Crítica: ‘Nosso Amigo Extraordinário’ emociona com história inspiradora sobre solidão Crítica: ‘Nosso Amigo Extraordinário’ emociona com história inspiradora sobre solidão

Crítica: ‘Nosso Amigo Extraordinário’ emociona com história inspiradora sobre solidão

O que aconteceria se um alien pousasse no seu quintal? É sobre isso que reflete o belo e singelo ‘Nosso Amigo Extraordinário’

Matheus Mans   |  
11 de setembro de 2023 08:48
- Atualizado em 12 de setembro de 2023 14:53

A história de Nosso Amigo Extraordinário não poderia ser mais singela e bonita: Milton Robinson (Ben Kingsley) é um idoso rabugento, já beirando os 80 anos, que não tem muito o que fazer no seu dia a dia, usando boa parte de sua rotina para tentar resolver os problemas de seu bairro ou até mesmo de sua rua. No entanto, tudo muda na vida desse senhor quando uma nave extraterrestre pousa no quintal de sua casa e, de dentro, sai um alien que não fala inglês nem qualquer outra língua encontrada na Terra, mas que logo está sentado no sofá da casa de Milton Robinson.

Nosso Amigo Extraordinário é um bom filme?

Dirigido por Marc Turtletaub (produtor de Pequena Miss Sunshine) e estreia nos cinemas da última quinta-feira, 7 de setembro, o longa-metragem não tenta se complicar mais do que deve. O preâmbulo até a chegada do extraterrestre é curto, apenas para nos situar no universo de Milton e entender o que está passando, apesar de ver algumas pessoas diariamente no Conselho Municipal e ter contato com a filha, ele se sente mais distante dos outros do que nunca. Pode parecer um início apressado, mas é sob medida, ainda mais com a boa atuação do astro Ben Kingsley (Gandhi).

Nosso Amigo Extraordinário questiona: o que você faria com um alien no quintal de casa? (Crédito: Synapse Distribution)

Publicidade

O ator inglês, afinal, foge de qualquer retrato banal ou tosco de um velho rabugento — ao contrário do que vimos, por exemplo, no emocionante, mas clichê O Pior Vizinho do Mundo, com Tom Hanks. Kingsley empresta camadas de complexidade ao personagem apenas por meio de seus olhares ou até na reação com a chegada do alien à Terra.

Nosso Amigo Extraordinário busca o pequeno para falar sobre o grande

Nosso Amigo Extraordinário também ganha pontos por algo essencial: Turtletaub não tenta fazer com que a história seja maior do que realmente é. Não há planetas povoados por esses pequenos seres, tampouco invasões alienígenas. A discussão militar sobre a presença de um extraterrestre na Terra existe, mas nunca ganha mais espaço do que o sentimento dos personagens. Afinal, estamos falando de um drama, não de ficção científica. É um filme que concentra nos sentimentos, não na grandiosidade — como em Pequena Miss Sunshine ou A Despedida, outro filme que produziu.

Isso fica ainda mais evidenciado pela decisão artística de não criar um alienígena com efeitos computadorizados, mas sim com práticos: o pequeno alien (chamado, em determinado momento, com o simpático nome de Jules) é interpretado pela dublê Jade Quion, que vestiu onze tipos de peças corporais diferentes – criadas pelo maquiador Joshua Turi, para compor seu visual. Ainda que cause certo estranhamento no começo, principalmente por vivermos na era dos efeitos visuais espantosos, isso apenas realça como a história busca o sentimento, a emoção, a verdade.

Interessante notar, também, como o próprio alien acaba sendo uma metáfora curiosa e divertida até mesmo para o papel do terapeuta na vida de uma pessoa: Milton fala largamente com o alien, que vive ali no papel de escuta.

O alien não fala uma palavra em inglês, mas senta no sofá para escutar (Crédito: Synapse Distribution)

São bonitos os monólogos de Milton, “conversando” com o extraterrestre enquanto se descobre não apenas como uma pessoa, mas também como alguém com sentimentos. Ele encontra utilidade na sua vida, na sua rotina e família. Uma pena que a chegada das amigas do bairro na história e na relação do idoso com a criatura atrapalhe um pouco o andamento da coisa, fazendo com que parte desses monólogos brilhantes se percam. Mas tudo bem, funciona enquanto é possível e, querendo ou não, as idosas também fazem parte dessa busca e mensagem mais profundas.

Afinal, Nosso Amigo Extraordinário consegue passear entre estilos e significados de forma sensível e elegante. Parte de um tema geralmente grandioso, falando de extraterrestres (pense em Star Wars, E.T.: O Extraterrestre, Independence Day e por aí vai), mas que segue por um caminho totalmente diferente do óbvio e fala não sobre a imensidão do espaço, mas sobre solidão, redescoberta, amizade. E, pra fechar, enquanto os créditos subiam, lembrei de algo que o navegador brasileiro Amyr Klink diz em seu livro Cem Dias Entre Céu e Mar: “quem tem um amigo, mesmo que um só, não importa onde se encontre, jamais sofrerá de solidão; poderá morrer de saudades, mas não estará só”. É isso.

Nosso Amigo Extraordinário já está em cartaz nos cinemas. Clique aqui para comprar ingressos.

Assista a filmes online grátis completos agora mesmo com o Play Surpresa do Filmelier

Siga o Filmelier no FacebookTwitterInstagram e TikTok.