Esta mistura de terror e ficção científica, exclusiva da Netflix, é a exemplificação máxima deste novo momento do cinema espanhol: uma trama perturbadora, cheia de violência e de bizarrices, com um forte contexto social. Em uma linha semelhante ao 'O Expresso do Amanhã', de Bong Joon-ho (diretor de 'Parasita'), 'O Poço' faz da premissa e do design de sua produção uma metáfora visual para a organização das classes sociais, da sociedade e da desigualdade econômica. O diretor estreante Galder Gaztelu-Urrutia -- junto com seus roteiristas David Desola (escritor de 'Almacenados') e Pedro Rivero (diretor de 'Psiconautas, As Crianças Esquecidas') -- exploram ressentimentos gerados por essas diferenças sociais.
Ainda que este suspense seja mais convencional do que ‘O Poço’, impossível não notar traços do cinema espanhol moderno de suspense. Dos irmãos Álex e David Pastor (dos filmes 'Infected' e 'The Last Days', bem-sucedidos em seu país de origem), ‘A Casa’ é um longa-metragem arrepiante que, mais do que um thriller, mergulha no cenário complexo da Espanha contemporânea, expondo os absurdos alcançados por nossa obsessão pelo "sucesso", seja lá o que isso signifique. A atuação enlouquecida de Javier Gutiérrez (vencedor do Prêmio Goya por 'O Autor') nos arrasta nessa descida perturbadora à loucura e obsessão, que tem raízes muito mais realistas do que muitos de nós podem pensar.
É um filme polêmico, assim como ‘O Poço’, que divide o público. Alguns amam, outros odeiam. No entanto, nada de violência ou distopia. Aqui, o diretor Daniel Calparsoro (do interessante ‘A Ciegas’) brinca com a temporalidade dos acontecimentos com um clima de paranoia intenso. São brincadeiras narrativas que provocam com as possibilidades do filme e, acima de tudo, cutucam o espectador -- que é enganado a cada cena, a cada diálogo, a cada reviravolta. Interessante, também, notar as atuações poderosas de Aura Garrido (da série Netflix 'O Ministério do Tempo') e Belén Cuesta (de 'Paquita Salas'), que ajuda a criar o clima poderoso de medo e suspense que envolve essa história tão estranha e ousada.
Este filme, de 2009, talvez tenha sido a semente desse cinema rico em horror, suspense e paranoia. Afinal, quando ‘[REC]’ estreou, o recurso “found footage” já era amplamente conhecido, mas o filme é uma demonstração de que, nas mãos certas, o recurso pode ser usado para uma experiência de horror gloriosa e imersiva que será difícil de esquecer. Ele é assustador, poderoso e, acima de tudo, instiga o espectador a mergulhar nessa trama intensa e provocadora. Dirigida por Paco Plaza e Jaume Balagueró, esta produção é um dos expoentes mais lembrados dos filmes de terror e zumbis até agora no século XXI.
Depois de dar o pontapé no cinema de horror espanhol com ‘[REC]’, o cineasta Paco Plaza também embarcou em suspenses menos assustadores e mais perturbadores, psicológicos e provocativos. Thrillers, na verdade. No caso de ‘Quem Com Ferro Fere’, acompanhamos uma história de intriga e vingança sem grandes pretensões, mas com uma excelente execução do roteiro escrito a quatro mãos por Juan Galiñanes e Jorge Guerricaechevarría (roteirista de ‘As Bruxas de Zugarramurdi’). Além disso, o filme é estrelado pelo sempre espetacular Luis Tosar ('Cela 211'), que foi indicado ao Goya Award pela performance.