Com ‘O Esquadrão Suicida’, DC Films reafirma que há vida pós-Snyder Com ‘O Esquadrão Suicida’, DC Films reafirma que há vida pós-Snyder

Com ‘O Esquadrão Suicida’, DC Films reafirma que há vida pós-Snyder

Criada na esteira do sucesso da Marvel Studios e a partir da mente criativa de Zack Snyder, o estúdio precisou se reinventar algumas vezes – mas parece que se encontrou na liberdade dada para James Gunn, Todd Phillips, James Wan e outros cineastas

6 de agosto de 2021 16:47
- Atualizado em 9 de agosto de 2021 11:39

A sede da Warner Bros. Entertainment, que fica na ensolarada cidade californiana de Burbank, nunca foi das mais tranquilas. Disputas de bastidores, decisões intempestivas e mudanças de rumo são habituais naqueles escritórios e estúdios – algo que a série animada ‘Animaniacs’, ainda nos anos 1990, adorava usar em seu humor anárquico.

Entre essas idas e vindas, a estreia de ‘O Esquadrão Suicida‘, que chegou aos cinemas brasileiros ontem (5), parece finalmente indicar um caminho consistente para o futuro do estúdio nas adaptações dos heróis da DC Comics para a telona.

A trajetória foi longa, é verdade. Com o sucesso da Marvel Studios e o seu conceito de “tudo conectado”, a então Time Warner (hoje, WarnerMedia) finalmente percebeu que poderia fazer o mesmo com os personagens de sua subsidiária focada em quadrinhos. Para tal, chamou Zack Snyder.

A Warner Bros. escolheu Zack Snyder para liderar os filmes baseados nos heróis da DC (Crédito: divulgação / Warner Bros.)
A Warner Bros. escolheu Zack Snyder para liderar os filmes baseados nos heróis da DC (Crédito: divulgação / Warner Bros.)

Tudo começou com o “Snyderverso”

Snyder, de certa forma, pode ser justamente considerado uma antítese de Kevin Feige, presidente da divisão de cinema da Casa das Ideias. O cineasta traz um olhar sombrio para as suas produções, aposta nas cenas em slow motion e, principalmente, se rende a diversos maneirismos. Não era um homem de negócios, como Feige.

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A estratégia tinha a sua lógica: criar um Universo Estendido DC que, por mais que ainda fosse “conectado”, pudesse ser um contraponto ao que era feito na concorrência.

Acontece que isso, na prática, não deu certo. O segundo filme da parceria, ‘Batman vs. Superman: A Origem da Justiça‘, não fez o sucesso esperado pela Warner por diversos motivos – alguns, inclusive, por culpa do microgerenciamento do próprio estúdio, que demandou regravações com mais cenas com o Batman, por exemplo.

Veio, então, a primeira grande mudança.

Nasce a DC Films

O resultado do fracasso no embate entre o Homem-Morcego e o Homem de Aço foi a fundação, em 2016, da DC Films – uma outra subsidiária da WarnerMedia, com o objetivo de liderar as adaptações cinematográficas dos personagens da editora. Um função parecida justamente com a da Marvel Studios.

Geoff Johns, então chefe criativo da DC, e o produtor John Berg foram chamados para serem o “Kevin Feige” da empreitada – finalmente consolidando o conceito de Universo Estendido DC.

Só que o primeiro filme do estúdio foi justamente o tão criticado ‘Esquadrão Suicida‘, que passou por tantas mudanças na pós-produção que o diretor David Ayer faz questão de afirmar que o corte final não é a visão que ele tinha para àquela história.

Ok, podemos considerar que a DC Films, ainda novata, mudou pouco o destino de ‘Esquadrão Suicida’. Até porque o filme seguinte é, realmente, uma mudança de rumos: ‘Mulher-Maravilha‘.

'Esquadrão Suicida', o de 2016, foi a estreia oficial da DC Films (Crédito: divulgação / Warner Bros.)
‘Esquadrão Suicida’, o de 2016, foi a estreia oficial da DC Films (Crédito: divulgação / Warner Bros.)

O longa-metragem da heroína parte do que foi estabelecido em ‘Batman vs. Superman’, mas a visão da diretora Patty Jenkins não só agrega cor ao DCEU como resgata a mensagem de esperança, tão presente nos quadrinhos. Ainda que Snyder tenha, ao lado da esposa Deborah, produzido e escrito o longa, era possível ver que o frescor de novas ideias estava finalmente fazendo efeito.

Na prática, mesmo, o trabalho que inaugurou a DC Films foi ‘Liga da Justiça‘, lançado em 2017. O longa seria o “batismo de fogo” não só do estúdio, mas também da estratégia de criar um universo coeso com os seus personagens.

Johns e Berg, então, passaram a modificar extensamente o roteiro do longa, procurando deixá-lo mais “otimista” – e foi aí que os problemas de bastidores efetivamente começaram.

A verdade é que os executivos acima da dupla nunca ficaram satisfeitos com o rumo do filme. Quando Snyder teve que deixar a pós-produção para lidar com o suicídio da filha, Autumn, a DC Films contratou Joss Whedon (de ‘Os Vingadores’) para terminar a produção, mas não antes do diretor promover uma série de regravações para deixar a história mais “divertida”.

O resultado disso, bom, você sabe bem qual foi – e não deixou ninguém incólume. Jon Berg e Geoff Johns deixaram a DC Films no final de 2017. A DC Films voltou a se aproximar do resto da estrutura da WarnerMedia, e Walter Hamada (responsável pelo sucesso da franquia ‘Invocação do Mal’) assumiu a liderança dos projetos do estúdio como “presidente dos filmes baseados na DC” dentro da própria Warner Bros. Pictures.

