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‘Órfã 2’ mostra como não é fácil fazer terror e suspense

Você pode não ter assistido ao filme ‘A Órfã’, mas são grandes a chance de saber como essa história termina – e cuidado que lá vem spoilers do primeiro filme. Na trama de 2009, dirigida pelo então pouco conhecido Jaume Collet-Serra (‘A Casa de Cera’), uma família adota Esther e as coisas começam a ficar sinistras. O motivo, descobrimos já no final, é que ela não é criança. É, na verdade, uma mulher com nanismo e que também é psicopata. Agora, a história dessa protagonista é contada desde sua origem com ‘Órfã 2: A Origem’, estreias nos cinemas desta quinta-feira, 15.

Dirigido desta vez por William Brent Bell (‘Boneco do Mal II‘), o novo longa-metragem tem uma missão complicada: dar conta de tapar os buracos do primeiro filme e, ao mesmo tempo, contar uma história interessante sobre como Esther surgiu e conseguiu ser confundida com uma criança – afinal, como que uma pessoa com nanismo foi parar em um orfanato? Qual foi a falha no sistema que originou isso?

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É, como dito, uma missão bem ardilosa. De um lado, há a memória afetiva das pessoas com essa produção com 13 anos de vida. Por outro, todas essas obrigações da história.

Pra começar, Isabelle Fuhrman

Logo de cara, um problema que não tem efeito especial que resolva: a protagonista Isabelle Fuhrman. Ainda que sua boa atuação como Esther seja um acalento em meio ao caos, não há como negar que ela cresceu. Oras, quando gravou ‘A Órfã’, tinha 11 anos. Hoje, tem 25 e gravou o segundo filme aos 24 anos. Logo, ela não é mais a criança que pode ser vista como uma pessoa com nanismo. Tem 1,60 metro e dá para ver no rosto dela as marcas de uma pessoa que já não é pré-adolescente. Como convencer o público que essa história se passou antes do primeiro filme?
Isabelle Fuhrman, com 24 anos, não é mais uma criança (crédito: divulgação / Diamond)

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Brent Bell sabe que tem esse problema em mãos e faz de tudo para dar um jeito. São inúmeras as cenas de Esther de costas. Inclusive no pôster oficial, repare. Quando faz planos abertos, é quase mandatório que ela esteja com o rosto encoberto. E nem sempre esse recurso funciona. Várias vezes dá para perceber que é uma criança como dublê de Isabelle Fuhrman. Fica uma sensação estranha. ‘Órfã 2: A Origem’, assim, te tira do filme em momentos que deveriam ser um mergulho. Causa até mesmo um certo desconforto cômico, já que percebe-se essas tentativas frustradas.

‘Órfã 2’ e a reviravolta fracassada

Esse problema com Fuhrman, porém, não é nada perto do problema central de ‘Órfã 2: A Origem’: uma reviravolta que encaixam ali na metade do filme e que simplesmente quebra o arco de tensão do longa-metragem. Mas vamos por partes: o novo filme, assim como o de 2009, mostra Esther se adaptando à vida em família – ainda que, desta vez, entrando nessa rotina de maneira bem diferente. Só que enquanto no outro ficamos nos perguntando o que pode ser aquela estranha garota, aqui já sabemos. Por isso, Brent Bell precisa trabalhar com o suspense, não com o terror.
É o medo de saber o que Esther vai fazer, onde estará, como vai se portar. Será que ela está ali no escuro? Será que vai fazer alguma coisa com o pai, com a mãe, com o irmão? É um suspense que vai surgindo aos trancos e barrancos, tendo que lidar com o problema de Fuhrman, mas que funciona no começo. Até essa tal reviravolta: a trama, assinada por David Coggeshall, David Leslie Johnson-McGoldrick e Alex Mace, muda de tom. Uma personagem na trama passa a ter uma relação diferente com Esther e pronto. Pluft. O diretor simplesmente não consegue mais criar suspense. É uma das decisões narrativas mais incongruentes do cinema dos últimos tempos. Não faz qualquer sentido. Ainda que a reviravolta em si cause um certo impacto, a forma como isso ressoa na trama a seguir é desastrosa. ‘Órfã 2’ se aproxima mais de uma comédia pastelão, se valendo inclusive da condição física da personagem para isso, do que um suspense. Brent Bell tende até mesmo a abraçar o inusitado, com esse clima totalmente diferente do original, mas a execução fica ainda mais estranha e capenga. ‘Órfã 2: A Origem’ simplesmente não tinha qualquer tipo de solução. Fica, no final, apenas o gosto amargo dessas produções que tentam desesperadamente se valer da nostalgia, cada vez mais apressada e artificial, sem nunca encontrar a magia que a memória pode trazer. É o vazio pelo vazio.

‘A Órfã 2: A Origem’ está nos cinemas. Se você quiser saber mais sobre o filme ou encontrar o link para comprar ingressos, clique aqui.

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Matheus Mans

Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.

Escrito por
Matheus Mans

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