‘O Auto da Boa Mentira’ vai além com “causos” de Ariano Suassuna

Além de ser um dramaturgo e romancista de mão cheia, Ariano Suassuna também era conhecido por seus “causos”. São histórias engraçadas, geralmente escondendo comentários sociais, que só comprovam a criatividade do paraibano para entender o povo brasileiro e traduzi-lo em histórias típicas de nossa cultura. Agora, esses “causos” viraram filme.

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Sob direção de José Eduardo Belmonte, de ‘Carcereiros: O Filme’ e ‘Alemão’, o longa-metragem ‘O Auto da Boa Mentira’ (em cartaz nos cinemas e em breve no streaming) é uma produção que reúne quatro histórias distintas, com tons e tipos de humor bem diferentes entre elas. O que permeia essas quatro pequenas tramas, e faz com que o filme tenha uma unidade narrativa, é uma coisa só: as mentiras contadas.

Histórias de Suassuna

A primeira história mostra um subgerente de RH (Leandro Hassum) que é confundido com um comediante de sucesso e passa a gostar do mal-entendido. Depois, conhecemos Fabiano (Renato Góes), um jovem que não acredita em nada, mas fica intrigado quando ouve um mistério circense envolvendo sua mãe (Cássia Kis) e seu pai, morto há alguns anos.

Já a terceira história mostra Pierce (Chris Mason, de ‘Pretty Little Liars’), um gringo metido a carioca que mente sobre um assalto depois de faltar ao aniversário do amigo Zeca (Sérjão Loroza). Por fim, na última narrativa de ‘O Auto da Boa Mentira’, conhecemos Lorena (Cacá Ottoni), uma estagiária que  se sente invisível na empresa de publicidade em que trabalha. As três primeiras histórias são fruto de “causos” típicos de Rolando Boldrin, contados em palestras. Já a última foi a frase de uma entrevista de Suassuna ao apresentador Jô Soares, quando o paraibano fala que se sente deslocado quando diz que nunca visitou a Disney. A partir daí, os roteiristas João Falcão, Tatiana Maciel e Célio Porto ampliaram as tramas pro cinema. “Suassuna foi muito próximo do Cine Group, [a produtora do longa-metragem]”, conta Luciana Pires, produtora do filme. “A gente já tinha feito várias intervenções, até mesmo espetáculos. Aí a produtora Mônica Monteiro teve essa ideia. Entre tantas histórias, como escolher? Ficcionalizamos outras, mas fomos selecionando essas para o filme”.

Suassuna em ‘O Auto da Boa Mentira’

Dessa forma, por meio de histórias contemporâneas, vamos conhecendo um Suassuna além do que já foi visto em ‘O Auto da Compadecida’, um dos maiores sucessos de público e crítica do cinema nacional no comecinho dos anos 2000. Como ressalta Belmonte, quebra-se um pouco do estigma regionalista, muitas vezes até com fundo preconceituoso de quem enquadra Suassuna apenas como o escritor de temas interioranos.

“É um filme baseado em palestras e entrevistas do Ariano Suassuna e que tem muito a ver com as ‘commedia all’italiana’ dos anos 1960”, conta o diretor Belmonte. “Como é um filme muito baseado nas andanças do Ariano, não é tão regional. Sai um pouco do universo que estamos acostumados a ver do Ariano e vai para o cronista social, de costumes”. Leandro Hassum, de ‘Tudo Bem no Natal que Vem’, é o protagonista da primeira história, onde interpreta o cara banal que é confundido com um humorista de sucesso internacional — há até algumas piadas envolvendo o peso do ator, que emagreceu após cirurgia no final de 2014 e até hoje é confundido nas ruas. Para ele, as histórias de Suassuna continuam atuais. “Para quem acompanha as palestras do Ariano Suassuna, ele é sempre atual. E o Belmonte fala de coisas de maneira muito global, trabalhando com a colaboração dos atores”, diz Leandro Hassum. “Isso faz com que as histórias deem muito certo, usando coisas concretas nessa narrativa da mentira. É um projeto que chega em um momento certo, em que lidamos com mentiras, com fake news. O mundo está vivendo fake news. E a gente vem aqui falar de mentira boa. Vamos viver ‘O Auto da Boa Mentira’”.

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