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Crítica: ‘O Exorcista do Papa’ traz Russell Crowe como o “pesadelo dos demônios”

Gabriele Amorth era uma figura fora dos padrões — principalmente por se tratar de um padre. Não se furtava de bebidas alcóolicas, fazia piadas, desgostava dos padrões rígidos da Igreja. Tinha tudo para ser um pária, mas não foi isso que aconteceu: Amorth se tornou o maior exorcista do mundo moderno, com mais de 60 mil exorcismos no currículo, livros escritos e se tornou figura de confiança do papa João Paulo 2º. Agora, uma de suas histórias é levada aos cinemas com O Exorcista do Papa, estreia da última quinta-feira, 9, e já em cartaz em salas ao redor do Brasil.

Na história, que se passa na década de 1980, as coisas na Igreja estão mudando: o exorcismo passa a cair em descrédito e Amorth (interpretado por Russell Crowe) conta com a desconfiança de muitos bispos. Parece um novo tempo, em que o exorcismos é visto como uma “arte” que rivaliza com os cuidados com a saúde mental. É antiquado. Amorth, porém, não se deixa abater: conta com a confiança do papa e ainda é a última saída em casos extremos de possessão. É o caso de uma família americana, na Espanha, que sofre com a possessão do filho mais novo.

Crowe protagoniza seu primeiro filme de terror com ‘O Exorcista do Papa’ (Crédito: Sony Pictures)

‘O Exorcista do Papa’ é um bom filme?

É interessante notar como Amorth é uma figura essencial na criação do subgênero dos filmes de exorcismo nos cinemas. Ficou à frente desse setor ao longo de 24 anos no Vaticano e era uma figura altamente midiática — não só por conta de seus livros, mas pelo trabalho pouco usual e pelas opiniões polêmicas (como sua ideia de que Hitler estava, na verdade, possuído). Ele se alimentou de como os exorcistas eram retratados até então, como no clássico filme ‘O Exorcista‘, e retratos posteriores, obviamente, se alimentaram da experiência de Gabriele Amorth.

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É quase impossível, assim, que ‘O Exorcista do Papa’ consiga escapar das convenções do cinema de terror, já que seu personagem principal é o embrião de todos exorcistas que vemos nos cinemas. Além disso, o longa-metragem leva, em seu âmago, uma impressão que Amorth deixava bem clara: o ritual de exorcismo era uma batalha, conforme dizia no livro ‘O Último Exorcista’, de 2012, escrito em parceria com o jornalista italiano Paolo Rodari. De um lado, o exorcista era um gladiador, um lutador bravo. Do outro, a pessoa possuída portava a besta, a criatura, o demônio. ‘O Exorcista do Papa’, mesmo tentando às vezes mostrar a Igreja como uma vilã nessa história, continua sendo um panfleto religioso. Bem vs mal, igreja vs demônio, expiação vs condenação. É uma dinâmica polarizada muito fácil de ser conduzida e que acaba recaindo em maneirismos que surgem, interminavelmente, nos filmes do gênero. Nem mesmo a criatividade do cineasta Julius Avery, que trouxe zumbis na Segunda Guerra com ‘Operação Overlord’, salva.

Russell Crowe é a melhor coisa do filme

O que muda aqui, essencialmente, é a figura do exorcista. Geralmente são personagens sérios, seguindo o caminho inicialmente trilhado por Max von Sydow como Padre Merrin em ‘O Exorcista’. Em ‘O Exorcista do Papa’, porém, a coisa muda de figura: o Amorth de Russell Crowe está mais para um tipo boêmio e contestador (daí a Igreja como vilã), que não liga muito para as regras. Felizmente, é o estilo que se aproxima dos relatos de como era o padre no dia a dia. Ver esse padre desvirtuado, bem diferente do usual, dá um refresco e a primeira hora do filme funciona justamente por isso — e é evidente como o astro está se divertindo na tela, fazendo seu primeiro longa-metragem de horror. Ele não leva a sério várias das situações e consegue fazer o tempo passar agradavelmente. Obviamente, enquanto isso, o terror acaba um pouco prejudicado. Mais de uma vez ri com situações do que me assustei. Não é um bom sinal, afinal.

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Com esse tom mais humorístico, que vemos raramente em filmes do gênero, ‘O Exorcista do Papa’ acaba se aproximando até mais de uma história de super-heróis: bem contra o mal, com um personagem que encaixa como um anti-herói curioso, fora dos padrões, mas que repete signos que vemos em produções heroicas por aí.

Tudo vai por água abaixo, porém, nos 30 minutos finais. O filme começa repentinamente a se levar a sério demais, sem sentido pra ser — tem até um demônio ao melhor estilo Dario Argento que não faz sentido algum. Fica bem parecido com aqueles finais descompensados de ‘Invocação do Mal’, que nem quer saber de assustar ou dramatizar, apenas criar um espetáculo com demônios e aberrações. Fica fraco. Mas, quem sabe, dá para se divertir com a sessão do filme.

Clique aqui para assistir ao trailer e ter mais informações sobre ‘O Exorcista do Papa’.

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Matheus Mans

Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.

Escrito por
Matheus Mans

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