O terror corporal ganhou em 2024 um dos seus melhores exemplares desde Titane com A Sustância, da diretora francesa Coralie Fargeat (Vingança do Além), premiada como Melhor Roteiro no Festival de Cannes. Em uma abordagem semelhante a O Retrato de Dorian Gray (mas com outros tons de política feminista), o filme narra as medidas extremas que uma apresentadora de um programa de fitness na TV (Demi Moore) está disposta a tomar para recuperar as glórias reservadas por uma indústria machista para mulheres mais jovens e atraentes. Após uma injeção de procedência duvidosa, seu lugar é ocupado por uma versão mais jovem e bela de si mesma (Margaret Qualley), com uma vontade de viver e conquistar o mundo típica de sua idade. Não demora para que o delicado equilíbrio entre ambas se rompa (uma representação engenhosa da dismorfia e do etarismo), com resultados cada vez mais grotescos, brutais e, acima de tudo, divertidos.
Não é possível falar sobre grandes filmes de body horror sem falar sobre o diretor canadense David Cronenberg, talvez o maior expoente do subgênero. 'A Mosca', apesar de ser um remake, é provavelmente seu filme mais conhecido, além de ser um manual de body horror para iniciantes. A trama segue um cientista (Jeff Goldblum) que está prestes a criar uma máquina que permite o teletransporte de seres vivos. No entanto, quando ele decide experimentar em si mesmo, uma mosca se infiltra na máquina, fundindo seu DNA com o dela e desencadeando uma transformação grotesca. Temas como a perda de identidade, a permanência do ser, luta entre consciência e instinto estão no centro de uma trama que vê Goldblum gradualmente se tornar grotesco.
Inspirada em Cronenberg, a francesa Julia Ducournau transfere as imagens chocantes do body horror para temas como gênero, sexo, maternidade e família. Em 'Titane', acompanhamos uma mulher estranha que, ao cometer uma série de assassinatos e fazer sexo com um carro, assume a identidade do filho perdido de um bombeiro. Com seu corpo se transformando com a gravidez e vagando entre os gêneros masculino e feminino, ela explora seu lugar na estranha família que forma com seu novo 'pai', enquanto algo estranho se desenvolve dentro dela.
Tal pai tal filho. Brandon Cronenberg, filho de David, também se aventurou na ficção científica e no body horror com uma proposta muito interessante e adequada ao nosso mundo tecnológico. 'Possessor' segue uma mulher assassina que trabalha para uma organização misteriosa que opera através de implantes mentais. Eles permitem que ela entre na mente de outras pessoas para cometer assassinato. No entanto, uma dessas mortes dá errado e sua mente fica presa na de uma de suas vítimas. As chocantes imagens sangrentas funcionam em um nível metafórico, mostrando a transformação gradual e perturbadora de uma mente se perdendo em outra.
O 'Suspiria' original era, sim, um slasher mais parecido com os giallos (gênero literário e cinematográfico italiano) dos anos 1960 e 1970. Seu remake de 2018, no entanto, abraça totalmente uma estética de body horror, embora siga um enredo muito semelhante ao do original. Na trama, uma aspirante a bailarina é aceita em uma prestigiosa academia de balé, onde mortes violentas sugerem a presença de bruxaria. Com direção de Luca Guagdagnino, esta versão aborda temas mais ambiciosos, como a transformação da identidade e do corpo através da dança.