Filmes

‘Sorria’ quer te fazer enfrentar seus traumas com um sorriso (macabro) no rosto

O terror é, talvez, um dos gêneros mais complicados para se reinventar. Algo que tem se comprovado nos últimos anos, afinal dá para contar nos dedos os filmes recentes que se destacam nesse gênero. Um deles é ‘Corrente do Mal‘, de 2014 – e a menção não é à toa: essa é uma das primeiras referências que vem à mente com ‘Sorria’, longa-metragem que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta (29).

A história segue a premissa de uma maldição que é passada de pessoa para pessoa, em uma alusão para o trauma, já que todas as vítimas tiveram uma experiência chocante. A protagonista da trama é Rose Cotter, interpretada pela ótima Sosie Bacon (’13 Reasons Why’), uma psiquiatra que usa sua profissão como uma tentativa de reparar seus problemas do passado. Rose tem um relacionamento complicado com a irmã, justamente devido a um trauma familiar.

Sosie Bacon está sendo aterrorizada por uma “entidade” em ‘Sorria’ (Crédito: Divulgação/Paramount Pictures)

🎞 Quer saber as estreias do streaming e dos cinemas? Clique aqui e confira os novos filmes para assistir!

Após presenciar a morte de uma paciente, acontecimentos bizarros passam a acompanhá-la, e são semelhantes ao descrito pela moça que se suicidou em sua frente. Tida como perturbada por todos ao seu redor, incluindo pelo próprio noivo, Rose só consegue ser levada a série por seu ex-namorado, o detetive Joel (Kyle Gallner). Juntos eles tentam investigar o que está acontecendo.

Terror psicológico sobre luto, traumas e doenças mentais

Publicidade

‘Sorria’ começa muito bem como um terror psicológico ligado a luto, superação e doenças mentais. Um dos traumas da protagonista é ter visto a mãe morrer quando era criança. Ela faz de tudo para seguir em frente, inclusive ser tornar médica para ajudar outras pessoas a enfrentar situações como a que ela passou. O diretor Parker Finn, que faz sua estreia em um longa metragem, consegue criar uma atmosfera assustadora sem apelar para o excesso de jump scares. Entretanto, o desenvolvimento que pavimenta o caminho para o final acaba perdendo um pouco o gancho da história – que se aproxima até demais de ‘Corrente do Mal’. Rose e Joel descobrem que a “maldição” é transmitida para outra pessoa quando um suicídio é presenciado, como se fosse um vírus. Com isso, eles querem encontrar uma forma de salvar Rose, que é mais óbvia do que o filme tenta mostrar. Nesse momento, a história encontra toda uma discussão sobre moral e egoísmo – que não vamos citar para evitar spoilers. Essa “descoberta” acaba sendo um fio condutor que poderia ser ótimo, já que estamos navegando em uma narrativa sobre traumas, mas o caminho que Finn utiliza acaba fazendo com que o terror volte a andar em círculos.
‘Sorria’ coloca traumas, doenças mentais e superação em voga, com uma atmosfera de filme de terror (Crédito: Divulgação/Paramount Pictures)
O acontecimento que Rose tenta lidar acaba tomando uma forma física e o filme perde um pouco a grandeza que tinha construindo. Uma produção que consegue fazer isso bem é ‘Relíquia Macabra‘, de Natalie Erika James, que também aborda doenças mentais, sendo hereditárias. Toda a alegoria em torno do monstro da trama é bem feita. Em suma, Parker Finn faz um bom trabalho em seu primeiro longa-metragem, tanto tecnicamente falando, quanto acerca do que ele quer discutir. Toda a tensão que a protagonista vive, tentando descobrir se precisar de ajuda de psicológica e que só ela mesma pode se ajudar, consegue assustar mais do que qualquer jump scare. Esse caminho onde o terror encontra situações reais ligadas a problemas mentais ou traumas que são, literalmente, apavorantes mostram como os nossos maiores pesadelos podem estar na nossa própria mente – não é preciso ir muito longe.

‘Sorria’ está em cartaz nos cinemas brasileiros e clicando aqui você encontrar informações sobre como comprar ingressos e mais detalhes do filme.

Siga o Filmelier no FacebookTwitterInstagram e TikTok.

Raíssa Basílio

Jornalista de cultura e entretenimento. Já passou pelo Papelpop, UOL e Revista Claudia escrevendo sobre beleza, moda, cinema, música e TV, e também trabalhou com produção na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Foi redatora do Filmelier.

Notícias recentes

Yorgos Lanthimos volta ao cinismo com ‘Tipos de Gentileza’

'Pobres Criaturas' é conservador perto de 'Tipos de Gentileza', o novo filme do cineasta Yorgos…

9 horas atrás

Coppola sobre EUA: “Nossa democracia parece com Roma quando perdeu sua República”

Em seu novo filme 'Megalopolis', o diretor divide opiniões em Cannes

13 horas atrás

Crítica de ‘O Homem dos Sonhos’: manual de autodestruição

Com um contido Nicolas Cage, 'O Homem dos Sonhos' é uma ácida desconstrução da fama…

18 horas atrás

Crítica de ‘Amigos Imaginários’: alegria e fugas mentais

‘Amigos Imaginários’ (‘IF’) é uma proposta familiar encantadora que brilha por sua originalidade, mas se…

19 horas atrás

‘Belo Desastre – O Casamento’ chegou aos cinemas, saiba tudo sobre o filme de romance de Dylan Sprouse e Virginia Gardner

Tudo o que você precisa saber sobre 'Belo Desastre - O Casamento', a continuação do…

1 dia atrás

Crítica: ‘Back to Black’ segue caminhos tortuosos para falar sobre Amy Winehouse

Diretora Sam Taylor-Johnson mostra dificuldade em descobrir o melhor caminho da cinebiografia que passeia entre…

1 dia atrás