Filmes

No Festival de Toronto, filmes buscam ressignificar figura do indígena

É sempre interessante notar, em festivais de cinema, temas comuns e recorrentes. Mostram, de alguma forma, que há algo sendo discutido em uníssono pela sociedade. No caso do Festival de Toronto de 2020, que começa nesta quinta-feira, 10, é latente a presença de nativos norte-americanos em filmes que buscam ressignificar a figura social desses povos.

São dois os longas em destaque, cada um tratando do tema de uma forma diferente. Primeiramente, o drama ‘Beans‘, de Tracey Deer. Aqui, a cineasta se vale da estrutura de uma história de “coming of age”, tipicamente associada à personagens brancos, para falar sobre a jornada da jovem Tekehentahkhwa, conhecida pelo seu breve e simpático apelido Beans.

‘Beans’ mostra o olhar de uma adolescente sobre a intolerância com seu próprio povo (Crédito: Divulgação/EMA Films)
Assim, ao invés de trazer dramas vistos em filmes como ‘Lady Bird‘, ‘Oitava Série‘ e ‘As Vantagens de Ser Invisível‘, Deer aposta numa mistura de caminhos que a garota pode seguir. De um lado, a ancestralidade de seu povo e a cobrança por manter esses costumes. Do outro, a vontade e o chamado de ir além, principalmente em estudar numa escola da cidade.

Intolerância em ‘Beans’

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Depois disso, seguindo os passos de ‘O Ódio que Você Semeia‘, ‘Beans’ fala sobre intolerância, racismo e violência ao abordar um conflito real, que tomou conta do dia a dia dos canadenses nos anos 1990, envolvendo comunidades Mohawk e a polícia de Quebec. Tudo por conta de milionários que queriam derrubar uma floresta para ampliar um campo de golfe.
Família e comportamento entraram na lente de Deer (Crédito: Divulgação/EMA Films)
“Esse é um projeto de longa data pra mim. Eu era Beans. Tinha 12 anos quando vivi esse impasse armado entre meu povo e o governo do Canadá”, resume a diretora por meio de nota. “A mídia nos pintou como terroristas. Nossos vizinhos nos atacaram. Nossos direitos humanos básicos foram violados. Trinta anos depois, essas mesmas cenas continuam acontecendo”.

Documentário do Festival de Toronto

Já o outro filme não vai atrás da ficção para falar sobre esses assuntos de intolerância: ‘Inconvenient Indian‘, dirigido por Michelle Latimer e inspirado no livro homônimo de Thomas King. Assim, com narração do próprio King, o longa-metragem vai mostrando como a colonização matou a figura do indígena e, com o tempo, foi transformando-a em banalidades.
King se vale de reflexões que já tinha feito em seu livro para guiar o espectador no documentário (Crédito: Divulgação/Parallel Productions)
Para isso, o narrador-autor analisa eventos históricos e, até mesmo, mostra como os filmes ajudaram a perpetuar a figura do indígena como algo fraco, bobo, infantil, preso no tempo — um tipo de ressignificação que o documentário ‘Revelação‘, da Netflix, fez com a comunidade transsexual. É uma busca em mostrar como essas pessoas não são seus estereótipos. “Grande parte da história de indígenas e nativos norte-americanos foi apagada. O que nos sobrou foi uma série de histórias e artefatos. Símbolos estáticos sobre uma raça que está morrendo”, pontua King em determinado ponto do longa-metragem. “Os indígenas mortos se tornaram estereótipos de uma coleção de imaginação e medos. E viraram entretenimento”.
Matheus Mans

Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.

Escrito por
Matheus Mans

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