming da MUBI, após uma temporada em cartaz nos cinemas brasileiros. Tudo parte de uma premissa simples, porém, intrigante: um assassinato acontece em uma competição de penteados, quando um dos competidores aparece morto e escalpelado. Ao mesmo tempo em que os próprios participantes tentam encontrar o autor do crime antes que o julgamento comece, como em um jogo de Detetive, ressurgem entre eles ressentimentos, desavenças e fofocas.

O cineasta britânico Thomas Hardiman, estreante na direção de um longa-metragem, foi o responsável por trazer à vida Medusa Deluxe. Ele revelou em entrevista exclusiva ao Filmelier as inspirações que moldaram sua carreira, inclusive as memórias de infância que lhe deram a ideia para o filme.

Medusa Deluxe está disponível na MUBI, clique aqui para assistir.

Filme mistura humor e mistério de assassinato em competição de penteados

Ideia inovadora surgiu das experiências da infância do diretor estreante

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“Quando eu era criança, eu passava muito tempo em salões de beleza com a minha mãe – mais do que a maioria das pessoas. Não sei por que minha mãe ia toda semana, mas ela ia”, disse Thomas Hardiman, rindo. Foi a primeira vez que o cineasta teve contato com o mundo das artes, inspirado por imagens cheias de estilo de revistas de moda, como Vogue, Elle ou Cosmopolitan. “E isso abriu meus olhos”, afirmou. “A primeira vez que vi [essas revistas] foi em um salão de beleza e, tipo, isso só te faz perceber que há outro mundo lá fora. Quando você é um menino e está crescendo como um menino, meio que te empurram para certos mundos, te empurram para fazer futebol ou algo assim, e eu não sou muito bom em futebol”, riu. “Então, eu sempre estava procurando por algo diferente. Eu estava procurando por algo que eu gostasse e comecei a olhar para a criatividade como um todo, comecei a pensar, o que a moda está fazendo? O que a arte, o cinema e a literatura estão fazendo? E foi assim que cheguei a um ponto de, e é, de canalizar isso para a narrativa.”

Medusa Deluxe revela importância cultural do cabelo

Daí nasceu o enredo de Medusa Deluxe, que tem um quê de anárquico. O universo de cabelos e penteados não só ofereceu um ambiente mais criativo e colorido para o filme, como também foi palco para externalizar as vontades interiores dos personagens – e como eles se relacionam com os demais. Tais perspectivas foram prato cheio para mesclar suspense e comédia na produção.
Medusa Deluxe mistura humor e mistério em competição de penteado (Crédito: MUBI)
“Cabeleireiro é algo meio divertido e energizado, mas também tem uma espécie de importância que quase passa despercebida, como você se apresenta ao mundo. Seja vaidade, seja só como você quer ser percebido pelos outros, o valor cultural do cabelo é importante”, ponderou Thomas Hardiman. “E então você obviamente tem todo o tipo de fofoca, comentários mordazes nos bastidores, tudo isso é comédia. Mas também tem uma espécie de seriedade e um peso que acompanha. E isso permite que você seja divertido e despreocupado, e também permite que você seja emocional e sincero. O cabeleireiro e o espaço da competição são os lugares perfeitos para isso, permite que você brinque com isso. Eu sou apaixonado por salões de beleza. Quero colocar isso em um pedestal e fazer as pessoas verem a habilidade e a criatividade. É um espaço bastante mágico.”

A jornada emocional de Luke Pasqualino como Angel em Medusa Deluxe

Dentre os personagens do filme, Angel (Luke Pasqualino) está no centro da narrativa. “Quando você conhece Angel pela primeira vez, ele está prestes a receber a notícia de que seu amante e pai de seu filho foi assassinado e escalpelado”, explicou Luke Pasqualino, destacando a intensidade emocional de sua experiência durante as filmagens. “É uma jornada de declínio emocional para Angel que está lidando com diferentes emoções enquanto enfrenta a realidade de não ter mais seu amor ao seu lado. Ele está em estado de choque e luto durante a maior parte do filme”, comentou. “Acho que é uma mensagem importante para as pessoas de que o tempo cura no final, sabe?”. Para equilibrar os elementos cômicos com os aspectos sombrios e cheios de suspense, Pasqualino explica: “Para mim, era importante que a tristeza fosse retratada de forma genuína e que a dor fosse real. A comédia surgiu naturalmente a partir desses elementos. O humor está no roteiro e nas situações, e uma vez que alcançamos a essência emocional, a comédia fluía”.
Luke Pasqualino interpreta Angel em ‘Medusa Deluxe’

De série da Netflix a suspense cômico e filme do Senhor dos Anéis

Com projetos futuros em andamento, como a série Rivals para o Disney Plus e o aguardado filme animado baseado em O Senhor dos Anéis, Luke Pasqualino traz para Medusa Deluxe um lado emocional que investe em seus papéis. Conhecido por sua participação na popular série Sombra e Ossos, da Netflix, o ator falou sobre as diferenças entre interpretar Angel em Medusa Deluxe e seu papel como David na série de sucesso: “Uma das alegrias de ser um artista é interpretar personagens diferentes. Quando você tem a oportunidade de fazer algo que nunca fez antes e se sentir conectado ao personagem, é uma verdadeira alegria. Interpretar personagens diferentes e não dar isso como garantido é importante. Espero que continue assim”.

