Mercado de streaming

Em meio à quarentena, serviços de streaming tentam evitar sobrecarga

A partir desta semana, usuários no Brasil não irão encontrar filmes, séries e programas em alta qualidade na Netflix, Globoplay e Looke. A medida adotada pelos serviços de streaming e video on demand faz parte de um movimento global de plataformas de vídeo para reduzir a qualidade de transmissão de seus serviços na quarentena de prevenção da covid-19.

O objetivo da decisão é diminuir o impacto da transmissão de vídeos pela internet, que deve aumentar consideravelmente conforme as pessoas ficam mais tempo em suas casas. Uma sobrecarga na transmissão de conteúdo poderia não apenas ocasionar quedas de conexão de quem está assistindo, como também de serviços essenciais de saúde, educação e comunicação.

A Globoplay foi a primeira a adotar a medida no País. Segundo comunicado, limitando as qualidades Full HD e 4K, haverá uma economia de 52% no consumo de dados. Um capítulo de novela, por exemplo, cai de 2,5 Gb para 1,2 Gb na taxa de bitrate — ou seja, no fluxo de transferência do vídeo.

‘Forrest Gump’ está no catálogo da Globoplay (crédito: divulgação/ Paramount)
“Esta é uma medida de solidariedade e responsabilidade”, disse Raymundo Barros, diretor de tecnologia da Globo, por meio de comunicado da Globoplay. “Temos que agir proativamente para evitar um cenário de colapso na infraestrutura da internet brasileira num momento tão delicado, em que os serviços digitais são fundamentais para a população”.

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A Netflix, enquanto isso, afirmou que vai reduzir o tráfego nas redes em 25%, mas sem afetar a qualidade de imagem. Portanto, quem paga planos de Ultra HD, por exemplo, vai continuar recebendo vídeos nessa qualidade. O que eles farão é reduzir a quantidade de bits utilizada na transmissão. “Fazemos diferentes transmissões simultâneas de um único título em cada resolução. O que faremos agora é remover as faixas de frequência com maior fluxo de dados”, explicou Ken Florance, vice-presidente de entrega de conteúdo da Netflix, em comunicado. Essa ferramenta citada pelo executivo impede que o vídeo ‘engasgue’, já que outras qualidades ficam à disposição. O YouTube também seguiu os concorrentes e anunciou que as medidas tomadas na Europa seriam levadas para todo o mundo, incluindo o Brasil. “Na semana passada, anunciamos que estamos temporariamente exibindo os vídeos do YouTube com qualidade de definição padrão (SD) na União Europeia. Dada a natureza global dessa crise, a partir de hoje expandimos essa mudança para o mundo todo”, disse a empresa em comunicado. Já a Amazon Prime Video anunciou uma redução na taxa de bits para transmissão de streaming, sem reduzir a qualidade ou suprimir Full-HD e 4K. No entanto, a empresa não deu maiores detalhes técnicos. “O Amazon Prime Video está trabalhando com autoridades locais, provedores de serviços móveis e provedores de serviços de Internet, quando necessário, para ajudar a mitigar qualquer congestionamento da rede, inclusive no Brasil”, disse por meio de nota. O serviço de aluguel e streaming Looke também anunciou limitação na entrega de dados para usuários, mas não detalhou aspectos técnicos. “Queremos que as pessoas possam ter momentos de descontração. Faremos tudo que estiver ao nosso alcance para colaborarmos com a população brasileira neste momento”, afirma Marcelo Spinassé, fundador da plataforma.

Serviços de internet

A mudança no comportamento do usuário já está sendo sentida. O volume de dados no Brasil aumentou entre 25% e 30% desde a semana passada, de acordo com informações do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). É um recorde em volume de dados para as redes brasileiras, chegando a 10 terabits sendo enviados por segundo (Tb/s) no fluxo da rede. Para o NIC.br, a demanda ainda é aceitável dentro dos padrões brasileiros. “A infraestrutura básica da internet brasileira é bastante robusta e resiliente, podendo suportar a alta demanda deste período de restrição de movimentação”, disse Julio Sirota, gerente de infraestrutura do IX.br . No entanto, é preciso prestar atenção. Operadoras já pedem para que usuários utilizem a rede com “responsabilidade” e alertam que o fluxo de dados tem um limite, por mais que não seja fácil alcançá-lo.
Servidores podem ficar sobrecarregados (Crédito: Flickr/Atomic Taco)
A NET/Claro, por exemplo, tem enfrentado uma alta demanda para novos assinantes e manutenção de redes. A empresa, enquanto isso, afirmou estar aumentando gradativamente a banda larga fixa para clientes. Consultada pelo Filmelier sobre uma possível sobrecarga, a operadora não respondeu sobre quais são as ações que está tomando até a conclusão da reportagem. “Da mesma forma que todos precisaram entender e se conscientizar sobre os riscos da doença, agora será necessário conscientizar a todos para o uso racional e responsável das redes”, disse a NET/Claro por comunicado. “O pico de demanda na rede acontecia entre 19:00 e 23:59. É nesse horário que as pessoas precisam ter mais consciência, para evitar congestionamentos”.

Como ficam os outros serviços de streaming?

Na Europa, várias plataformas de streaming já anunciaram medidas para reduzir o impacto da transmissão de vídeos na rede de internet. Netflix, YouTube e Prime Video diminuíram a qualidade de streaming na região por 30 dias, podendo gerar uma queda no tráfego total em até 25%. Ou seja: mais espaço na rede para todos usuários e para serviços essenciais Os serviços de streaming HBO Go e Telecine também foram consultados, mas não retornaram até o fechamento da matéria. Nesse cenário de crise, pode-se dizer que alguns serviços de streaming irão se sair melhor do que outros. Afinal, empresas como Apple e Amazon, por exemplo, contam com redes de fornecimento de conteúdo (CDN, na sigla em inglês) e protocolos próprios. Ou seja: trabalhando de maneira quase independente do resto mercado, enfrentariam menos problemas de tráfego. O entrave, e que deve fazer com que essas empresas também reduzam a qualidade, é a alta demanda. A Amazon, por exemplo, tem a maior CDN e o maior servidor do mundo. No entanto, acaba tendo a demanda por dados elevada por servir como servidor de outras plataformas ao redor do globo. NOW e Vivo Play, enquanto isso, contam com a vantagem de trafegar em redes próprias, não na internet. Isso acaba dando “imunidade” aos serviços. Por fim, os demais aplicativos, como Telecine, HBO Go e Starzplay, devem enfrentar forte instabilidade neste momento em que haverá maior exigência de dados da internet e problemas maiores de conexão estável.
Matheus Mans

Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.

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