A história por trás de um agradecimento em ‘Homem-Aranha: Sem Volta para Casa’ A história por trás de um agradecimento em ‘Homem-Aranha: Sem Volta para Casa’

A história por trás de um agradecimento em ‘Homem-Aranha: Sem Volta para Casa’

O novo filme do Homem-Aranha traz à tona o nome do responsável por sedimentar o herói na sétima arte: Avi Arad; conheça a trajetória do produtor

21 de dezembro de 2021 08:43
- Atualizado em 22 de dezembro de 2021 01:19

Esta lá, no meio dos créditos: os envolvidos em ‘Homem-Aranha: Sem Volta para Casa‘ agradecem ao produtor Avi Arad por toda a jornada do Escalador de Paredes nos cinemas. Talvez você não conheça esse nome, mas é um tributo relevante para um homem que tem a sua importância na construção da Marvel nos cinemas – além de ter se envolvido em polêmicas e ter uma relação conturbada com o presidente do estúdio, Kevin Feige.

Uma jornada que começou lá nos anos 1990, quando a Casa das Ideias enfrentou o seu pior momento: a falência. Por isso, sem Arad, todo esse frisson envolvendo o novo filme do Aranha talvez não existisse, assim como todo o Universo Cinematográfico Marvel. Se bobear, a própria Marvel talvez fosse, hoje, apenas uma distante memória.

Para contar essa história, precisamos voltar um pouco no tempo.

Avi Arad e Stan Lee em 2002, no lançamento de 'Homem-Aranha' (crédito: divulgação / Sony Pictures)
Avi Arad e Stan Lee em 2002, no lançamento de ‘Homem-Aranha’ (crédito: divulgação / Sony Pictures)

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Nos tempos da Marvel Entertainment Group

Tudo começa ainda no início dos anos 1990, quando a Casa das Ideias atendia pelo nome de Marvel Entertainment Group (conhecida pela sigla MEG) e era propriedade do empresário Ronald Perelman. Em 1993, a empresa comprou 46% da ToyBiz, um fabricante de brinquedos que, em troca, ganhou o direito de produzir produtos licenciados a partir dos personagens da Marvel.

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Avi Arad era justamente o coproprietário da ToyBiz e, como parte do acordo, levou também a presidência de uma recém-criada subsidiária da MEG, a Marvel Films – empresa feita para supervisionar a produção de produtos audiovisuais para televisão e cinema. Com Arad na liderança, as clássicas animações do Hulk, X-Men e Homem-Aranha dos anos 1990 tomaram forma, por exemplo.

Para Perelman, a Marvel era uma “mini-Disney” já naquela época, por conta do potencial que seus personagens representavam. Porém, o executivo não conseguiu evitar a derrocada da MEG, que passou a ter prejuízos após a implosão do mercado especulativo de HQs nos EUA.

Em dezembro de 1996, o grupo recorreu ao Capítulo 11, Título 11, da Lei de Falências dos EUA – o que, aqui no Brasil, é conhecido como concordata. Ou seja, a MEG, em busca de evitar a sua falência, precisava apresentar um plano para quitar junto aos credores todas as suas dívidas.

Após um processo extremamente complicado, quem surgiu com força para resolver o problema foi justamente a ToyBiz. Antes em parte propriedade da MEG, a fabricante de brinquedos comprou o grupo dos bancos credores. As duas empresas fundiram-se, tornando-se a Marvel Enterprises – hoje, Marvel Entertainment.

Junto, os antigos sócios da ToyBiz ganharam força. O empresário Isaac Perlmutter se tornou o CEO do novo grupo, enquanto o sócio dele, o Avi Arad, continuou à frente da subsidiária responsável pelo licenciamento para cinema e TV – agora renomeada Marvel Studios.

Foi aí que finalmente o estúdio passou a se tornar peça central do plano de reestruturação da Casa das Ideias. Se até então a Marvel era famosa por fechar acordos que resultavam em filmes baratos ou que nunca saíam do papel, esse processo se acelerou. Por meio de um já firmado acordo com a 20th Century Fox e com outros estúdios, como a New Line, longas-metragens como ‘X-Men’, ‘Blade’, ‘Demolidor’ e ‘Quarteto Fantástico’ finalmente começaram a se tornar realidade.

Lançado em 2000, 'X-Men: O Filme' se tornou um hit nos cinemas (crédito: divulgação / 20th Century Fox)
Lançado em 2000, ‘X-Men: O Filme’ se tornou um hit nos cinemas (crédito: divulgação / 20th Century Fox)

Foi a receita daqueles licenciamentos, junto com o resultante boom de vendas das histórias em quadrinhos e na audiência das animações derivadas, que definitivamente tirou a Marvel Entertainment da posição de fragilidade – em parte, resultado do esforço de Avi Arad, que, a essa altura, já tinha um assistente de produção chamado Kevin Feige.

Entra o Homem-Aranha

Um dos personagens mais famosos da Marvel, o Homem-Aranha, tinha uma situação mais complicada. Vítima das idas e vindas da Casa das Ideias a partir dos anos 1980, o herói foi licenciado para diferentes empresas, com projetos que nunca foram para frente e fizeram com que esse licenciamento caísse em um limbo jurídico.

Na época do processo de restruturação da Marvel Entertainment, os direitos de adaptação do personagem estariam nas mãos da MGM, que comprou um projeto originalmente liderado por James Cameron (de ‘Titanic’) do estúdio Carolco Pictures. Porém, em 1999, a Marvel Studios vendeu esses mesmos direitos para a Sony Pictures, dona da Columbia, que também ficou sócia da empresa responsável por licenciar o Aranha para brinquedos e produtos relacionados, a Spider-Man Merchandising.

