Crítica de ‘Besouro Azul’: um pouquinho de filme no clichê Crítica de ‘Besouro Azul’: um pouquinho de filme no clichê

Crítica de ‘Besouro Azul’: um pouquinho de filme no clichê

‘Besouro Azul’ é diversão saudável quando não é um maratona de clichês do “latino” que beira a paródia

Lalo Ortega   |  
17 de agosto de 2023 09:08
- Atualizado em 21 de agosto de 2023 21:41

Existe um fenômeno curioso – ou até mesmo podemos dizer que se trata de uma tempestade – ao redor de Besouro Azul, novo filme de super-heróis da DC e Warner Bros. que chega aos cinemas neste 17 de agosto. Data que, a propósito, os fãs dos quadrinhos e sua casa editorial não deixaram de lembrar.

O filme estreia como desfecho de um ano turbulento para a hoje chamada DC Studios, subdivisão da Warner que passou por uma profunda reestruturação e mudança de direção no meio de uma série de fracassos de bilheteria em sequência, iniciada por Adão Negro no final do ano passado e que continua, até agora, com o polêmico The Flash.

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Como um dos últimos produtos da administração anterior do estúdio (embora com intenções de integrá-lo aos planos da nova), o filme chega, além disso, em um momento incômodo para Hollywood, que está passando por uma dupla greve de roteiristas e atores. Devido a isso, os estúdios estão impedidos de recorrer a seus elencos para promover seus filmes. Besouro Azul é a primeira produção de grande orçamento afetada por essa medida (seu custo de produção é estimado em US$ 125 milhões).

Assim, os fãs da DC, devotos quase ao grau de cegueira, têm se voltado para a internet para assumir as tarefas promocionais do filme, inundando as redes sociais com comentários e memes que se tornaram virais. Um gesto de boa vontade por parte do público que poucas produções recebem… ou merecem.

Besouro Azul é Homem de Ferro, but make it latino

Essa nova produção sob o selo da DC é atípica já que é uma história de origem, uma autêntica anomalia em uma indústria onde tudo é uma sequência, reboot ou remake e a franquia de super-heróis mais popular já está na sua entrega número 40. Ou 30? Quem está contando?

Ao contrário, Besouro Azul volta ao básico. Sua história trata de Jaime Reyes (Xolo Maridueña, estrela de Cobra Kai), um rapaz de origem latina que, após se formar, volta para a humilde casa de sua família nas margens da fictícia megalópole Cidade Palmeira. É um retorno agridoce: seu pai (Damián Alcázar, Viva o México!) está se recuperando de um ataque cardíaco, então a família está endividada e em risco de perder sua casa e sustento.

Xolo Maridueña, de Cobra Kai , protagoniza Besouro Azul (Crédito: Warner Bros.)

No entanto, em busca de trabalho, Jaime tem um encontro com Jenny Kord (Bruna Marquezine), parte da rica família por trás da megacorporação Kord Industries. É assim que ele acaba envolvido em uma intriga para obter um dispositivo simplesmente conhecido como “besouro”.

Este dispositivo acaba sendo um artefato de origem alienígena com mente própria que “escolhe” Jaime como seu hospedeiro humano. Assim, ele recebe os poderes de uma armadura que permite voar, disparar raios de energia, formar escudos e todo tipo de armas que possa imaginar, com um sistema de navegação inteligente integrado.

Além de suas origens marcadamente diferentes, Besouro Azul acaba sobrecarregado por um ar de monotonia porque tudo o que esse herói pode fazer, já vimos em outros lugares. É impossível não pensar no icônico voo à estratosfera em Homem de Ferro quando Jaime faz… bem, exatamente isso. Trocamos a voz de Paul Bettany pela de Becky G, e temos quase a mesma cena.

Dito isto, o filme depende de seus elementos mais singulares para se destacar, e tem momentos bons em que consegue. Aqui, obviamente, não temos um bilionário tentando se redimir, mas um jovem buscando entender o que lhe acontece e proteger sua família das consequências.

Besouro Azul tem charme e coração quando trata disso: a unidade da família diante de problemas maiores do que cada um de seus membros. Nesse aspecto, o elenco brilha mesmo quando seus papéis reforçam os clichês que deveriam ser o “manual de Hollywood sobre o latino”.

Tudo o que o Besouro Azul tem a oferecer, já vimos antes… e com menos estereótipos (Crédito: Warner Bros.)

E não é porque os estereótipos representados no filme sejam ofensivos, mas sim porque são simplesmente preguiçosos. Tudo o que vem à mente quando pensamos na comunidade latina nos Estados Unidos está aqui, quase ao nível da caricatura: desde o clichê da família barulhenta, até o da mulher latina de “temperamento forte”, passando pelo gosto exagerado pelo Chapolin Colorado até a inclusão de artistas musicais como Calle 13 e Mercedes Sosa.

Em outras palavras, quando o filme não é impulsionado pelo carisma coletivo de Xolo Maridueña e o resto do elenco, é pouco mais do que uma amálgama dos tópicos mais desgastados do cinema de super-heróis, misturados com os lugares-comuns mais preguiçosos do “latino” ao norte da fronteira do México com Estados Unidos. Uma “representação” que valeria a pena questionar antes de aplaudir.

A fantasia de poder anti-imperialista

Claro que aplaudir pode ser tentador, considerando os temas que Besouro Azul aborda em sua narrativa. Apenas na situação de seu protagonista, podemos identificar questões como a marginalização social por xenofobia, gentrificação e precariedade econômica e legal dos imigrantes latino-americanos nos Estados Unidos.

A outra parte da equação são os Kord: por um lado, Victoria Kord (Susan Sarandon, em um papel diminuto para seus talentos), presidente da empresa que, resumidamente, representa “o imperialismo em nome da democracia”. Por outro lado, temos sua sobrinha, Jenny, que tenta impedir que Victoria possua o besouro para seus fins armamentistas.

Para não entrar em detalhes e estragar a trama, basta dizer que a narrativa de Besouro Azul constrói uma fantasia onde o imperialismo sucumbe, a corporação se redime e os marginalizados prevalecem com o poder da família e da tecnologia alienígena hiperavançada. Uma fantasia tentadora, sem dúvida, mesmo vindo de uma corporação que reduz a representação de uma comunidade diversa a uma coleção de estereótipos e dá a tarefa por cumprida. Que venha o dinheiro na bilheteria.

Pelo menos parece que Adriana Barraza se divertiu muito.

Besouro Azul já está em exibição nos cinemas. Clique aqui para comprar ingressos.

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