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‘Noite Passada em Soho’: o delírio esteticamente impecável de Edgar Wright

Noite Passada em Soho‘ (no título original, ‘Last Night in Soho’), começa como um sonho – que acompanha uma moça do interior se mudando para Londres, para estudar moda em uma prestigiada escola de artes. Os letreiros neon da cidade são embalados por músicas dos anos 1960 e somos apresentados a um mundo de possibilidades que vem direto da mente de Edgar Wright (‘Em Ritmo de Fuga’, ou ‘Baby Driver’ em inglês).

Protagonizado por Anya Taylor-Joy (‘A Bruxa’), Matt Smith (‘The Crown’), Thomasin McKenzie (‘Jojo Rabbit’), Terence Stamp (‘Wall Street: Poder e Cobiça’), Michael Ajao (‘Ataque ao Prédio’) e Diana Rigg (das séries ‘Os Vingadores’ e ‘Game of Thrones’ e que morreu antes do filme estrear), o longa é um dos lançamentos mais aguardados do ano e chegou aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 18.

A história gira em torno das personagens de McKenzie, Ellie, e de Taylor-Joy, Sandie, que moram na mesma casa em diferentes linhas do tempo. A primeira vive nos dias atuais e a segunda está na década de 1960. Assim que Ellie se muda para a tal residência, passa a ter visões da vida de Sandie, sendo transportada para aquela realidade – que a princípio é muito mais atrativa que a sua.
Matt Smith e Anya Taylor-Joy em ‘Noite Passada em Soho’ (Crédito: Divulgação/Universal Pictures)

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No primeiro ato, ‘Noite Passada em Soho’ nos deixa vidrados com a sua estética e se apresenta como um romance melodramático com uma pitada de mistério. O problema vem quando a história avança. Logo, a protagonista descobre que a vida que ela tanto almeja não é um sonho, na verdade está mais próxima de um pesadelo – e é nesse ponto em que a narrativa começa a se perder. Sem aprofundar para não entregar muito da trama, Ellie desde o começo se mostra sensitiva ao paranormal e isso é desenvolvido ao longo da história, dando um outro rumo à produção. De drama, o filme passa a flertar com o terror – onde encontramos inspirações de grandes nomes como Dario Argento, com o clássico ‘Suspiria‘ (1977) e de Roman Polanski em ‘Repulsa ao Sexo’ (1965). A referência ao longa de Polanski abre uma problematização ao vilanizar mulheres que se rebelam contra os abusadores. Claro que não há espaço para defender vingança, mas tirar da cartola uma vilã que estava tentando se defender de uma sociedade machista opressora que a enxerga como um produto acaba sendo complicado. O diretor, que assina o roteiro com Krysty Wilson-Cairns, nos confunde o tempo inteiro com os delírios da protagonista. O que abre espaço para diversas interpretações e caminhos que a trama poderia seguir, mas acaba resultando em um final problemático e inesperado – no sentido negativo, pois não foi bem trabalhado.
Thomasin McKenzie é atormentada por visões em ‘Noite Passada em Soho’ (Crédito: Divulgação/Universal Pictures)
‘Noite Passada em Soho’ aborda saúde mental, abuso sexual e psicológico, vingança, amor e também pertencimento – o tempo todo a personagem de Ellie só quer encontrar o seu lugar e descobre que Londres não é o conto de fadas que ela imaginou. Porém, todos esses tópicos ficam apenas na superfície e nenhum deles recebe a atenção necessária. Em suma, o filme de Edgar Wright entrega um leque de possibilidades, como já citamos, mas não consegue se decidir em qual delas focar – e esse é o grande problema. Acaba sendo um desperdício, já que a premissa do longa é ótima e o elenco impecável. O trio formado por Anya Taylor-Joy, Thomasin McKenzie e Matt Smith seguram a narrativa nas costas, principalmente Taylor-Joy que tem uma atuação quase magnética, mas nem ela é o suficiente para salvar um roteiro que quase chegou lá. ‘Noite Passada Em Soho’ vai chamar sua atenção com uma história que consegue segurar o espectador durante muito tempo, ela só se perde no final, o que é uma pena mas ainda assim vale a experiência devido ao refinamento estético. Se podemos afirmar algo é que o longa é um excelente delírio visual de Edgar Wright.

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Raíssa Basílio

Jornalista de cultura e entretenimento. Já passou pelo Papelpop, UOL e Revista Claudia escrevendo sobre beleza, moda, cinema, música e TV, e também trabalhou com produção na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Foi redatora do Filmelier.

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