Com ‘Druk: Mais uma Rodada’, Dogma 95 é reconhecido no Oscar Com ‘Druk: Mais uma Rodada’, Dogma 95 é reconhecido no Oscar

Com ‘Druk: Mais uma Rodada’, Dogma 95 é reconhecido no Oscar

Dirigido por Thomas Vinterberg, um dos “pais” do manifesto, ‘Druk: Mais uma Rodada’ recebeu indicações em Melhor Direção e Filme Internacional

Matheus Mans   |  
26 de março de 2021 10:27
- Atualizado em 30 de março de 2021 17:09

Lançado para assistir online e nos cinemas desta quinta-feira (25), ‘Druk: Mais uma Rodada’ (ou ‘Another Round’, como também é conhecido) é um daqueles casos de filmes históricos no Oscar. Ainda que o resultado do longa-metragem tenha dividido a crítica especializada, o filme marca o primeiro grande reconhecimento da Academia de Artes e Ciência e Cinematográficas de Hollywood ao manifesto Dogma 95.

Afinal, esta é a primeira vez que um dos diretores-fundadores desse movimento cinematográfico é indicado ao Oscar de Melhor Direção — no caso, Thomas Vinterberg, de ‘A Caça’. Antes dele, o Dogma 95 já tinha aparecido na categoria de Melhor Filme Internacional (incluindo o próprio Vinterberg) e até em Música Original (Von Trier por ‘Dançando no Escuro’).

Agora, com uma indicação em uma categoria principal do maior prêmio do cinema de Hollywood, o movimento se consolida até mesmo entre círculos mais restritos do cinema americano — algo que ‘Parasita’ também ajudou a conquistar, em 2020, com a indicação e posterior vitória em Melhor Filme. Não é à toa que Vinterberg comemorou muito a indicação.

Mas o que é o Dogma 95?

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Criado pelos próprios cineastas dinamarqueses Thomas Vinterberg e Lars von Trier, o Dogma 95 foi uma ideia da dupla como uma espécie de manifesto — e, segundo Vinterberg e von Trier, levou apenas 45 minutos para os dois elaborarem as regras. Depois, por volta de 20 de março de 1995, o manifesto foi apresentado no Odéon Théâtre de L’Europe, em Paris.

Cena de Druk: Mais Uma Rodada
Vinterberg (dir.) é um dos pais do Dogma 95, manifesto que marcou o cinema dinamarquês (Crédito: Divulgação/Synapse)

Originalmente, eram dez regras. São elas: filmagens em locais reais, sem cenografia; o som deve ser o da cena, sem produção separada; câmera na mão; filme em cores; sem truques fotográficos e filtros; sem ação “superficial”, como homicídios ou armas; a história deve ocorrer na época atual; sem filmes de gênero;  cópia em 35 mm, padrão, com formato de tela 4:3; e, enfim, não deve exibir o nome do diretor nos créditos finais.

Assim, além de seguir todas essas regras, depois o cineasta que quiser deve enviar cópias de seus filmes à entidade que gerencia o Dogma 95 e submetê-los à avaliação. Caso aprovado e verificado que o voto de castidade foi cumprido, os autores recebem o Certificado Dogma 95. Filmes como ‘Os Idiotas’ e ‘Festa de Família’ são alguns bons exemplos.

Ou seja: em essência, o Dogma 95 vai contra tudo que Hollywood pregou e ainda prega. Há muitos efeitos especiais e “fundo verde”, muita ação superficial, confusões temporais e o que manda, por lá, são os filmes de gênero. Talvez a única coisa que realmente se encaixe no que Hollywood produz em massa é a exigência de ser em cores, sem preto e branco.

E ‘Druk: Mais uma Rodada’?

O filme, com tranquilidade, absolutamente não encaixaria no tal “voto de castidade” — aliás, já faz algum tempo desde a última vez que um filme entrou no site oficial do movimento. Primeiramente, não foi usado o formato de tela 4:3 e, além disso, a mais simples das regras não foi cumprida: o nome de Vinterberg aparece nos créditos, logo no começo.

No entanto, é inegável que ‘Druk: Mais uma Rodada’ tem toda uma influência do Dogma 95. Coisa óbvia que, por mais que seja um filme mais produzido e até feito com mais dinheiro, continua sendo um produto da visão de Vinterberg sobre uma questão pulsante na Dinamarca. Há também muita câmera na mão, sons que surgem a partir das cenas.

É, enfim, um marco conquistado por Vinterberg e pelo manifesto — ainda que Lars von Trier certamente não tenha muito a comemorar, já que é considerado “persona non grata” pela Academia. Infelizmente, há poucas chances para ‘Druk: Mais uma Rodada’ na categoria de Melhor Direção, ainda que seja o franco favorito Internacional. Mas tudo bem. O que importa aqui, sem dúvidas, é que o Oscar está enfim rompendo a bolha.

‘Druk: Mais Uma Rodada’ já está disponível online na Apple TV, NOW, Google Play e YouTube, além de estar em cartaz nas salas de cinema de algumas cidade – clique aqui para encontrar os links para assistir.

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