Crítica: ‘Aquaman 2’ tem trama divertida, ainda que excessivamente picotada Crítica: ‘Aquaman 2’ tem trama divertida, ainda que excessivamente picotada

Crítica: ‘Aquaman 2’ tem trama divertida, ainda que excessivamente picotada

Apesar de um início confuso, ‘Aquaman 2’ acerta ao abraçar o ridículo e apostar na química entre Jason Momoa e Patrick Wilson

Matheus Mans   |  
20 de dezembro de 2023 14:37
- Atualizado em 4 de janeiro de 2024 12:44

A estreia de Aquaman 2: O Reino Perdido nesta quarta-feira, 20 de dezembro, marca também o fim de uma era. Este é o último filme do universo da DC nos cinemas a partir da concepção de Zack Snyder — agora, o próximo filme da marca será sob o comando de James Gunn, novo chefão do estúdio. Mesmo moribundo, em seus últimos suspiros de vida, o universo expandido da DC conseguiu terminar em uma boa nota com a aventura derradeira do Rei dos Mares.

É uma grande surpresa o filme ser acima da média — a reação da maioria das pessoas, saindo da sessão do filme, era predominantemente de surpresa. Afinal, nos últimos tempos, muitas notícias ruins circularam sobre o longa-metragem, principalmente sobre o mau desempenho na pré-venda e sobre cortes e regravações feitos, de última hora, para não deixar o espectador médio ainda mais confuso com o que está acontecendo no complicado mundo da DC.

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Além disso, há o fato psicológico e prático da coisa: em um mundo onde as pessoas gostam de assistir a filmes interligados, criando um só universo, o que a motiva para assistir a um filme de um mundo já fadado ao seu fim?

Aquaman 2, o último suspiro do universo da DC

O fato é que os primeiros 45 minutos de projeção de Aquaman 2 são frutos de todo esse caos nos bastidores, com cortes de participações especiais, como a Ben Affleck como Batman, e uma aparente redução das cenas de Amber Heard — esta última, negada por James Wan. O começo da história não poderia ser mais confuso: Arraia (Yahya Abdul-Mateen II) encontra um tridente que está carregado de uma energia maligna de um reino perdido de Atlântis.

Respire, Aquaman: longa-metragemcom Jason Momoa é a despedida do universo de Zack Snyder (Crédito: Warner Bros.)
Respire, Aquaman: longa-metragemcom Jason Momoa é a despedida do universo de Zack Snyder (Crédito: Warner Bros.)

Ainda que seja absurdamente poderoso, isso não fica claro narrativamente em cena — a não ser por um off do ator Randall Park tentando explicar o que está acontecendo. Nós, espectadores, não sentimos ameaça alguma, enquanto o Aquaman (Jason Momoa) parece saber algo que ninguém mais sabe. Ele acredita que esse poder todo, que ainda não é de seu conhecimento, exige a ajuda do irmão Orm (Patrick Wilson), preso após os acontecimentos do filme anterior.

Deu pra entender a confusão? O filme quer desesperadamente mostrar como o poder de Arraia é perigoso, mas não é eficaz nisso. Provavelmente, a cena que dá liga nisso se perdeu na sala de edição. As coisas começam a se movimentar e a acontecer em Aquaman 2 sem qualquer tipo de clareza. Parece que estamos navegando em águas turbulentas.

Até que chega a cena de Aquaman libertando seu irmão do cativeiro. É extremamente bem filmada pelo diretor James Wan (de Invocação do Mal), divertida e já dá um gostinho da química entre Wilson e Momoa. Pronto. É a deixa para o filme deslanchar. A partir desse momento, com cerca de 50 minutos de projeção, o roteiro de David Leslie Johnson-McGoldrick (do primeiro Aquaman) aposta nessa camaradagem dos personagens e, mesmo que ainda não fique 100% claro para a audiência qual é a ameaça de Arraia, funciona ao torcermos para esses dois personagens contraditórios.

“Entre tapas e beijos”

Muita coisa, é claro, não funciona. Continua ruim o estilo de filmagem de Wan para cenas de luta, com a câmera mexendo excessivamente e tremendo o tempo todo — ainda que, neste aqui, não tenha nenhuma aberração como a luta de videogame de Nicole Kidman do primeiro filme. Além disso, é evidente como o filme perdeu bastante de seu senso estético, um acerto em cheio de Aquaman, ao apostar em cores mais pasteurizadas e visuais bem batidos.

A química de Wilson e Momoa na tela é um dos pontos positivos de Aquaman 2 (Crédito: Warner Bros.)
A química de Wilson e Momoa na tela é um dos pontos positivos de Aquaman 2 (Crédito: Warner Bros.)

Ainda assim, percebe-se um coração na trama, que é divertida na medida certa. Despedida desse universo tão confuso, de notas tão baixas como tudo de Mulher-Maravilha 1984, os efeitos especiais de The Flash e a falta de sentido dentro do universo de Besouro Azul, Aquaman 2 mostra que, talvez, a DC tenha percebido que a grande marca ao se falar dos heróis do estúdio não é a escuridão, mas sim uma diversão despretensiosa, embarcando na falta de sentido geral.

Arrisco dizer, aliás, que Aquaman 2 poderia ser um ótimo filme se Wan tivesse embarcado no ridículo total — oras, estamos falando de um homem que se comunica com peixes! Aqui, quando brinca com o absurdo, como o tal polvo extremamente inteligente e uma cópia descarada do Jabba, the Hutt de Star Wars, a diversão engrena, ainda mais com a química de Momoa e Wilson em tela. O próprio CGI, bem melhor do que The Flash, trabalha em prol do absurdo.

No final, a relação de amor e ódio entre Aquaman e Orm parece a relação da DC com seu público. Cheia de altos e baixos, com erros grotescos no começo. Mas sabem, bem no fundo, que o segredo é não levar as coisas tão a sério. Fica a torcida para que Gunn aprenda com o bom resultado de Aquaman 2 e não volte a colocar a DC na escuridão.

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