Crítica: ‘A Pequena Sereia’ é filme genérico, mas que pode encantar

Longa-metragem de 'A Pequena Sereia' cai na eterna maldição dos live-actions da Disney, que parecem não ter nada de novo pra contar

Matheus Mans | 22/05/2023 às 13:00 - Atualizado em: 22/05/2023 às 13:06


Sabe quando alguém muito querido te liga ou te manda mensagem e não tem absolutamente nada de novo pra contar? Fica aquela lenga-lenga, aquele papo-furado que não chega em lugar algum, mas que até aquece o coração – afinal, estamos falando de uma pessoa que você gosta. É, estranhamente, essa a sensação que A Pequena Sereia passa. O live-action da Disney chega aos cinemas, em ampla distribuição, nesta quinta, 25.

Dirigido por Rob Marshall, o “mago dos musicais” conhecido por Chicago e O Retorno de Mary Poppins, o longa-metragem segue o caminho mais seguro dessas adaptações da Disney: vai no óbvio. Não tenta mudar a história como Mulan e Malévola e segue pelo caminho de trazer a essência (e quase tudo) da história original da animação, lançada em 1989. Dessa forma, lembra mais O Rei Leão e A Bela e a Fera – filmes bem esquecíveis.

A história, enfim, é a de sempre: Ariel (Halle Bailey) é uma jovem e ingênua sereia que faz um acordo com Úrsula (Melissa McCarthy), uma bruxa do mar, para trocar sua bela voz por pernas humanas para que possa descobrir o mundo acima da água e impressionar o encantador príncipe Eric (Jonah Hauer-King). Ainda temos, como eternos companheiros da sereia, Sebastião (Daveed Diggs), Linguado (Jacob Tremblay) e Sabidão (Awkwafina).

A Pequena Sereia é um bom filme?

Em resumo, sim. É um filme agradável de assistir. As músicas são bem coreografadas por Marshall, especialista no assunto, ainda que os efeitos especiais sejam o calcanhar de Aquiles da produção – depois de tudo que James Cameron fez em Avatar 2, um fundo do mar sem qualquer naturalidade soa como algo angustiante, ultrapassado. As caudas das irmãs de Ariel parecem peixe de mercado com corante: tudo ali é artificialmente exagerado.

No entanto, de novo, as músicas funcionam. Sejam embaixo d’água ou na superfície, elas são emocionantes e divertidas. Kiss the Girl continua sendo a mais dançante e engraçadinha, agora com uma breve atualização da letra por Lin Manuel Miranda, enquanto Under the Sea só não tira a coroa por ficar muito dependente dos efeitos. Já Part of Your World é aquela que comove, abala, faz as lágrimas correrem, tal qual na animação.

E elas funcionam não apenas pela habilidade de Marshall, mas também pelo bom elenco. Todos estão bem: desde a vilã inesperada de McCarthy (Missão Madrinha de Casamento), passando por um canastrão Javier Bardem como Tritão (Onde os Fracos Não Têm Vez) e, o grande destaque, Halle Bailey. Ela, que foi tão atacada nas redes sociais, mostra que merece o papel: sua voz é angelical e ela é a Pequena Sereia. Sem tirar, nem pôr.

Além disso, vale destacar uma diferença fundamental entre a animação de 1989 com o filme de agora: o romance entre Ariel e Eric é muito mais profundo. Enquanto a animação se segura em uma fagulha, o live-action tem uma trama muito mais estruturada e atenta ao que vivemos hoje. Ela não se apaixona sem querer: há uma personalidade em Eric que, em combinação com a personalidade de Ariel, gera uma paixão que não pode ser descartada.

O que motiva a Disney a fazer tantos live-actions?

E aí chegamos nesta pergunta central. Conforme o filme avançava, mesmo com os bons momentos, não parava de me perguntar: pra que? A maioria das cenas é um reflexo absoluto do que já vimos na animação. Tal qual A Bela e a Fera e O Rei Leão, falta criatividade. Também não existem cenas que, com atores reais, se tornam mais intensas ou divertidas – o que faz de Aladdin, por exemplo, um filme tão virtuoso, colorido e divertido.

Cena do live-action de A Pequena Sereia
Halle Bailey é a protagonista de A Pequena Sereia (Crédito: Disney)

E só tem uma resposta, que convenhamos é bastante óbvia: dinheiro. A Disney está atrás desses milhões que vão jorrar simplesmente por fazer um filme genérico, sem vida ou personalidade, mas que atrai o público pela nostalgia. Essa é a chave, não a qualidade. É difícil, levando tudo isso em consideração, impedir o sentimento de frustração tomar conta. É um filme que parece não ter nada de artístico, nada que revela sua própria personalidade.

Oras, colocar o Lin Manuel Miranda para trocar dois versos e fazer uma música não justifica. Nem sequer uma boa atriz no papel. A mesmice virou lugar-comum para a Casa do Mickey Mouse, que está vivendo de passado e não encontra lugar em um futuro criativo.

Confira o trailer de A Pequena Sereia:

A Pequena Sereia chega aos cinemas nesta quinta-feira, 25 de maio. Clique aqui para comprar ingressos.

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Matheus Mans
Matheus Mans

Jornalista especializado em cultura, gastronomia e tecnologia, cobrindo essas áreas desde 2015 em veículos como Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites. Já participou de júris de festivais e hoje é membro votante da On-line Film Critics Society. Hoje, é editor do Filmelier.

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