Robert De Niro: o astro que transita entre clássicos e besteirol Robert De Niro: o astro que transita entre clássicos e besteirol

Robert De Niro: o astro que transita entre clássicos e besteirol

Ator mostra versatilidade e, apesar de derrapadas, é um dos nomes mais certeiros de Hollywood

Matheus Mans   |  
6 de dezembro de 2021 16:53
- Atualizado em 7 de dezembro de 2021 17:14

Touro Indomável’, ‘Taxi Driver’, ‘O Irlandês’, ‘O Poderoso Chefão II’, ‘Os Intocáveis’. São poucos os atores de Hollywood com um currículo como o do astro Robert De Niro. Ele é daqueles nomes que figuram nas listas de maiores celebridades do cinema ao lado de Meryl Streep, Al Pacino e Jack Nicholson, sendo celebrado por seus pares, pela crítica e pelo público.

Nos últimos anos, porém, seu cinema tem mostrado algumas facetas inesperadas. A partir do final dos anos 1990, principalmente, De Niro embarcou em comédias para mostrar uma outra face pouco conhecida até ali. Deixou os dramas de lado e começou a ganhar um espaço cada vez maior em filmes populares e despretensiosos — e outros realmente ruins. 

Robert De Niro é o protagonista de ‘Vigaristas em Hollywood’, longa-metragem que flerta com o besteirol (Crédito: Divulgação/Paris Filmes)

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No mundo das comédias, é o caso de ‘Entrando numa Fria’ e ‘Máfia no Divã’. Já nos suspenses, entram produções como ‘Poder Paranormal’, ‘Assassinos de Aluguel’ e ‘Profissão de Risco’. E é essa mistura, tão inusitada nos caminhos incertos da carreira de De Niro, que desemboca em ‘Vigaristas em Hollywood’, filme nos cinemas brasileiros desde quinta, 2

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Dirigido por George Gallo, o longa conta a história de um produtor fracassado (De Niro) que tenta dar certo em Hollywood nos anos 1970. O “momento eureca” de sua vida, porém, ocorre quando ele percebe que pode ganhar rios de dinheiro com seguros e, de uma hora pra outra, decide colocar a vida de um ator veterano (Tommy Lee Jones) em risco.

Robert De Niro até aqui

No entanto, para entendermos como ‘Vigaristas em Hollywood’ se tornou possível na vida de De Niro, precisamos voltar para o começo de sua carreira. Nascido em Nova York, em 1943, este descendente de italianos e de irlandeses começou como figurante em filmes como ‘Três Quartos em Manhattan’ e ‘Festa de Casamento’, tentando a sorte ainda nos anos 1960.

A grande mudança de ares em sua vida profissional foi nos anos 1970, mais especificamente nos anos de 1973 e 1974. Primeiramente, atuou nas produções ‘A Última Batalha de um Jogador’ e ‘Caminhos Perigosos’ — este último se tornou a primeira parceria de De Niro com o cineasta Martin Scorsese, para quem foi apresentado por outro diretor, Brian de Palma.

Só que, em 1974, veio o primeiro grande papel de sua carreira e que iria transformar a figura de De Niro para sempre: o jovem Don Corleone em ‘O Poderoso Chefão II’. Se valendo largamente de sua experiência com famílias italianas, conseguiu passar uma verdade inigualável na tela. Não é à toa que, desde então, De Niro fez uma série de mafiosos na tela.

Robert De Niro viu sua carreira decolar de vez com o papel em ‘Poderoso Chefão II’ (Crédito: Divulgação/Paramount)

Pelo papel, em 1975, venceu seu primeiro Oscar na categoria de Melhor Ator Coadjuvante. Foi a consolidação que faltava para De Niro deslanchar.

Ao mesmo tempo, depois de ‘Caminhos Perigosos’, a parceria entre Scorsese e De Niro se tornou uma das mais prolíficas e de sucesso do cinema. Fizeram ‘Taxi Driver’ (1976), ‘New York, New York’ (1977), ‘Touro Indomável’ (1980), ‘O Rei da Comédia’ (1983), ‘Os Bons Companheiros’ (1990), ‘Cabo do Medo’ (1991), ‘Cassino’ (1995) e ‘O Irlandês’ (2019).

Foi com Scorsese, aliás, que De Niro ganhou seu segundo Oscar pelo papel do boxeador Jake La Motta em ‘Touro Indomável’, em 1980. No filme, ele chegou a engordar 25 quilos e aparentou verdadeira transformação física nas telas. Nos anos 1980, De Niro era conhecido pelo tipo durão, transitando entre mafiosos e imigrantes em busca de oportunidades. 

Quebra de expectativas

Nos anos 1980, De Niro já havia alcançado o estrelato máximo em Hollywood. Tinha duas estatuetas do Oscar na estante e se tornou um ator dramático conhecido no mundo todo por sua capacidade física e, também, por ser facilmente identificável como esse italiano bruto, de modos simples, mas que pode ter desvios graves de comportamento.

