Mercado de streaming

Netflix faz acordo com governo da França e pavimenta retorno ao Festival de Cannes

A Netflix poderá voltar a comer baguetes sem (tanto) medo de engasgar. A empresa norte-americana entrou em acordo com o governo da França e, em contrapartida, teve suavizadas as restritivas legislações locais para a janela de lançamento no streaming – o que pavimenta um retorno da empresa ao Festival de Cannes, o mais tradicional do mundo e do qual se ausentou nos últimos anos justamente por conta da regulamentação local.

Em acordo anunciado nesta terça, 22, a Netflix se comprometeu a investir 4% da receita anual obtida na França em produções francesas ou europeias que sejam rodadas no país – o que dará ao menos € 40 milhões (quase R$ 230 milhões, pela cotação atual). Serão, ao menos, dez filmes financiados pela empresa que serão lançados nos cinemas franceses nos próximos três anos.

Além disso, desse montante, ao menos 17% precisam ser investidos em filmes de menor orçamento, de no máximo € 4 milhões (R$ 22,7 milhões).
Sede da Netflix em Los Gatos, Califórnia (crédito: divulgação / Netflix)

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Vale ressaltar que a Netflix conseguiu uma boa barganha no acordo. O governo francês havia determinado que a empresa, como todas as redes de televisão que operam no país, precisava investir em conteúdo local – e as autoridades pretendiam que 20% da receita fosse investida em filmes e séries. Como vimos, a porcentagem final foi consideravelmente menor. O mercado francês é considerado um dos mais regulamentados e restritivos do ocidente, no sentido da obrigação no investimento em produções locais e na preservação dos cinemas tradicionais. Agora, é de se esperar que o acordo com a Netflix sirva de parâmetro para as negociações não só com outras plataformas de streaming que operam no país, mas também que guie as discussões sobre investimento local em outros lugares pelo mundo – inclusive no Brasil.

Netflix x França

Vale lembrar que esse é o mais recente desdobramento de uma disputa entre a gigante do streaming com o governo da terra de Amélie Poulain. Há alguns anos, para tentar incentivar a indústria cinematográfica, a França instituiu uma janela (período) obrigatório de exibição dos filmes nos cinemas de ao menos 36 meses, o que inviabilizou o formato dos originais da Netflix no país (que, no máximo, faz lançamentos exclusivos na tela grande por poucas semanas).
Será que o Festival de Cannes já está estendendo o tapete vermelho para a Netflix? (crédito: divulgação / Festival de Cannes)
A regulamentação também afastou os filmes da empresa do Festival de Cannes. O festival proibiu a entrada de produções que não sejam, depois, lançadas nos cinemas – o que, em conjunto com a regra de 36 meses do governo, afastou de vez a Netflix do mais tradicional festival do mundo. Agora, com o novo acordo, a Netflix conseguiu diminuir esse período de exclusividade dos cinemas para 15 meses. Se antes as produções financiadas pela empresa norte-americana precisavam esperar três anos para chegar na internet, agora esse período caiu para um ano e meio – ainda longo, mas substancialmente menor ao que estava sendo praticado. Por isso, o mercado começa a acreditar que medida pode, finalmente, permitir que a empresa retorne à Cannes em 2022. Será? O festival acontece a partir de 17 de maio, na sempre bela Riviera Francesa.

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Renan Martins Frade

Jornalista especializado em cinema, TV, streaming e entretenimento. Foi por 11 anos editor do Judão e escreveu para veículos como UOL, Superinteressante e Mundo dos Super-Heróis. Também trabalhou com a comunicação corporativa da Netflix. Foi editor-chefe do Filmelier.

Escrito por
Renan Martins Frade

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