‘O Último Destino’ é um mergulho nos “conflitos existenciais”, diz diretor
Nikolaj Coster-Waldau (o Jaime Lannister de ‘Game of Thrones’) estrela ‘O Último Destino’, filme que chega hoje, 27, às plataformas de streaming brasileiras de aluguel e compra. Trata-se de uma história complexa, sobre a qual o Filmelier conversou com o diretor do longa-metragem, o dinamarquês Jonas Alexander Arnby.
O longa-metragem é um suspense dramático sobre as escolhas que fazemos e questões fundamentais da vida. Na trama, somos apresentados a Max, um investigador de uma seguradora que está com um tumor no cérebro. Para livrar a esposa de lidar com isso, o que ele considera um fardo para ela, Max decide resolver a sua situação com um suicídio assistido e recorre a uma instituição especializada, o Hotel Aurora.
No entanto, este local parece um paraíso mas acaba se tornando uma espécie de prisão, onde é impossível voltar atrás – caso você se arrependa de sua decisão – e sair de lá com vida. Neste contexto, Max começa a refletir se tomou a decisão a certa e passa a procurar saídas para escapar desse lugar.
‘O Último Destino’ é um thriller psicológico dinamarquês (Foto: Divulgação/Synapse)“A ideia surgiu de um artigo que o produtor e o roteiristas encontraram sobre as taxas de suicídio em uma ilha”, explica Jonas Alexander Arnby. “O foco era trazer uma reflexão pessoal ao colocar no personagem alguns de nossos próprios conflitos existenciais como realizadores. Eu não diria que é um filme sobre amadurecimento, mas tem um pouco desse desenvolvimento – de uma forma mais adulta – que é semelhante ao meu outro trabalho”.
O longa anterior de Arnby é uma produção coming-of-age chamada ‘Quando os Animais Sonham’ (2014), sobre uma adolescente que descobre ser um tipo de lobisomem. O diretor citou também que nos dois projetos queria protagonistas fortes.
O filme tem uma temática bem delicada
‘O Último Destino’ traz um tema que é bem polêmico: o suicídio assistido. Essa prática é legal em alguns países, como na Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Canadá, Suíça, Colômbia, Alemanha e em sete estados norte-americanos. Entretanto, é um assunto pouco falado na mídia. De acordo com as informações do portal do governo de Oregon, nos Estados Unidos, para realizar esse procedimento o paciente precisa ter mais de 18 anos, se capaz de se comunicar e tenha uma doença terminal que vá causar sua morte nos próximos seis meses. A pessoa pode desistir da sua decisão quando bem quiser. O estado foi o primeiro na América no Norte a legalizar o suicídio assistido. Jonas Alexander Arnby explicou qual era seu objetivo ao abordar esse assunto. “Quando escrevemos o filme a ideia não era focar na parte do suicídio, apesar desse ser o título original [em dinamarquês a produção se chama ‘Selvmordsturisten’, ou “o turista suicida” em tradução literal]. Na verdade, é um drama existencialista sobre como encontrar o propósito da vida, a verdadeira felicidade, mesmo nos momentos mais difíceis. Pois são nessas horas que precisamos de uma saída”.
“É um drama existencialista”
“O protagonista precisa entender o que quer valorizar dentro das circunstâncias em que está inserido. Por conta disso colocamos o suícidio como parte da jornada dele e não como o tema da história. É mais um conceito, uma saída dentro da narrativa, acho que podemos colocar dessa forma. Então tentamos evitar que a temática fosse resumida ao suicídio, mas sim usar isso de uma maneira diferente”, completou. O personagem foi criado para Nikolaj Coster-Waldau (Foto: Divulgação/Synapse)
‘O Último Destino’ foi escrito para Nikolaj Coster-Waldau
Falando no protagonista, o filme foi escrito para Nikolaj Coster-Waldau estrelar. Ele é o grande destaque da obra e o fio condutor de toda a história. “Nikolaj é, claro, extremamente talentoso e o pacote completo. Ele tem o lado técnico, que é típico da tradição norte-americana. Ele sabe como a câmera funciona e entende o tamanho do impacto visual que tem na câmera. Ao mesmo tempo que traz também certa vulnerabilidade, que vejo como algo mais europeu e sulamericano”, contou o diretor. “Nikolaj vai fundo nos personagens e quer tentar coisas diferentes o tempo todo. Eu acho que a forma como ele explora seus personagens somado ao conhecimento do que é ser um ator de cinema, trazem essa combinação ideal”. A ideia do diretor foi em trazer uma história que faço o espectador refletir sobre a vida (Foto: Divulgação/Synapse)Para trazer essa premissa à tela, Arbny contou com um roteiro complexo e uma bela montagem, que oscila entre a mente do personagem principal e a realidade. “Nós temos a experiência como o personagem e como espectador Então, eu acho acho que cabe ao público definir o que está realmente acontecendo no subconsciente e na consciência”, relata o cineasta. “Mas, se você prestar atenção, no filme há uma forma de saber quando estamos na mente do personagem, há uma lacuna onde ele entra e sai da sua consciência.” O responsável pela edição de ‘O Último Destino’ foi Yorgos Mavropsaridis – que trabalhou com Yorgos Lanthimos em ‘A Favorita’, ‘Dente Canino’, ‘O Lagosta’ e outros mais. “Expandimos essa ideia até mais adiante na edição com o material que filmamos. Isso tudo usando como base o plano que tínhamos antes de entrar em produção. Foi bastante trabalhoso montar tudo isso e você pode ver o resultado no filme”, completou o diretor. Um dos maiores desafios da equipe de produção foi trazer para a tela a instituição retratada no longa. “Afinal, estávamos criando uma indústria de suicido assistido, claro que isso já existe em alguns lugares, mas criamos algo único, que te fornece ferramentas em que você consegue encontrar uma saída para suas mais obscuras ideias, tudo isso no âmbito mental. O desafio foi realmente esse, como trazer esse conceito para o mundo real?”. A produção contou com locações naturais na Europa, que deixam a fotografia ainda mais bonita (Foto: Divulgação/Synapse)Após muita pesquisa e um conglomerado de ideias, eles chegaram ao local que vemos no filme. Uma espécie de hotel no meio das montanhas, que parece infinito e casa perfeitamente com a narrativa, não há para onde fugir. A locação acabou sendo também um problema pois exigia um trabalho a mais da equipe, montar os equipamentos em uma região montanhosa e ter que lidar com o clima, que era bem gelado e com frequentes nevascas. Confira abaixo um trailer do filme:
Jornalista de cultura e entretenimento. Já passou pelo Papelpop, UOL e Revista Claudia escrevendo sobre beleza, moda, cinema, música e TV, e também trabalhou com produção na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Foi redatora do Filmelier.