O fim? Não, nem tanto.

A vez de ‘Aquaman’

O ponto de virada nessa história toda é, mesmo, ‘Aquaman‘. Protagonizado pelo mesmo Jason Momoa de ‘Liga da Justiça’, o filme efetivamente abraça a cor e o humor.

Até por ser basicamente o que a Warner Bros. queria de Snyder, não há relatos de atritos entre os executivos da Warner e o diretor do longa, James Wan. O resultado disso é claro: ainda que não tenha sido um sucesso unanime com a crítica, é inegável que ‘Aquaman’ deu certo.

'Aquaman', com Jason Momoa, foi mais para o lado que os executivos da Warner Bros. queriam (Crédito: divulgação / Warner Bros.)
‘Aquaman’, com Jason Momoa, foi mais para o lado que os executivos da Warner Bros. queriam (Crédito: divulgação / Warner Bros.)

Com maior ou menor grau de sucesso, a fórmula continuou com ‘Shazam!‘, ‘Aves de Rapina‘ e ‘Mulher-Maravilha 1984‘. São todos filmes leves e que se resolvem em si mesmos – sem a necessidade de se encaixar no ainda existente Universo Estendido DC.

No meio disso, entra ‘Coringa‘. O longa-metragem estrelado por Joaquin Phoenix é, certamente, uma quebra de paradigma dentro da DC Films. Pela primeira vez desde a sua criação, o estúdio, junto com a Village Roadshow, produziu um longa-metragem totalmente fora do Universo Estendido DC. Vai além: o foco é em um público mais maduro, abraçando o sombrio de Zack Snyder junto com referências da Nova Hollywood de Martin Scorsese – como o diretor, Todd Phillips, queria.

É todo esse contexto que permitiu que ‘O Esquadrão Suicida’, o novo filme, pudesse acontecer – juntando, de certa forma, tudo que deu certo a partir de ‘Aquaman’.

Entra James Gunn

Em 2018, James Gunn, o diretor da franquia ‘Guardiões da Galáxia‘, foi demitido da Marvel Studios por uma série de posts controvertidos (e antigos) no Twitter. Ainda que tenha declarado estar arrependido daquelas publicações, não foi o suficiente para salvar, naquele momento, o emprego.

Gunn eventualmente seria recontratado pelo estúdio da Disney, mas a Warner Bros. e Hamada viram uma oportunidade única: contrataram Gunn nesse meio tempo e, o mais importante, deram a liberdade para ele fazer o filme que quisesse.

Quase três anos depois, ‘O Esquadrão Suicida’ está em cartaz nos cinemas – e a liberdade de Gunn transborda em cada centímetro na tela. Até o título do longa é reflexo disso: o nome foi apenas uma brincadeira do diretor, mas os executivos adoraram a ideia.

James Gunn no set de ‘O Esquadrão Suicida’ (Crédito: reprodução / Warner Bros.)
James Gunn no set de ‘O Esquadrão Suicida’ (Crédito: reprodução / Warner Bros.)

Esse é, de cera forma, o longa que Gunn nunca teria a liberdade de fazer na Marvel: não só pelo sangue e o excesso de palavrões, mas também pela possibilidade de usar os personagens que quis, inclusive para matá-los. Algo que, na ideia de “tudo conectado” da Casa das Ideias, no mínimo seria bastante estudado antes de ser aprovado.

O resultado não poderia ser mais positivo: ‘O Esquadrão Suicida’ tem, até agora, a melhor porcentagem de aprovação do Universo Estendido DC no agregador de críticas Rotten Tomatoes, com 95% – superando os 93% de ‘Mulher-Maravilha’.

Quer saber mais sobre ‘O Esquadrão Suicida’, incluindo os motivos para assistir os horários das sessões nos cinemas? Clique aqui.

Se, lá atrás, a ideia era fazer um universo coeso com uma visão única, como a concorrente Marvel Studios fez, a Warner Bros. se encontrou justamente quando deu, ainda que dentro de certos limites corporativos, liberdade para os seus produtores, roteiristas e diretores – mostrando que, no final do dia, não existe e nem deveria existir fórmula pronta para se fazer cinema pipoca.

Eventualmente tropeços podem acontecer, como foi com ‘Mulher-Maravilha 1984’, mas é melhor que ocorram dentro de uma perspectiva criativa do que como resultado de decisões de engravatados.

Teremos dias mais tranquilos para a famosa caixa d’água da Warner Bros.? (Crédito: divulgação / Warner Bros. Studios)

Agora, as perspectivas não poderiam ser melhores: ‘O Batman’, protagonizado por Robert Pattison, pode entregar um interessante filme com o Homem-Morcego fora do DCEU, enquanto ‘Adão Negro’, ‘The Flash’ e as continuações de ‘Aquaman’ e ‘Shazam!’ tem tudo para continuar explorando essa recém-encontrada liberdade. Todos esses longas-metragens chegam aos cinemas entre 2022 e 2023.

Isso fora a expansão dos DC Films para o HBO Max, com a já confirmada série estrelada pelo Pacificador, e outras com Constantine, Liga da Justiça Sombria e Madame X – que estão em pré-produção.

Resta saber, apenas, se a Warner Bros. não se encontrou muito tarde. Afinal, há quem diga que a fórmula dos super-heróis da TV e no cinema já está com os seus dias contados…

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