Crítica de Succession – 4ª Temporada: Série da HBO tem “refeição digna de um rei” Crítica de Succession – 4ª Temporada: Série da HBO tem “refeição digna de um rei”

Crítica de Succession – 4ª Temporada: Série da HBO tem “refeição digna de um rei”

Premiada série de drama da HBO, Succession chegou ao fim em sua 4ª temporada. Confira nossa crítica e um relato de assistir a série toda em três meses

30 de maio de 2023 23:49
- Atualizado em 4 de julho de 2023 11:54

Succession pode ser resumida como o “Game of Thrones do mundo corporativo”. Tal como na série de fantasia da HBO – em que os personagens brigam pelo Trono de Ferro – Succession retrata a luta da Família Roy pelo controle do império empresarial que os define.

A aclamada série da HBO chegou ao fim em sua 4ª temporada com um desfecho arrebatador e impactante. A saga da família Roy conquistou fãs ao redor do mundo com seu humor ácido e narrativa envolvente. Nesta temporada final, os segredos foram revelados, as alianças foram testadas e as batalhas familiares atingiram seu ápice, proporcionando um desfecho eletrizante que certamente virou notícia na ATN.

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Eis aqui a crítica da 4ª e última temporada de Succession. Que pena que acabou. Mas que bom que ela se foi no auge.

Succession vale a pena?

Achei pertinente fazer o adendo a seguir. Esta jornalista que vos escreve pouco tinha ouvido falar de Succession. Ainda que fosse uma das séries de drama mais premiadas do Emmy, eu nunca tinha assistido. Meu primeiro contato foi neste ano de 2023, um mês antes da estreia da última temporada. Resolvi começar a ver, e maratonei a série até a véspera do lançamento. Posso dizer que fui atingida por um tsunami da família Roy. Já amei e odiei praticamente todos os personagens principais – um efeito comum da produção da HBO.

Kendall (Jeremy Strong), Shiv (Sarah Snook) e Roman (Kieran Culkin) em cena do episódio 3 da 4ª temporada de Succession
Kendall (Jeremy Strong), Shiv (Sarah Snook) e Roman (Kieran Culkin) em cena do episódio 3 da 4ª temporada. (Créditos: HBO)

Particularmente nesta quarta e última temporada, durante dez episódios, o espectador – e me incluo nessa – foi envolvido em uma montanha-russa de emoções, onde a família Roy revelou suas facetas mais sombrias e surpreendentes. Succession nos lembra que, por trás do glamour e da riqueza, existem jogos cruéis e uma busca incessante pelo controle. E nos faz perguntar se algum magnata da vida real tem salvação.

Personagens de Succession: um elenco de destaque

Uma das grandes forças de Succession é seu elenco excepcional, tanto que somos obrigados a exaltar o trabalho e talento de praticamente todos os membros do elenco. Brian Cox interpreta o patriarca Logan Roy, entregando uma performance magnética e autoritária que domina cada cena em que está presente. 

Tom (Matthew Macfadyen) já fora o leal escudeiro de Logan (Brian Cox) em Succession
Tom (Matthew Macfadyen) já fora o leal escudeiro de Logan (Brian Cox). (Crédito: HBO)

Jeremy Strong brilha como Kendall Roy, o filho atormentado e ambicioso que busca a aprovação de seu pai. Sarah Snook está excelente como Shiv, entregando as emoções de sua atuação no olhar, e interpretando uma mulher que busca seu lugar sob os holofotes em um universo completamente masculino. Kieran Culkin entrega todo o seu carisma no papel de Roman, que passa de um jovem desajeitado nas primeiras temporadas para um homem que teme mostrar-se frágil na frente dos outros. Em suas cenas mais juvenis, não dá para deixar de ver traços do irmão do ator Macaulay Culkin no clássico Esqueceram de Mim.

Já Matthew Macfadyen como Tom traz camadas adicionais de complexidade ao personagem que interpreta. Destaque para a cena excepcional da briga entre Tom e Shiv na varanda no episódio 7 – o momento, no qual eles colocaram em pratos limpos tudo o que lhes incomodava, foi o mote para o relacionamento entre eles no restante da temporada.

De Big Little Lies e Tarzan para Succession

Entre os atores convidados, Alexander Skarsgård evoca em Matsson o estilo misterioso de seu personagem em Big Little Lies, outra produção celebrada da HBO. O ator traz uma faceta diferente, imprevisível, especialmente durante suas trocas com Sarah Snook. A cena de Matsson e Tom no restaurante no último episódio surpreendeu – não só pelo diálogo bem roteirizado, como também pela sutileza nas atuações. 

Alexander Skarsgård como Lukas Matsson foi o calcanhar de Aquiles da família Roy
Alexander Skarsgård como Lukas Matsson foi o calcanhar de Aquiles da família Roy (Crédito: HBO)

Uma Sucessão Implacável de Intrigas e Ambição

Nesta 4ª temporada, a série mantém sua essência e nos presenteia com uma narrativa complexa e afiada, abordando temas como ganância, poder e as dinâmicas familiares disfuncionais. Entre os momentos marcantes da temporada, destacam-se brigas explosivas entre personagens, a jornada emocional de Kendall e uma morte que abala os alicerces da família Roy. Cada episódio é meticulosamente construído, repleto de diálogos afiados e reviravoltas que mantêm o espectador vidrado na tela. A trama se desenvolve de forma magistral, nos fazendo questionar quem está realmente no controle e quais serão as consequências das escolhas de cada personagem.”

