É curioso que o cineasta Alex Garland (Ex Machina, Aniquilação) fale sobre seu novo filme, Guerra Civil (Civil War) – nos cinemas brasileiros em 18 de abril – em termos de cinema antibélico. A razão? Porque tem surpreendentemente pouco a dizer sobre a guerra em si.
Em grande parte, a promoção do filme destacou mais seu pano de fundo político. Garland – roteirista e diretor – nos apresenta um futuro próximo e distópico, no qual os Estados Unidos estão tão politicamente polarizados sob um regime corrupto e autoritário que caíram em uma violenta guerra civil entre várias facções (não é preciso falar sobre o oportunismo do lançamento, em pleno ano eleitoral para o país).
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“Através da fotografia (…) estabelecemos uma relação de consumo com os eventos, tanto os que fazem parte de nossa experiência quanto os outros, e essa distinção entre ambos os tipos de experiência é obscurecida precisamente pelos hábitos inculcados pelo consumismo.”Susan Sontag, Sobre Fotografia, 1977Vamos começar com o fato de que os protagonistas de Guerra Civil não são militares nem rebeldes, mas jornalistas e fotógrafos. Temos Joel (Wagner Moura, Narcos), um jornalista que se une à renomada fotógrafa Lee Smith (Kirsten Dunst, Ataque dos Cães) para empreender a perigosa viagem de carro para Washington, D.C., na esperança de entrevistar o presidente entrincheirado (Nick Offerman, The Last of Us). Eles são acompanhados na viagem pelo veterano jornalista Sammy (Stephen McKinley Henderson, Duna) e a jovem Jessie (Cailee Spaeny, de Priscilla), que aspira ser uma fotógrafa de guerra profissional. Também é interessante o fato de Garland estruturar seu roteiro como um road movie, talvez o gênero cinematográfico mais americano depois do western. E como todo road movie, deve ser um retrato em grandes pinceladas da realidade contemporânea. Se Easy Rider foi um olhar retrospectivo para o fracasso da contracultura dos anos 60, aqui o diretor olha para um futuro hipotético, teoricamente próximo mas plausível, onde a polarização interna trouxe as mesmas consequências que os Estados Unidos exportaram para outros cantos do mundo. Garland propõe, através do personagem de Kirsten Dunst, uma pergunta existencial sobre o jornalismo: “Cada vez que sobrevivia a uma zona de guerra, eu acreditava que estava enviando um aviso para casa: ‘não façam isso'”, lamenta ela em uma cena. “Mas aqui estamos nós”. Poderia-se pensar que o grupo de jornalistas embarca na viagem rodoviária mais ruim do mundo, como se alguma verdade estivesse esperando em Oz, no final de um caminho amarelo coberto de cadáveres, sangue e inúmeras famílias deslocadas. Mas não: o trabalho jornalístico – de acordo com nossos personagens – não é refletir, mas comunicar para que outros reflitam. Na teoria jornalística, o mestre que os jornalistas servem é “a verdade”, um ideal abstrato que, depois de filtrado por inevitáveis viés ideológicos, se traduz em “a notícia”, o evento do momento. Em Guerra Civil, pode-se pensar que é assim: nossos heróis correm contra o tempo para conseguir uma declaração do presidente antes de sua iminente captura. Mas a forma como Garland os escreve e filma denota outras intenções. O personagem de Wagner Moura, por exemplo, parece exercer o jornalismo quase por esporte, em busca da próxima emoção. O de McKinley Henderson parece estar em uma via crucis, o jornalista veterano perseguindo a notícia de sua vida, em parte pelo dever de informar, em parte para coroar uma carreira desacelerada pela velhice. Spaeny é o substituto da audiência em Guerra Civil, uma Dorothy destinada a ver a inocência de seu olhar fotográfico corrompido pelas verdades da crueldade e violência. É ela quem atravessa o caminho da nobre vocação jornalística para a fome de alimentar a besta informativa. Através dela, surgem perguntas sobre o propósito do jornalismo de guerra em si. De que adianta o aviso das imagens mais brutais, calculadas para capturar o momento preciso da morte, se já é tarde demais para a reflexão?
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