Um acordo teve que ser costurado, com a Sony abrindo mão dos direitos de adaptação de ‘Casino Royale’ e ‘Thunderball’ (dois livros de James Bond que havia adquirido anos antes) para a MGM. Em troca, ficou como a única responsável pelas adaptações do Amigão da Vizinhança.

Não se sabe exatamente como Avi Arada participou da solução daquele conflito. Ao que parece, o executivo foi peça-chave na negociação, emergindo como um importante produtor nos filmes do Homem-Aranha que se seguiram – tendo mais voz criativa nos longas do herói do que nas adaptações da Fox, por exemplo. De qualquer forma, seja mais ou menos, todos aqueles longas até meados dos anos 2000 devem algo ao produtor.

'Homem-Aranha', de 2002, deve muito à Avi Arad (crédito: divulgação / Sony Pictures)
‘Homem-Aranha’, de 2002, deve muito à Avi Arad (crédito: divulgação / Sony Pictures)

“Eu acho que a mais importante é levar o personagem a sério. Eles não são ficção. Não são mesmo”, explicou Arad em entrevista ao Judão, em 2012. “Eu sempre olhei para os superpoderes como uma metáfora. Os poderes são como se fossem o teste definitivo para eles. Tudo que você conseguir superar, porque os poderes corrompem… Então, pra mim, eu acho que o que fizemos no Marvel Studios, e até mesmo antes disso, na Marvel Comics, quando começamos com os filmes, nós levamos à sério.

Arad ficaria na Marvel Studios até 2006, em uma saída que, até hoje, também se sabe muito pouco. O que é público é que, no ano anterior, a Marvel conseguiu o dinheiro que precisava para financiar seus próprios filmes, com total controle criativo, e costurou acordos de distribuição com Paramount e Universal para produzir, respectivamente, ‘Homem de Ferro’ e ‘O Incrível Hulk’. Nascia o Universo Cinematográfico Marvel.

Com a saída de Arad, Kevin Feige foi apontado como presidente da Marvel Studios.

Há duas versões para a dança das cadeiras, nenhuma com todas as respostas. A primeira, contada em um artigo da Bloomberg e que ouviu gente envolvida no processo (inclusive os dois), diz que Arad deixou a Marvel Studios por discordar da estratégia de produzir filmes próprios, deixando o caminho para Feige assumir a presidência.

Só que o próprio Avi nega isso. “Nossos parceiros financeiros [que bancaram os primeiros filmes] contaram com a minha reputação. Eu tive que trabalhar muito duro para combater os incrédulos. Eles acreditaram em mim e sem Homem de Ferro esse artigo nunca teria sido escrito”, respondeu o executivo numa entrevista ao Daily Mars. “Isso soa para você como alguém que tenha discordado da estratégia de ‘vamos fazer nossos próprios filmes’? Eu perdoo Kevin por seguir ordens e ficar com o crédito, mas eles não tinham alternativa”.

Em 2019, o produtor completou: “Tem várias teorias sobre isso, mas não importa. Eu tentei corrigir algumas delas, mas sempre pareceu a postura agressiva de alguém que está relutante”, disse Arad ao Deadline.

O que todos sabemos é que ex-presidente da Marvel Studios seguiu intimamente ligado ao Aranha, principalmente por meio de sua nova empresa, a Arad Productions. Os longas dirigidos por Sam Raimi e Mac Webb tiveram, e muito, o dedo dele – para o bem ou para o mal.

Ao mesmo Judão, Arad, por exemplo, assumiu a culpa por terem adicionado o vilão Venom a ‘Homem-Aranha 3’. Além disso, para alguns fãs, outras escolhas criativas do produtor não foram as mais felizes. Mesmo assim, aquelas produções do Amigão da Vizinhança foram um sucesso comercial.

Avi Arad e Kevin Feige, ao lado de Jennifer Connelly, em uma raríssima fotos juntos, ainda no set de ‘Hulk’ (crédito: reprodução)

Tudo isso mudou em 2015, após o mercado considerar ‘O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro’ um fracasso e a Sony passar por um ataque hacker que expos milhares de arquivos sigilosos, incluindo e-mails. Sem perspectivas de como resolver a situação, o estúdio fez um novo acordo com a Marvel Studios, hoje subsidiária da Disney.

A partir desse novo pacto, a Casa das Ideias pode, finalmente, apresentar uma nova versão do Homem-Aranha, agora dentro do Universo Cinematográfico Marvel e interpretada por Tom Holland. Ainda pelo novo acordo, é Kevin Feige e sua trupe que cuidam da produção dos novos filmes solo do personagem, com a Sony financiando e distribuindo.

Avi Arad seguiu como produtor executivo desses longas-metragens, mas apenas em título, sem qualquer envolvimento criativo – há quem diga que foi justamente pela inimizade com Kevin Feige. O produtor, no entanto, manteve um ativo valioso em conjunto com a Sony: poder fazer filmes live action com outros personagens relacionados ao universo do Escalador de Paredes (como ‘Venom’), assim como longas animados.

É daí que veio ‘Homem-Aranha: No Aranhaverso’, filme vencedor do Oscar e que acabou sendo uma grande inspiração para ‘Homem-Aranha: Sem Volta para Casa’.

Pois é, apesar de toda polêmica, se o público está em frenesi em todo o mundo – com o Homem-Aranha salvando os exibidores após quase dois anos de pandemia – é tudo mérito do que Avi Arad fez nessas quase três décadas.

Agradecimento mais do que justo, afinal.

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