Medusa Deluxe e a Relevância para o Público

Quando questionado sobre como Medusa Deluxe poderá ressoar com o público, especialmente aqueles que apreciam filmes cult ou são fãs de produções como a Marvel, Luke Pasqualino respondeu: “Acredito que Medusa Deluxe tem algo para todo mundo. Tem pelo menos um personagem que você se identifique. É uma mistura única de gêneros que vai além das expectativas. Temos de comédia a drama e mistério de assassinato”.

Cinema versus Streaming

Tal como a maioria dos filmes hoje em dia, Medusa Deluxe vai dos cinemas para os serviços de streaming. Em agosto, estará estreando na MUBI. No que diz respeito à experiência de assistir a um filme no cinema versus streaming, Luke Pasqualino e Thomas Hardiman expressaram opiniões diferentes. Pasqualino defende a experiência única do cinema, onde a imersão total é possível, enquanto Hardiman ressalta a comodidade e o alcance global das plataformas de streaming. Eles concordam que ambas as opções têm seus méritos e que é importante apoiar a diversidade de formas de assistir a filmes para garantir a sobrevivência de toda a indústria cinematográfica.
Cena de Medusa Deluxe, que vai dos cinemas para a plataforma MUBI (Crédito: MUBI)

A Era de Ouro do cinema é hoje

“Estamos vivendo uma era de ouro”, afirmou Thomas Hardiman entusiasmado. “Acho incrível, sério mesmo. Tipo, é estranho, porque todo mundo sempre fala ‘Ah, era melhor nos anos 60, era melhor nos anos 70’. E sim, as coisas estão mudando, estão diferentes. Às vezes, um certo tipo de filme não está funcionando muito bem em determinada época”, ponderou o cineasta. “Mas ao mesmo tempo, temos tantos filmes ao nosso alcance”, exaltou relembrando uma busca de quatro anos pelo filme Mishima: Uma Vida em Quatro Tempos, de 1985. “Levou uma eternidade. E, enfim, a Criterion lançou. Antes disso, era completamente inacessível”. Thomas Hardiman exaltou que atualmente as plataformas de streaming ofereceram um “problema bom”: “Agora, temos tantos filmes ao alcance das mãos que o problema não é como você vai assistir algo, é quanto você vai assistir, porque eu vejo uns quatro ou cinco filmes por semana, exceto nas últimas três semanas que estive um pouco ocupado divulgando Medusa Deluxe. Mas eu não consigo ver tudo. E acho que isso é uma posição incrível, não uma ruim. Quer dizer, é frustrante”, disse ele. “Tem um filme chamado Retorno a Seul que eu não vi ainda, parece incrível. E todos os dias eu acordo pensando ‘Hoje é o dia que vou ao cinema vê-lo’. E eu percebi que não vai acontecer, vou ter que assistir pela plataforma. E saber que a plataforma está lá, que vou poder ver em algumas semanas, você consegue imaginar? É difícil lembrar como era o mundo há uns 10 anos, isso era impossível. Você perdia a chance [de assistir a um filme].” O cineasta ainda comparou com a época em que era preciso alugar filmes ou buscar lojas de raridades para encontrar filmes esquecidos. “É assim que costumava ser, sabe, para conseguir um filme que foi descontinuado. Você nunca mais ia vê-lo. Lembra do filme Napoleão, do Abel Gance? É dos anos 1920. Ele estava perdido. As pessoas passaram três décadas tentando reconstruí-lo. E agora podemos ver quase tudo o que quisermos o tempo todo. É, estamos vivendo numa era dourada. Apesar de toda a loucura política, tudo é incrível. Para o cinema, especificamente, apesar de ninguém mais ir ao cinema e de falarem que ele está morrendo, é incrível também.”

Marvel e Avatar levam mais pessoas aos cinemas do que outros filmes

Pasqualino, por sua vez, reconhece que o público médio muitas vezes prefere ir aos cinemas para assistir a blockbusters como Avatar e filmes da Marvel. “É triste, mas é uma realidade que o cinema não está sendo tão frequentado atualmente, a menos que você esteja assistindo às grandes epopeias da Marvel, os Avatares da vida e tudo mais. Pessoalmente, eu acho que é importante que as pessoas estejam assistindo, como quer que elas assistam, seja em uma plataforma de streaming ou no cinema. Você quer que as pessoas assistam ao seu trabalho, e vejam o que você conquistou com a ajuda dos diretores, da equipe, do elenco, de todos. Eu acho que é importante que as pessoas continuem indo ao cinema, porque acho que é uma experiência especial, sabe, é uma ocasião em que você vai assistir a um filme”, relembrou. “Mas a forma como a tecnologia está avançando agora, está permitindo que as pessoas assistam esses filmes no conforto de suas casas”. [Matéria original de 03/07/2023, atualizada em 05/08/23]

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Vitória Pratini

Jornalista especializada em filmes, séries e cultura pop há 8 anos, Vitória Pratini já foi publicada no AdoroCinema, IGN Brasil, Terra e MSN. Hoje, é Estrategista de Conteúdo e Redatora do Filmelier.

Escrito por
Vitória Pratini

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