Foi nesta década que o astro começou a experimentar novos gêneros. De um lado, continuava com filmes dramáticos como ‘Era uma Vez na América’, de Sergio Leone, ou ‘Os Intocáveis’, de De Palma. Mas começou a experimentar romances, como o emocionante ‘Amor à Primeira Vista’, ou comédias, como ‘Fuga à Meia-Noite’ e o fraquíssimo ‘Não Somos Anjos’. 

Nesta tentativa de se dissociar da imagem que tinha de ser interpretar mafiosos ou imigrantes, De Niro passou a buscar novas experimentações ou, até mesmo, a rir de si próprio — como é o caso de ‘Máfia no Divã’, já no final dos anos 1990. De Niro também começou a seguir um caminho similar ao de Al Pacino, aceitando papéis em filmes menores, mas que pagavam bem ao astro para ter seu nome associado ao longa-metragem.

De Niro ficou muito conhecido no universo das comédias por conta de seu papel em ‘Entrando numa Fria’ (Crédito: Divulgação/Universal Pictures)

Por isso, a partir dessa virada de chave na carreira de Robert De Niro, é possível constatar uma série de produções pouco conhecidas ou de tom duvidoso. Entre os anos 1990 e anos 2000, são vários os filmes desse tipo na filmografia do astro, como ‘15 Minutos’, ‘O Último Suspeito’, ‘O Enviado’ e, já nos anos 2010, ‘Poder Paranormal’ e o tenebroso ‘Profissão de Risco’.

De Niro, na ânsia de quebrar a mesmice que caiu sua carreira com papéis similares, e aproveitando também a força que existia ao redor de seu nome, se perdeu. Ao longo do final dos anos 1990 até o começo dos anos 2010, há poucos sucessos e poucas produções dignas de nota — talvez apenas ‘O Amigo Oculto’, sucesso do home video com Dakota Fanning. 

Retomada

No entanto, lá pela metade dos anos 2010, De Niro mostrou que estava em busca da “retomada”. Primeiramente, passou a aceitar comédias com qualidade acima da média, como é o caso da surpreendente ‘A Família’ ou nos simpáticos  ‘Última Viagem a Vegas’ e ‘Um Senhor Estagiário’. Ele também viu que o besteirol era sua praia na divertida ‘Tirando o Atraso’. 

Ele também fez uma parceria de sucesso com o cineasta David O. Russell nos filmes ‘O Lado Bom da Vida’, ‘Trapaça’ e ‘Joy: O Nome do Sucesso’. Nenhum dos títulos são grandes filmes, mas colocaram De Niro de volta na temporada de premiações — foi indicado na categoria de Melhor Ator Coadjuvante, em 2013, mais de 20 anos depois de sua última indicação. 

O final dos anos 2010, porém, foi um novo ápice na carreira de Robert De Niro. Ele emplacou dois grandes sucessos com ‘Coringa’ e ‘O Irlandês’ — este último marcando, também, a retomada da parceria com o amigo Martin Scorsese. Isso sem falar de ‘O Mago das Mentiras’, filme para a TV em 2018, que rendeu indicações ao Emmy, ao Globo de Ouro e ao SAG.

Mas e agora?

Agora, nos anos 2020, há uma certa indefinição no ar de como será a carreira de De Niro daqui pra frente. Afinal, por um lado, ele vem embalado por esses três grandes sucessos. Mas, por outro, há dois filmes em sua filmografia na década que lembram bastante o que o ator estava fazendo nos anos 2000: ‘Em Guerra com o Vovô’ e, agora, ‘Vigaristas em Hollywood’.

O primeiro é um “besteirol familiar” sobre um avô em guerra com o neto. Inofensivo, mas que não traz de novo e ainda coloca De Niro em algumas situações ridículas. Depois, há ainda esta nova produção em que o ator interpreta esse produtor fracassado. Ela é assinada por George Gallo, nome de Hollywood conhecido por essas produções um tanto questionáveis. 

No horizonte, porém, há ainda um filme com Scorsese (‘Killers of the Flower Moon’) — além de duas comédias e uma produção de ação. É um caminho interessante e um tanto quanto inexplicável. O fato é que De Niro sempre seguiu a trajetória que quis. Dramas potentes, máfia, comédias irreverentes, besteirol, suspenses sem sentido. Ele faz de tudo um pouco.

E apesar das derrapadas, Robert De Niro continua sendo inquestionável, do surto de ‘Taxi Driver’ à perseguição ao seu genro Ben Stiller em ‘Entrando numa Fria’. Das pancadas dolorosas em ‘Touro Indomável’ até a curtição sem rumo com Zac Efron. Robert De Niro convence, emociona e faz rir. A torcida é para que seus próximos anos sejam frutíferos e certeiros.

Lembrando que o filme mais recente do ator, ‘Vigaristas em Hollywood’, está em cartaz nos cinemas. Clique aqui para saber mais, além de encontrar o link para a compra de ingressos.

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