Poucas produções são tão marcantes para a cultura pop quanto a série 'Batman', produzida entre 1966 e 1968. Afinal, só aquela década poderia nos brindar com uma mistura tão rocambolesca! Os gibis do Homem-Morcego, a explosão de saturação da recém-chegada TV em cores, a cultura camp e da pop art de Andy Warhol, o rock'n'roll (ainda em sua fase "iê-iê-iê") e os últimos ares de inocência no mundo ajudaram a criar um mito que cruzou décadas. O longa-metragem 'Batman: O Homem-Morcego' foi produzido na esteira do sucesso na televisão, com o produtor William Dozier percebendo que poderia levar multidões também para os cinemas. O resultado é exatamente aquilo que vemos na série: muito exagero, um roteiro quase infantil e situações que, mesmo para a época, já eram pra lá de bobas. Porém, o longa abraça tudo isso com louvor, afirmando logo de cara que está ali também para os amantes do absurdo. Por isso, temos um filme que fará as crianças bem pequenas se empolgarem, enquanto os adultos vão rir do humor nonsense. Há, até, um subtexto sobre a necessidade da união global - algo importante na Guerra Fria, mas também muito relevante para as gerações atuais. Se você achar que o Cavaleiro das Trevas é apenas aquela encanação cinzenta dos filmes de Christopher Nolan e Zack Snyder, dê o play com o coração aberto e prepare-se para se descobrir que, sim, o Batman pode ser barrigudo e que o Coringa pode ter um bigode por baixo da maquiagem. Curiosidade: 'Batman' e 'Batman, O Homem-Morcego' foram produzidos antes da DC Comics se tornar parte do mesmo grupo da (hoje) WarnerMedia - por isso, as duas produções eram da 20th Century Fox e, no streaming, atualmente estão nas mãos da Disney, dona da plataforma Star+.
Um dos primeiros super-heróis dos quadrinhos, o Batman só foi realmente adaptado para a tela grande (desconsiderando o filme anterior, que foi um desdobramento de uma produção de TV) em 1989, em um grande projeto liderado pelo diretor Tim Burton - que já havia feito um enorme sucesso com ‘Os Fantasmas se Divertem’. O roteiro busca inspiração em grandes HQs do herói, como ‘A Piada Mortal’ e ‘O Cavaleiro das Trevas’, além de agregar elementos em comum a outros longas assinados por Burton – como o visual estilizado e uma problemática relação entre pais e filhos, o que cai como uma luva no personagem. O protagonista é vivido por Michael Keaton, até então reconhecido pelos papeis de humor, mas quem rouba menos a cena é o Coringa de Jack Nicholson, que mistura elementos do vilão dos gibis dos anos 1970 com aquele ar de gangster característico de vários personagens interpretados pelo ator. Pelo olhar de hoje, alguns elementos podem parecer datados, mas ‘Batman’ é ainda um divertido filme de super-herói.
Depois do sucesso de ‘Batman’, a Warner deu luz verde para um segundo filme do Homem-Morcego. ‘Batman: O Retorno’ aprofunda a visão melancólica de Tim Burton do universo do herói, desta vez introduzindo dois novos vilões: a Mulher-Gato de Michelle Pfeiffer (que marcou época com seu figurino e interpretação) e o Pinguim de Danny DeVito – sem falar na importante presença de um terceiro antagonista, vivido por Christopher Walken. Talvez o grande problema do longa esteja justamente aí: o excesso de vilões, que competem pelo tempo de tela, e pela repetição da fórmula de Burton com o Pinguim, transformado-o em um homem angustiado por causa dos problemas que teve com os pais. Ainda assim, é um longa extremamente competente, que consegue capturar a atenção do público.
Depois de ‘Batman: O Retorno’, a franquia continuou dentro de uma mesma linha cronológica – mesmo que com outro ator sob o capuz. Sob o comando do diretor Joel Schumacher (‘O Fantasma da Ópera’), o Homem-Morcego retornou em uma mistura da estética de Tim Burton com os excessos visuais dos anos 1990. O resultado é um filme que lembra, em alguns momentos, a série de TV dos anos 1960. O personagem-título é vivido por Val Kilmer, além de ser introduzido um novo herói: o Robin, interpretado por Chris O’Donnell. Juntos, eles enfrentam o Duas Caras de Tommy Lee Jones e o Charada de Jim Carrey – que, até hoje, desperta amor e ódio dos fãs por sua atuação cheia de maneirismos. Longe de ser o melhor filme do personagem, mas não deixa de ser um interessante retrato de uma época.
‘Batman: Eternamente’ foi um fracasso de crítica, mas um sucesso de público – o suficiente para incentivar um quarto filme do personagem, ainda situado dentro da mesma cronologia iniciada em 1989. Novamente sob o comando de Joel Schumacher, o longa aposta na mesma estética exagerada que marcou a passagem do diretor pelo herói. A grande adição aqui é o humor, muito mais presente do que nos filmes anteriores – ainda que resulte em sequências dignas de vergonha alheia, como aquela do Homem-Morcego usando o “batcartão”. Desta vez, quem está sob o capuz é George Clooney. Também temos o retorno do Robin (Chris O’Donnell) e a introdução de uma nova heroína, a Batgirl (Alicia Silverstone). Juntos, eles enfrentam os vilões Hera Venenosa (Uma Thurman) e Sr. Frio (ele mesmo, Arnold Schwarzenegger). Não é, como cinema, um bom filme, mas marcou a infância de muita gente justamente por causa de sua história fácil, com apelo entre as crianças.