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“Não abro meu cinema”, diz diretor da Reserva Cultural sobre flexibilização da quarentena
Jean-Thomas Bernardini vê com preocupação a flexibilização da quarentena e diz que reabre o cinema só se estiver seguro
O francês Jean-Thomas Bernardini, diretor da Reserva Cultural, está preocupado com as contas. Afinal, seus dois cinemas em São Paulo e Niterói (RJ) estão fechados. Nem o bistrô dentro da unidade da Avenida Paulista encontrou meios de funcionar. No entanto, ainda assim, ele não pensa em relaxar o isolamento social e nem quer abrir as suas salas imediatamente.
Para ele, a nova quarentena em São Paulo chegou no momento errado. Afinal, a capital paulista continua sendo o epicentro da pandemia do novo coronavírus no País. São cerca de 123 mil casos confirmados na cidade e mais de 8 mil mortos. Bernardini acredita que colocar a abertura dos cinemas no horizonte é um perigo fruto de uma “falta de coordenação”.
Ainda que, com as fases, a reabertura dos cinemas possa acontecer na capital apenas entre julho e agosto. A estimativa do Reserva era setembro.
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“Não estou entendendo nada. Afinal, a curva está subindo, a ciência mundial fala que é momento de quarentena. E já estão discutindo de abrir as salas? Não abro meu cinema”, afirma o francês ao Filmelier. “Não vou colocar em perigo clientes, meus funcionários. Há risco físico, psicológico. Se falarem para abrir semana que vem, não abro. Só com segurança”. Além disso, o dono do Reserva acredita que essa falta de coordenação entre governos está criando uma maior insegurança. Na cidade de Niterói, onde fica o outro cinema de Bernardi, são 122 mortes pela covid-19. Tudo ainda fechado. “Há algumas semanas, pensavam em fechamento total. Tá difícil de entender. Cada vez mais, parece que é cada um por si. Não dá assim”.
Retomada da Reserva Cultural
A insatisfação do francês com a nova quarentena vai além da discussão precoce sobre reabertura de cinemas. Primeiramente, Jean-Thomas ressalta que os protocolos adotados pelo estado são inviáveis. Dentre outras coisas, cinemas terão que higienizar as salas entre as sessões, manter uma capacidade máxima de 35% e recomendar uso de máscaras dentro da sala. “Essas medidas vão nos inviabilizar financeiramente. Não tem como manter o cinema funcionando, com tudo aberto e à disposição, com salas com menos da metade, limpeza reforçada”, afirma o dono do Reserva. “Acredito que ainda precisamos de tempo para entender o que é necessário. Hoje, ainda somos vítimas de muitas interpretações políticas. Complicado”. Consultado pelo Filmelier, o infectologista Marcelo Otsuka ressaltou essas necessidades. “Acreditamos que é importante pular duas cadeiras entre as pessoas, pra frente, pra trás e para os lados”, afirma o médico. “É preciso usar máscara durante a sessão, evitar de comer pipoca ou tomar refrigerante. E a manutenção constante dos filtros do ar-condicionado”. Além disso, Bernardini pontua que faltou um maior auxílio do governo às entidades do setor. “Há uma má gestão da crise do coronavírus”, acrescenta o empresário. “Mas acredito que a Agência Nacional do Cinema (Ancine) terá consciência e irá liberar fundos para salvar o setor. Se não tivermos isso nem preocupação com saúde, tenho medo da reabertura fracassar”.
Novos recursos
Apesar do momento desafiador e imprevisível, Jean-Thomas tem investido em diferentes frentes para gerar algum lucro para o Reserva e também para a Imovision, distribuidora sob a alçada do empresário francês. Primeiramente, a empresa resgatou um pedido antigo de cinéfilos e colecionadores: o lançamento de DVDs com títulos lançados pela Imovision. “Já fazia algum tempo que estávamos pensando em voltar com os DVDs. Afinal, deixamos de vendê-los numa época em que o mercado estava desanimado. Toda semana tinha empresa do setor fechando”, conta Jean. “Agora, o clima é diferente. Tem cinéfilos pedindo a mídia física. Nos surpreendeu. Assim, nós já estamos tendo um lucro que não esperavámos”. Além disso, Bernardini conta que está avaliando a proposta de abertura de um drive-in com a marca do Reserva. “Nós recebemos algumas propostas, estamos avaliando”, conta o francês, animado. “Precisamos entender o espaço de lotação, o valor e o tempo que isso vai durar. Afinal, antes de tudo, precisamos compreender se esse é um investimento que vale fazer”.