Tal como nos anos anteriores, Kendall, Shiv e Roman continuam com o dilema: tentar agradar o pai, ferrar com os planos dele, passar por cima dos irmãos, ou unir forças para botar pra frente o plano da “família Roy vs o mundo”. Todos querem aprovação, mas nenhum tem final feliz. E o machismo… ah, o machismo, como sofre Shiv Roy com o mundo corporativo sexista.

Quem morre em Succession?

Ao mesmo tempo, testemunhamos o poderoso patriarca Logan Roy enfrentando sua própria mortalidade. Brian Cox acredita que seu personagem se foi cedo demais, que ele deveria durar mais alguns episódios. Porém, a decisão dos criadores foi muito acertada, e em um capítulo surpreendente, durante o casamento de Connor (Alan Ruck). Foi propositalmente feito a partir do ponto de vista de Kendall, Shiv e Roman, gerando dúvidas e tensões nos espectadores. Tal como toda a temporada.

A Batalha pela Coroa Empresarial Atinge Novos Patamares

A Jornada de Kendall Roy: Fracasso, Redenção e Desafios Épicos

Kendall Roy (Jeremy Strong) foi do luxo ao lixo mais de uma vez em sua jornada de Succession
Kendall Roy foi do luxo ao lixo mais de uma vez em sua jornada de Succession (Crédito: HBO)

No centro da narrativa da 4ª temporada está Kendall Roy, cuja jornada é o ponto alto do enredo. Kendall, interpretado com maestria por Jeremy Strong, nos envolve em seu mundo de angústia, buscando incessantemente a aprovação de seu pai enquanto lida com seus próprios demônios. Sua busca por redenção e sua coragem de desafiar o status quo culminam em momentos emocionantes e revelações chocantes. As apunhaladas pelas costas provam o que sempre sabíamos: negócios, negócios, família à parte.

Desde o primeiro episódio da primeira temporada, a pergunta que não queria calar era: quem iria assumir a presidência da empresa Waystar Royco após a saída de Logan Roy? Do coma do patriarca na primeira temporada, passando por um afastamento forçado, uma suposta aposentadoria (mas que o mantinha no controle da empresa por baixo dos panos), até a chocante morte de Logan no 3º episódio da 4ª temporada, a dúvida ficou. 

Especialmente quando um documento sugeria o nome de Kendall Logan Roy – sublinhado ou riscado, não se sabe – deixando no ar se a promessa que seu pai tinha feito quando ele tinha 7 anos de idade se concretizaria. Tal como um príncipe cujo reinado é prometido desde antes de ser concebido.

Kendall, Shiv e Roman: dos três mosqueteiros para a tragédia de Macbeth

Kendall, Shiv e Roman protagonizam uma das melhores cenas da 4ª temporada de Succession (Crédito: HBO)
Kendall, Shiv e Roman protagonizam uma das melhores cenas da 4ª temporada de Succession (Crédito: HBO)

Kendall nunca foi estratégico o suficiente para liderar. Nem tampouco seus irmãos. Cada um só agia por seus motivos pessoais. A analogia da cena do queijo, a interação quase juvenil dos três irmãos, coroando Kendall com “uma refeição digna de um rei”, aponta o teor do relacionamento deles. Uma irmandade que se encontra no verão, na casa da mãe em um fim de semana, e no resto do tempo não hesitam em atropelar os outros em prol de si.

Para eles, o que importa é a Sucessão, quem vai ficar com o “Trono de Ferro” de Logan Roy. Não importa o dinheiro, o que eles almejam é poder, é ganância. Tal como os grandes poderosos das empresas multimilionárias – quiçá bilionárias – desse mundão. Que nunca nem andaram entre os reles mortais: só andam com motorista, tem assistentes, roupa passada, sapato limpo de quem nunca andou no asfalto. Daqueles que nunca usaram uma bicicleta alugada para não se atrasar para um funeral (Primo Greg que o diga!), nem sonham em comer um cachorro-quente – ou hot dog – na saída do metrô. Essa distância social fica ainda mais evidente na cena em que Roman adentra uma manifestação e percebe que, ali, nas ruas, sozinho, ele é pequeno e frágil.

Por ironia do destino… ou de Shiv Roy

O mais irônico é que, no fim, nenhum deles conseguiu o que almejava. Tom, que sempre fora tanto o puxa-saco quanto o servo leal de Logan Roy, foi coroado por ninguém menos do que sua esposa, mãe de seu futuro filho ou filha. Pode-se pensar que foi adequado que ele tenha ficado com o cargo de CEO. Shiv, por sua vez, fez a escolha que mais a beneficiasse, ainda que talvez tenha perdido a autonomia no processo. Eles mais de uma vez ao longo da série tiveram discussões sobre comandar juntos — e finalmente aconteceu. Uma “conquista”, com muitas aspas, e um gosto amargo na boca.

Shiv (Sarah Snook) coroou Tom (Matthew Macfadyen) como CEO da Waystar Royco em Succession
Shiv (Sarah Snook) coroou Tom (Matthew Macfadyen) como CEO da Waystar Royco (Crédito: HBO)

O Legado de Succession e sua Importância no Panorama Televisivo

Succession é mais do que apenas uma série sobre poder e riqueza. É uma análise afiada das dinâmicas sociais e políticas presentes em nossa sociedade. Através de seu humor ácido e diálogos inteligentes, a produção nos leva a refletir sobre a natureza humana e os efeitos corrosivos do poder desmedido. Com uma temporada final que alcança o auge, Succession solidifica seu lugar como uma das melhores séries de drama da atualidade.

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