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Crítica: ‘Suzume’, uma viagem mágica pelas cicatrizes do Japão

Em ‘Your Name.‘ e ‘O Tempo com Você‘, as últimas duas fantasias animadas do diretor Makoto Shinkai, os fenômenos naturais desempenham um papel fundamental nas vidas de seus jovens protagonistas. No primeiro, um cometa provoca uma troca de corpos através do tempo e do espaço. No segundo, uma garota obtém a habilidade de controlar o clima. ‘Suzume‘, que chegou aos cinemas em 13 de abril, compartilha esse fio temático, mas com motivos e resultados profundamente diferentes.

Embora em suas duas produções anteriores, Shinkai conte fábulas sobre amores condenados pelos caprichos inamovíveis da natureza; neste filme, o diretor se apega, sem se desprender da fantasia, a um aspecto concreto da história japonesa que deixou cicatrizes profundas, tanto no país quanto em seus habitantes.

Sobre o que é ‘Suzume’?

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A história de ‘Suzume’ começa com a protagonista homônima, uma garota de 17 anos que leva uma vida tranquila na ilha de Kyūshū, no Japão. A adolescente vive com sua tia, depois de ter perdido sua mãe quando era pequena.
O primeiro encontro entre os protagonistas (Crédito: Sony Pictures / Crunchyroll)
No entanto, um belo dia, ela encontra na rua um misterioso e atraente viajante, Sōta, que pergunta se ela não viu uma porta em alguma área abandonada. Sobrecarregada pela curiosidade, ela o segue até um resort em ruínas, onde a única coisa que ainda está de pé é uma porta que leva a uma dimensão onde o tempo parece existir simultaneamente. Ao abri-la, Suzume permite que uma sombra gigantesca entre em nosso mundo, invisível para todos os outros, que ameaça causar uma catástrofe devastadora. Sōta, com a ajuda da garota e de uma chave mágica, consegue prender a sombra atrás da porta. No entanto, ele explica que seu trabalho é percorrer o Japão em busca dessas portas para fechá-las e avisa que a sombra voltará a sair em algum outro lugar do país. Assim, o casal embarca em uma jornada para evitar isso e reverter uma maldição que caiu sobre Sōta, com Suzume deixando para trás sua preocupada tia. Com essa trama, Shinkai nos oferece um road movie que percorre várias cidades do arquipélago oriental. Suzume conhece pessoas de diferentes ocupações, estilos de vida e tipos de família, que a ajudam a encontrar cada uma das portas. Enquanto isso, ela – e nós ao mesmo tempo – descobrimos a natureza do que está escondido atrás delas.
Sota é transformado em uma cadeira, em um dos momentos mais excêntricos da trama (Crédito: Sony Pictures / Crunchyroll)

A sombra do terremoto de Tohoku de 2011

Apesar de ter ambos os pés firmemente plantados na fantasia, Suzume é, entre os últimos filmes de Makoto Shinkai, o que mais se afasta do terreno metafórico para abordar alguns dos episódios mais dolorosos da história japonesa. Durante sua viagem, os protagonistas visitam outros locais em ruínas, os restos deixados pela passagem de devastadores terremotos. Referem-se ao Grande Terremoto de Kanto de 1923, e a data do terremoto de Tohoku, em 11 de março de 2011, desempenha um papel importante na narrativa. Estamos, portanto, diante de uma road movie animada que percorre com sensibilidade as cicatrizes do Japão: as sísmicas, mas também as emocionais. Embora o roteiro pretenda manter o segredo até perto do final, é fácil assumir que a protagonista perde sua mãe durante o que foi catalogado como o terremoto mais devastador da história do país asiático. Ou seja, a história dos terremotos na nação oriental é também a história de milhares de famílias fragmentadas ou destruídas. Crianças que ficam sem seus pais e parentes que devem carregar responsabilidades imprevistas. Mas Shinkai nos propõe que, apesar da dor, há esperança. A vida continua, impassível, após a tragédia. Mas sempre há a possibilidade de seguir em frente. As marcas ficam no coração, como uma ruína abandonada, uma cidade fantasma ou um novo prédio construído sobre os escombros. Mas há um futuro. Suzume, com todo o drama maximalista próprio do anime japonês e uma narrativa menos refinada que suas antecessoras, nos convida a lembrar que sempre há a esperança de cura. Talvez não possamos evitar que desastres aconteçam. Mas um dia, poderemos olhar para nossas versões infantis nos olhos e afirmar que tudo ficará bem.

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Confira o trailer de ‘Suzume’:

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Lalo Ortega

Lalo Ortega é crítico e jornalista de cinema, mestre em Arte Cinematográfica pelo Centro de Cultura Casa Lamm e vencedor do 10º Concurso de Crítica Cinematográfica Alfonso Reyes 'Fósforo' no FICUNAM 2020. Já colaborou com publicações como Empire en español, Revista Encuadres, Festival Internacional de Cinema de Los Cabos, CLAPPER, Sector Cine e Paréntesis.com, entre outros. Hoje, é editor chefe do Filmelier.

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Lalo Ortega

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