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‘Space Jam: Um Novo Legado’ expõe “filmes de algoritmo”, mesmo sendo mais um deles

Space Jam: Um Novo Legado‘, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 15, segue exatamente a cartilha do que se espera dessa sequência do filme de 1996. LeBron James entra no lugar de Michael Jordan. E não temos mais os aliens coloridos que desafiam os Looney Tunes.

Agora, nesta sequência, LeBron é sugado, junto com o filho Dom (Cedric Joe), para dentro de uma inteligência artificial (Don Cheadle). Neste momento, ele é desafiado pela tecnologia a vencer uma partida de basquete para sair desse sistema com vida. E é aí que surgem Pernalonga e companhia.

LeBron James divide a tela com os personagens clássicos de Looney Tunes (Crédito: Divulgação/Warner Bros.)
Ao longo de quase duas horas, personagens clássicos dos Tunes como Patolino, Lola, Gaguinho, Taz, Frajola e Ligeirinho vão se revezando na tela ao lado do astro do basquete. É uma estrutura bem parecida com o primeiro ‘Space Jam’, mas com uma produção um tom acima, com mais personagens.

‘Space Jam’, um filme de algoritmo

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No entanto, apesar da trama ser realmente divertida, há um ponto que chama a atenção. Logo no começo de ‘Space Jam: Um Novo Legado’, a tal inteligência artificial interpretada pro Cheadle (‘Vingadores: Ultimato’) faz sua apresentação para o público. É o momento de entender o que é aquilo. Assim, dentro de um cenário digno de ‘Matrix’, o tal Al G. Rhythm mexe em uma tela. Logo, começam a pipocar imagens de LeBron James. Bingo. A inteligência artificial, que tem um robô simpático como ajudante, diz que o astro do basquete é tudo que a Warner Bros., como um estúdio, precisa. Logo, então, ele envia a sugestão para uma executiva da Warner — que, é claro, também é o estúdio por trás de ‘Space Jam: Um Novo Legado’. Enfim, as coisas se desenrolam na tela: produtores chamam o esportista para uma reunião e vendem essa ideia do algoritmo como genial. Querem LeBron.
A ideia é colocar o astro no máximo possível de produções da Warner, explorando todas as propriedades. LeBron James em ‘Harry Potter’? Claro. Também em ‘Game of Thrones’, ‘Matrix’ e por aí vai. E deixam claro: o esportista nem ao menos precisa se esforçar. O algoritmo fará tudo por ele.

Desumanização do cinema

A grande piada, assim, é que ‘Space Jam: Um Novo Legado’ é, sem dúvidas, um “filme de algoritmo”. Esse termo, que ganhou mais destaque nos últimos anos, surge a partir da explosão imensurável das redes sociais — afinal, esta não é uma produção criada por algoritmos, mas feita para algoritmos. O cinema, cada vez mais, está de olho nas redes sociais, no barulho que pode nascer no Facebook, Twitter, Instagram. É um marketing “orgânico” que o filme pode ter, economizando milhões de gastos em publicidade que o estúdio viria a ter. O estúdio força o boca a boca, feito bem sob medida. ‘Space Jam: Um Novo Legado’, na superfície, é divertido. Mas tudo ali é pensado milimetricamente. Não necessariamente por uma máquina, mas para máquinas. É um filme que tem espaço para fazer barulho nas redes, com elementos que fazem sucesso entre as massas, sem contrariedades.
LeBron James divide as câmeras com personagens como Piu-Piu e Frajola (Crédito: Divulgação/Warner Bros.)
Oras, é uma delícia ver os personagens de Looney Tunes na tela, assim como é gostoso viajar na nostalgia de retornar ao universo de ‘Space Jam’. Acima de tudo, há uma infinidade de referências de outros produtos da Warner Media: ‘Gremlins’, ‘Rick and Morty’, Hanna-Barbera e por aí vai. Mas não tem humanidade. Não tem originalidade ou criatividade no que é contado ali, de maneira burocrática, pelo diretor Malcolm D. Lee (das bombas ‘Viagem das Garotas’ e ‘Todo Mundo em Pânico 5’). Parece tudo parte do quebra-cabeça que, como resultado, há impacto direto nas redes. A única escapada de ‘Space Jam: Um Novo Legado’ fica restrita nesses cinco minutos em que Cheadle faz piada com os “filmes de algoritmo”. Lembra até mesmo o live-action ‘Dumbo’ — um filme todo cheio de formalidades, mas que Tim Burton inseriu uma crítica forte contra o império da Walt Disney.

‘Space Jam’ e o futuro do cinema

Com isso posto, podemos seguir por duas linhas de pensamento. De um lado, há a diversão garantida. A nostalgia, os personagens clássicos, a animação em 3D dos Looney Tunes. Mas, por outro, há esse fantasma do “cinema de algoritmo”. Essa tentativa de fazer algo quase sob medida.
LeBron James faz o jogo de basquete de sua vida em ‘Space Jam: Um Novo Legado’ (Crédito: Divulgação/Warner Bros.)
Não há problema, é claro, quando isso surge em filmes blockbusters aqui e acolá, como ‘Space Jam: Um Novo Legado’ — crianças vão se divertir, pais vão se lembrar dos personagens e por aí vai. Mas qual o limite da criação desse entretenimento engessado, quadrado e que não inova em nada? Estamos entrando em um momento da cultura, e mais especificamente do cinema, em que o algoritmo está em todos os lados. A inteligência artificial irá servir não apenas para o marketing, como também para os próprios estúdios. Afinal, o streaming está se tornando mandante nessa indústria. Corremos o risco, afinal, que um estúdio construa um filme milimetricamente, por exemplo, para que usuários de um streaming fiquem na plataforma ad eternum. Netflix já está fazendo isso com algumas produções, como ‘Rua do Medo’ — mistura de assuntos em alta e nostalgia. Assim, fica a sugestão: se divirta vendo ‘Space Jam: Um Novo Legado’. Vale a pena, apesar da atuação fraca de LeBron. No entanto, não esquece de refletir um pouco sobre o que nos aguarda virando a esquina. E, acima de tudo, como o cinema independente se tornará ainda mais necessário.

Saiba muito mais sobre ‘Space Jam: Um Novo Legal’. incluindo os horários das sessões de cinema, clicando aqui.

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Matheus Mans

Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.

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